O ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou neste domingo, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que o governo do presidente Jair Bolsonaro, apesar de todas as promessas de campanha, não priorizou o combate à corrupção e agora faz alianças questionáveis. Segundo o ministro, que pediu demissão do governo há um mês acusando o presidente de querer interferir no comando da Polícia Federal, não é possível ser leal ao chefe do Executivo se ele for obrigado a não dizer a verdade.
— Me desculpem os seguidores do presidente se essa é uma verdade inconveniente, mas essa agenda anticorrupção não teve impulso por parte do presidente para que nós implementássemos. Então tivemos transferência do Coaf, não houve empenho do Planalto para manter. Não houve apoio adequado por parte do Planalto ao pacote anticrime— disse o ex-ministro na entrevista, acrescentando que essa agenda foi “esvaziada”.
Moro também criticou a recente aproximação de Bolsonaro com grupos políticos “questionáveis”. Recentemente, Bolsonaro mantém acordos de distribuição de cargos a partidos do centrão, que sempre foi criticado por ele.
— Essa interferência na Polícia Federal ao meu ver ela vem num contínuo em que eu via essa agenda anticorrupção ser esvaziada. E recentemente nos vimos essas alianças que são realizadas com políticos que não tem um histórico totalmente positivo na história da administração pública. É certo que é preciso ter alianças no parlamento pra conseguir aprovar projetos. Eu acabei entendendo, com essa interferência, que não fazia sentido eu permanecer no governo — disse Moro, e completou: — A gota d'água pra mim foi a interferência na Polícia Federal, em particular porque a PF também investiga mal feito dos próprios governantes. Existe um contexto de desapontamento em ralação a falta de empenho do presidente em relação a agenda anticorrupção, que envolve agora essas alianças políticas, algumas questionáveis. Não tenho nada contra os políticos, mas algumas são questionáveis.
A política de combate ao novo coronavírus também é um ponto que afastou o ex-juiz do presidente:
— A própria questão das substituições no Ministério da Saúde é controversa. São substituições bastante questionáveis do ponto de vista técnico. Eu também me sentia desconfortável pela posição do governo federal em relação à pandemia. Muito pouco construtiva.
Houve também críticas à política de Bolsonaro de tentar armar a população. Para ele, em nenhuma circunstância pode se concordar que a pessoas se armem contra medidas sanitárias de isolamento social, como quer seu ex-chefe.
Sobre a reunião ministerial do dia 22 de abril, que, segundo o ex-ministro, comprova que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, Moro disse que as imagens comprovam o que disse no dia de sua demissão. Ao deixar o governo, o ex-juiz afirmou que Bolsonaro fazia tentativas seguidas para retirar o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, sem apresentar qualquer motivo. Ao responder por que ficou em silêncio na maior parte da reunião, que foi divulgada após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito do inquérito que apura se Bolsonaro interferiu na PF, Moro respondeu ao Fantástico.
— Pelo tom da reunião é claro ali que o contraditório não é algo fácil de ser realizado na ocasião. Essas situações geravam desconforto — explicando que buscou uma desculpa para deixar o encontro antes do término porque não estava confortável.
Em uma crítica ao presidente Bolsonaro, o ex-juiz da Lava-Jato afirmou que não havia mais espaço para diálogo em sua relação com o chefe do Executivo:
— Minha lealdade ao próprio presidente demanda que eu me posicione coma verdade e não apenas concordando com a posição do presidente. Se for assim, não precisa de um ministro, precisa de um papagaio.
O Globo
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