O Conselho Federal de Medicina (CFM) teve uma reunião nesta quinta-feira (23) no Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro e disse que não recomenda o uso da hidroxicloroquina para pacientes em tratamento de covid-19. O órgão afirmou, no entanto, que decidiu liberar os médicos a receitarem o medicamento em três casos específicos:
"O Conselho Federal de Medicina não recomenda o uso da hidroxicloroquina. O que estamos fazendo é dando ao médico brasileiro o direito de, junto com seu paciente, em decisão compartilhada com seu paciente, utilizar essa droga. Uma autorização. Não é recomendação", disse o presidente do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro.
A hidroxicloroquina já é usada no tratamento da malária (veja mais abaixo detalhes sobre o medicamento).
Segundo Ribeiro, não há “nenhuma evidência científica forte” sobre a eficácia do uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19.
“O posicionamento é que não existe nenhuma evidência científica forte que sustente o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. É uma droga amplamente utilizada para outras doenças, já há 70 anos, mas em relação ao tratamento da covid-19 não existe nenhum ensaio clínico, prospectivo, randomizado, feito por grupos de pesquisadores de respeito, com trabalhos publicados em revistas de ponta, que apontem qualquer tipo de benefício da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19”, afirmou.
Ribeiro explicou que existem estudos observacionais sobre o medicamento, com “pouco valor científico”, mas considerados “importantes”. Por isso, o CFM liberou o uso nos casos específicos.
CFM não libera uso preventivo
O presidente do CFM também destacou que não há “qualquer indicação” para o uso da hidroxicloroquina por pessoas como forma de se prevenir do novo coronavírus.
“Não existe qualquer indicação do uso preventivo da hidroxicloroquina em relação à Covid. Isso é consenso em qualquer literatura do mundo e essa é a postura também do Conselho Federal de Medicina. Uso preventivo, não. Aprovamos foi nas três situações: paciente com sintomas na fase inicial; paciente na segunda fase já com sintoma que procura hospital; e paciente já entubado, em ventilação, em situação crítica”.
Segundo o presidente do conselho, a autorização para o uso da substância se deu com base em estudos observacionais, que não tem valor científico, mas carregam informações importantes sobre o uso da substância para o combate da doença.
Ribeiro afirmou que o uso só foi liberado em razão da pandemia e que, em outras situações, “muito provavelmente”, a entidade não autorizaria
“Os efeitos colaterais existem, são graves, mas são raros. E existem inúmeros relatos observacionais na literatura”.
“Nós não podemos desprezar essa informação neste momento, devido ao quadro sui generis que estamos passando em razão de uma doença totalmente desconhe ida. Em outras situações muito provavelmente o CFM, quase certamente o CFM, não liberaria o uso da dorga a não ser em caráter experimental. Mas diante dessa doença devastadoras, a opção foi dar um pouco mais de valor ao aspecto observacional de vários médicos, de médicos importantes, médicos sérios que tem usado essa droga”.
Pesquisas com cloroquina
A cloroquina, ou hidroxicloroquina, é um fármaco já aprovado para tratamentos de outras doenças, como artrite reumatoide e malária. No entanto, ainda não há pesquisas que comprovem a eficácia desta medicação contra a covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, e quais os níveis seguros de administração dessa substância.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que nenhum medicamento, até agora, se mostrou seguro e eficaz contra a covid-19. No Brasil, o Ministério da Saúde divulgou protocolo que indica o uso da cloroquina para pacientes graves e moderados.
Em meados de março, um estudo feito pelo infectologista Didier Raoult, da Universidade de Medicina de Marselha, na França, com 30 pacientes apontou um possível uso do medicamento. Mas a metodologia foi criticada por especialistas.
A polêmica levou o medicamento a ser incluído no programa europeu de estudos clínicos contra a Covid-19, chamado Discovery. França, Reino Unido, Espanha, Alemanha, Luxemburgo, Bélgica e Holanda vão testar em 3,2 mil pacientes com a hidroxicloroquina e três antivirais usados contra o HIV e o ebola.
Médicos recomendam que a população não se automedique com esses ou outros fármacos. As primeiras notícias sobre o medicamento levaram ao desabastecimento e fizeram a Anvisa colocar a droga na lista dos remédios controlados.
G1
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