O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, disse nesta quarta-feira (13) que voltaria para "pacificar" seu país se os bolivianos pedissem. A declaração foi dada no México, onde ele está asilado após semanas de protestos violentos que levaram a sua renúncia.
Morales deu nesta quarta sua primeira coletiva de imprensa do exílio, onde chegou na terça-feira em um avião militar mexicano. Ele reiterou que sua demissão visou a conter a onda de violência que atingiu o seu país desde as acusações da oposição de que havia ocorrido fraude na eleição presidencial de 20 de outubro.
"Se meu povo pedir, estamos dispostos a voltar para apaziguar, mas é importante o diálogo nacional", disse Morales, acrescentando: "vamos voltar cedo ou tarde. Quanto antes melhor para pacificar a Bolívia".
O ex-presidente, que deixou o poder depois da Organização dos Estados Americanos (OEA) constatar a fraude e recomendar novas eleições, reiterou seu chamado a um diálogo nacional no qual poderiam participar "países amigos" em uma espécie de mediação entre as forças políticas.
"É importante o diálogo nacional. Sem diálogo nacional, estou vendo que vai ser difícil deter este confronto", acrescentou.
Algumas horas mais tarde, Morales fez um apelo a países europeus, à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Igreja Católica, por meio do Papa Francisco, a acompanhar "o diálogo para pacificar nossa querida Bolívia".
"A violência atenta contra a vida e a paz social", escreveu no Twitter.
Antes, ele fez um apelo à Polícia e às Forças Armadas, que o pressionaram para que apresentasse sua renúncia, a não "usar tiros contra o povo".
Até quarta-feira, a Bolívia registrava 10 mortos nos protestos após as eleições polêmicas em que Morales foi eleito para um quarto mandato, pleito que foi tachado de fraudulento pela oposição e que uma missão da OEA qualificou como repleto de "irregularidades".
Morales também condenou no Twitter a "decisão de [Donald] Trump de reconhecer o governo de fato e autoproclamado pela direita" liderado pela presidente interina, Jeanine Áñez.
Ele se antecipou a um comunicado do Departamento de Estado americano que reconheceu Áñez como presidente interina e afirma que Washington espera trabalhar com a Bolívia e sua população "enquanto preparam eleições livres e justas o mais rápido possível
"O golpe de Estado que provoca mortes dos irmãos bolivianos é uma conspiração política e econômica que vem dos EUA", afirmou Morales.
Para Morales, a proclamação de Añez como presidente interina é a confirmação do "golpe" contra ele e que foi um ato fora da legalidade, pois não foi celebrada a sessão em que o Legislativo aceita sua renúncia, como prevê a Constituição.
Homenageado
À tarde, Morales foi recebido em uma cerimônia pela prefeita da Cidade do México, a esquerdista Claudia Sheinbaum, que lhe entregou uma medalha e um pergaminho para declará-lo um "hóspede distinto" da capital.
Ao chegar, dezenas de pessoas o receberam do lado de fora da prefeitura gritando "Aimará, irmão, o povo te dá a mão!" e "você não está sozinho".
Em agradecimento, Morales disse que dentro e fora de seu país "eles não aceitam que a Bolívia é anticolonialista e anti-imperialista" e que ele não renunciou como "covarde", mas por "cuidar da vida" dos bolivianos.
Protestos
Na quarta, La Paz teve mais confrontos violentos e, segundo a imprensa local, aviões militares chegaram a sobrevoar a capital boliviana no início da noite.Em um dos momentos mais tensos da jornada de protestos, manifestantes detonaram explosivos em frente à sede do governo, onde policiais estavam concentrados. Ruas do centro de La Paz também foram bloqueadas, segundo o jornal "La Razón".
France Presse
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