O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (27), que é “insanidade” do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, querer acabar com a Faixa de Gaza. O presidente defende o fim do poder de veto de membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) para que a entidade assuma uma posição mais forte em relação ao conflito entre os israelenses e o grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
“O ato do Hamas foi terrorista, que não é possível fazer um ataque, matar inocentes, sequestrar gente da forma que eles fizeram, sem medir as consequências do que acontece depois. Porque, agora, o que nós temos é a insanidade do primeiro-ministro de Israel querendo acabar com a Faixa de Gaza, se esquecendo que lá não tem só soldado do Hamas, que lá tem mulheres e crianças, que são as grandes vítimas dessa guerra”, disse Lula, durante café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto.
O presidente explicou que o Brasil não reconhece o Hamas como organização terrorista, porque o país segue as avaliações do Conselho de Segurança da ONU.
“A posição nossa é clara. Toda guerra não tem apenas um culpado, ou um mais culpado. O Brasil fez crítica veemente, como nós condenamos a Rússia de ter invadido o território ucraniano, isso está explícito no comportamento do Brasil. Mas isso não significa que eu sou obrigado a me colocar ao lado da Ucrânia para guerrear. Eu quero me colocar ao lado daqueles que querer pedir paz”, disse Lula comparando com o conflito no leste europeu e reafirmando a posição do Brasil na condenação dos atos do Hamas.
“Antigamente, quando tinha guerra, os soldados iam pro campo de batalha e era soldado matando soldado. Agora não, o cara fica de longe jogando foguete e não sabe na cabeça de quem vai cair, não sabe quem vai morrer”, acrescentou.
No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque surpresa de mísseis contra Israel e a incursão de combatentes armados por terra, matando civis e militares e fazendo centenas de reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel bombardeou várias infraestruturas do Hamas, em Gaza, e impôs cerco total ao território, com o corte do abastecimento de água, combustível e energia elétrica.
Os ataques já deixaram milhares de mortos, feridos e desabrigados nos dois territórios. Em Gaza, a autoridade de saúde informou que mais de 7,3 mil palestinos, incluindo 3 mil crianças, foram mortos.
Diálogo
Lula defende o diálogo para uma solução pacífica para a região e a abertura de um corredor humanitário e diz que tem feito um esforço para que as negociações aconteçam. “Se eu tiver informação que tem um presidente de tal país que é amigo do Hamas, é pra esse que eu vou ligar: ‘ô cara, fala pro Hamas libertar os reféns, pra que ficar com inocente lá retido? Liberta, tem gente que precisa de remédio para tomar, liberta os reféns’. E também falar pro governo de Israel [...] abrir as fronteiras para saírem os estrangeiros”, disse.
A autoridade do Hamas diz que a libertação de reféns depende um cessar-fogo.
O presidente Lula continua manifestando preocupação com o grupo de cerca de 30 brasileiros que estão na Faixa de Gaza, aguardando um acordo entre Israel e o Egito para abertura da fronteira ao sul do enclave (termo da geografia, que se refere a um território totalmente cercado por outro, com características políticas, sociais e culturais distintas).
“Alguém tem que falar em paz”, disse. “É com o poder desse diálogo que eu acho que em algum momento a gente vai conseguir sentar à mesa [de negociação]. Eu não posso como ser humano, a gente ver a quantidade de crianças mortas em uma guerra e ninguém assumir a responsabilidade por essas mortes. Cada um se acha mais inocente e as crianças vão perecendo”, acrescentou.
Desde o início do conflito, Lula conversou com diversos líderes mundiais sobre o conflito – de Israel, Autoridade Palestina, Irã, Turquia, Egito, Emirados Árabes, França, Rússia, Conselho Europeu e Catar. Segundo o presidente brasileiro, ainda estão previstas conversas com líderes de China, Índia e África do Sul.
Poder de veto
O presidente também comentou sobre a rejeição, no Conselho de Segurança, da proposta apresentada pelo governo brasileiro que pedia pausas humanitárias aos ataques entre Israel e o Hamas. Do total de 15 votos, houve 12 votos a favor, duas abstenções, sendo uma da Rússia, e um voto contrário, por parte dos Estados Unidos. Por se tratar de um membro permanente, o voto norte-americano resultou na rejeição da proposta brasileira.
Lula defendeu o fim do poder de veto dos cinco membros permanentes do colegiado - China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos – e a abertura do Conselho de Segurança para novos membros.
“É uma contradição cinco países do Conselho de Segurança. São eles que fabricam armas, que vendem armas e que fazem guerra. É a contradição. Por isso queremos mudar, queremos que entrem vários países. Queremos democratizar o Conselho de Segurança da ONU porque hoje ele vale muito pouco”, disse.
O presidente lembrou que o diplomata brasileiros Oswaldo Aranha presidiu, em 1947, a sessão da Assembleia-Geral da ONU que criou o Estado de Israel. “Portanto, a ONU, agora, deveria ter coragem de assegurar a criação do Estado Palestino, para viverem em paz, harmonicamente”, disse.
A guerra entre Israel e Hamas tem origem na disputa por territórios que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos quais descendem israelenses e palestinos.
Além dos membros permanente, hoje, fazem parte do conselho rotativo Albânia, Brasil, Equador, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique, Suíça e Emirados Árabes. Para que uma resolução seja aprovada, é preciso o apoio de nove do total de 15 membros, sendo que nenhum dos membros permanentes pode vetar o texto.
“A proposta do Brasil não foi rejeitada, ela teve 12 votos. Ela foi vetada por causa de uma loucura que é o direito de veto concedido aos 5 países titulares do Conselho de Segurança, que eu sou radicalmente contra. Isso não é democrático”, disse.
Aniversário
Nesta sexta-feira, o presidente Lula também celebra 78 anos de idade. Segundo ele, entretanto, não haverá festa, apenas uma reunião com os familiares mais íntimos.
“O mundo está mais triste”, disse. “Vejo as crianças na Faixa de Gaza, fico com coração partido como ser humano, então não é motivo para fazer festa”, explicou.
Agência Brasil
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