O governo francês tenta acabar com a polêmica sobre a morosidade da campanha de vacinação na França, com relação aos vizinhos europeus, prometendo a aceleração do processo. Para ganhar a confiança da população, na segunda-feira (4), serão escolhidos 35 franceses para fazer parte de um conselho de cidadãos que contribuirá com ideias para o dispositivo de imunização.
No jornal "Le Parisien" deste domingo (3), o porta-voz do governo, Gabriel Attal, anunciou uma aceleração do fornecimento de doses e um reforço dos meios para transportá-las até as casas de repouso para idosos, público alvo da primeira fase do plano de imunizações.
Mas os ataques não diminuíram diante de uma campanha considerada burocrática. Os críticos apontam a exigência de uma visita médica, que deve ser feita antes da administração do imunizante para identificar eventuais contraindicações, e a obrigação de um consentimento escrito pelas pessoas vacinadas, como prováveis responsáveis pela morosidade da campanha.
“Não podemos pensar em continuar neste ritmo. Os cálculos mostram que seriam necessários 3 mil anos para sermos vacinados”, lamentou domingo em entrevista a uma tevê francesa Bruno Megarbane, chefe do serviço de Terapia intensiva médica e toxicológica do Hospital Lariboisière, em Paris. O médico disse, no entanto, que está “confiante” em uma aceleração do processo.
Anti-vacina
Em um artigo de opinião publicado na revista Télérama desta semana, a diretora do Teatro do Soleil, Ariane Mnouchkine, também pediu ao governo celeridade, tendo em vista uma possível reabertura de teatros e cinemas, fechados desde 30 de outubro.
“Que os que não querem ser vacinados não o façam, eles têm o direito, mas em nome deles, vocês pretendem impedir os que querem de se vacinar imediatamente?”, questiona.
Enfrentando um alto índice de desconfiança com relação à vacina, o governo teria se preocupado em ganhar a confiança dos antivacina, através da implementação lenta da campanha, sem antecipar as pressões dos franceses que querem se vacinar rapidamente.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, garantiu no sábado (2) que “nos próximos meses, a situação será totalmente equilibrada em termos de vacinação na Europa”.
O objetivo do governo francês é vacinar 26 milhões pessoas até julho. Até domingo, após uma semana do início da campanha, pouco mais de 400 pessoas receberam a primeira dose do imunizante da Pfizer BioNTech, número que parece modesto com relação aos da Alemanha que vacinou mais de 100 mil pessoas no mesmo período.
“Vacinódromos”
Na Alemanha grandes centros de vacinação foram abertos em ginásios para vacinar em grande escala. Esses “vacinódromos”, como são chamados na França, devem entrar em funcionamento na segunda fase do plano de imunização francês, destinada a pessoas que têm a saúde fragilizada por patologias ou em consequência da idade.
“Para a primeira fase, (…) são as vacinas que se deslocam até os idosos, não o contrário. Os alemães visam um campo mais amplo da população”, justifica Attal.
“Para a segunda fase, no começo de fevereiro (o ministro da Saúde) Olivier Véran anunciou centros de vacinação nas cidades”, completa. O porta-voz do governo garantiu que não seriam armazéns gigantes fora das cidades, mas lugares centrais.
O governo francês teme a rejeição desses centros, após o fracasso da campanha contra a gripe H1N1 em 2009, quando este tipo de instalação foi utilizado.
O primeiro-ministro francês insistiu, em 29 de dezembro, que “queria que os médicos generalistas ocupassem o centro do dispositivo, e em particular o médico da família”.
Na França, os médicos generalistas administram as vacinas que são adquiridas pelos pacientes em farmácias. No caso do imunizante disponível, o da Pfizer/ BioNTech, este tipo de fornecimento geraria dificuldades logísticas, já que o produto deve ser mantido a uma temperatura inferior a - 70° e as ampolas são multidoses.
Por esta razão e devido ao atraso da campanha, os “vacinódromos” voltaram a estar no centro dos debates. Eles seriam “a única solução para vacinar rapidamente”, de acordo com o chefe do polo do centro hospitalar de Valenciennes, no Norte da França.
Já o infectologista Jean Paul Stahl, citado no jornal "Parisien" deste domingo, afirma que a França “precisa de uma vacinação em massa”. Alguns prefeitos já se preparam para acolher este tipo de centro de vacinação em seus municípios.
Coletivo de cidadãos
Para envolver a população e evitar as más experiências do passado, o governo francês realiza na segunda-feira um sorteio de 35 membros de um “coletivo de cidadãos” que poderão se pronunciar sobre a estratégia de vacinação francesa contra o novo coronavírus.
O grupo deve respeitar critérios de idade, gênero, região de residência, nível de estudos, categoria socioprofissional e tipo de residência.
Para garantir uma boa representatividade das posições, as pessoas sorteadas terão de responder se têm a intenção de tomar a vacina contra a Covid-19.
A primeira reunião do grupo de trabalho será realizada em 16 de janeiro e, de acordo com o Conselho econômico, social e ambiental (Cese), tem o objetivo de ajudar o governo a conduzir a campanha de vacinação e ajustar as respostas às questões dos franceses.
RFI
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