Em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro decidiu mudar o rumo da articulação política do governo. Bolsonaro tem se aproximado dos partidos do "Centrão", tentando antecipar as negociações sobre a sucessão no comando da Câmara.
Bolsonaro enxergou na sucessão uma oportunidade de enfraquecer o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O presidente considera Maia como o principal adversário político no momento.
Como “plano A”, o governo aposta no deputado Marcus Pereira (Republicanos), mas não descarta apoiar outro nome que consiga formar consenso para isolar Maia, como o deputado Arthur Lira (Progressistas).
Nas últimas semanas, o Palácio do Planalto iniciou conversas com presidentes de partidos e integrantes do "Centrão". Integrantes falaram com lideranças e dirigentes de PL, PSD, Progressistas e Republicanos. Para isso, sinalizaram um novo loteamento de cargos no governo.
"Desde o ano passado, o governo vem sinalizando, depois da troca no FNDE, mudanças para atender aos partidos no segundo escalão. Não avançou. O governo começou a resolver agora o espaço para partidos do centro. É um movimento do governo no sentido de sinalizar que precisa ter base independentemente de Rodrigo Maia", analisa um deputado, na condição de anonimato.
Foram oferecidos a partidos do "Centrão" cargos de chefia no Banco do Nordeste, na Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o que gerou desconforto entre alguns ministros.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, por exemplo, teria rejeitado o primeiro currículo que recebeu.
"O presidente está traindo todo discurso dele, que não teria 'toma lá, dá cá'. Ele está entregando parte significativa do governo, como Banco do Nordeste, Codevasf e FNDE para tentar criar uma base. Rompeu com tudo. Provou que é mais do mesmo. O PSL não participou e não participará das negociações", afirmou a líder do partido, deputada Joice Hasselmann, ex-líder do governo.
Bastidores
Nos bastidores, parlamentares enumeram as razões que levaram o governo a mudar de posicionamento e se aproximar do "Centrão".
"Alguém disse ao presidente que havia articulação entre governadores e Maia para derrubá-lo, e as mudanças no plano Mansueto seriam para isso. Ele acreditou e agora correu para se aproximar do principal adversário do Rodrigo na sucessão da presidência da Câmara, o Arthur Lira", afirmou um líder.
Arthur Lira atua para tentar viabilizar o nome dele como substituto de Maia. Aliados dele afirmam que, quando Lira apoiou Maia em 2019, ouviu que receberia apoio em 2021.
Só que deputados acreditam que o presidente da Câmara apoiará outro nome, o do deputado Aguinaldo Ribeiro.
Quem também se articula é o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos). O partido dele filiou recentemente dois filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro e o senador Flavio Bolsonaro. Na Câmara, ele é visto como nome preferido do governo.
“O governo quer enfraquecer Maia na condução do processo de sucessão na Casa. A Casa estava muito focada em Rodrigo. Na hora que Rodrigo perde força, novos atores surgem dentro desse diálogo com o governo e com a própria sociedade. Rodrigo, nesse processo, tem que repensar estratégia dele. Ficou refém da oposição”, afirmou um deputado de centro.
Agora interlocutores do presidente da Câmara e do governo tentam reconstruir alguma interlocução entre eles, que hoje é considerada praticamente nula. Mas o próprio presidente Bolsonaro vetou uma tentativa de diálogo que era articulada por ministros.
G1
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