A França realizou na noite de quinta-feira (27) o último debate antes das eleições parlamentares do país, que estão previstas para domingo (30). A votação acontece quase um mês depois do presidente francês, Emmanuel Macron, dissolver o parlamento.
Em 9 de junho, o partido de Macron (REM) foi derrotado nas eleições do Parlamento Europeu para o partido (RN) de Marine Le Pen, política populista de extrema direita. Sua decisão teve como objetivo principal evitar que o sucesso na Europa fosse refletido no país – com os nacionalistas ganhando mais visibilidade.
De todo modo, o forte desempenho dos extremistas nas eleições europeias apontou para o descontentamento dos eleitores sobre questões como imigração, violência e custo de vida.
Com isso, o primeiro-ministro de Macron, Gabriel Attal, tentou no debate de ontem destacar o quão negativo são esses pontos e acusou seu adversário, Jordan Bardella, do RN, de concordar com eles.
“Não se pode construir a paz e a unidade quando se apresentam... mais de uma centena de candidatos que foram acusados de fazer comentários racistas”, disse Attal. "Cada um de nós deve ser sempre intransigente com o discurso de ódio, porque se não formos intransigentes, acabamos por legitimá-lo”.
Bardella, por sua vez, afirmou que as acusações eram falsas. Um dia depois do debate, uma nova pesquisa OpinionWay publicada pelo jornal Les Echos mostrou que o partido de extrema-direita poderia alcançar até 37% do voto popular, um aumento de dois pontos percentuais em relação à pontuação de uma semana atrás.
O partido Juntos, do bloco centrista de Macron, atingiu 20%, uma queda de dois pontos em relação à última publicação. A aliança de esquerda da Nova Frente Popular manteve-se inalterada com 28% dos votos.
O que acontece se a extrema-direita assumir o parlamento?
Por ora, o partido governante de Macron tem 169 deputados na Assembleia Nacional, o maior grupo na câmara de 577 assentos. O partido de oposição mais forte, o Reagrupamento Nacional, de Le Pen, possui 88 assentos.
Para ganhar uma maioria absoluta na câmara baixa francesa, o partido precisaria aumentar seu número de deputados para 289. Caso ganhem, Macron seria obrigado a nomear um adversário para o cargo de primeiro-ministro. E quem assumisse o posto, seria responsável por escolher os ministros do gabinete.
Caso acontecesse, isso seria chamado de "coabitação". A França já teve três períodos semelhantes – quando o presidente e seu primeiro-ministro são de partidos políticos diferentes.
Nesse cenário, o presidente mantém o papel principal em defesa como comandante-chefe e em política externa —a constituição diz que ele negocia tratados internacionais—, mas perderia o poder de definir a política doméstica.
Isso aconteceu pela última vez em 1997, quando o presidente de centro-direita Jacques Chirac dissolveu o parlamento pensando que ganharia uma maioria mais forte, mas inesperadamente perdeu para uma coalizão de esquerda liderada pelo partido Socialista.
As eleições parlamentares são realizadas em dois turnos, em 30 de junho e 7 de julho. Vale destacar que a dissolução do Parlamento já ocorreu outras vezes, está prevista na Constituição francesa —e, portanto, não representa nenhum tipo de golpe.
Quem é Marine Le Pen?
Marine Le Pen assumiu a liderança do partido Rassemblement National em 2011, no lugar de seu pai, Jean-Marie Le Pen. Desde então, ela passou os últimos anos tentando chegar a um ponto de equilíbrio necessário para transformar uma força extremista em um partido de apoio dos franceses.
Tanto que, apesar de ter uma postura xenofóbica e com ideais próximas ao governo russo, ela tenta constantemente argumentar sobre encontrar políticas populistas, como de emprego, para os franceses. Além disso, tenta passar que é uma pessoa como qualquer outra. À emissora France Inter, ela chegou a dizer que é criadora de gatos e agricultora.
Seus animais até aparecem em seus vídeos no TikTok e em sua conta privada no Instagram, segundo a BBC.
Porém, apesar dessa postura, o plano de Le Pen é principalmente criar um grupo de nacionalistas que possa puxar a Europa para a direita e, para isso, procura se aliar à Meloni. Ao jornal italiano "Corriere della Sera", a líder francesa defendeu a mensagem de união no continente. “Não devemos perder uma oportunidade como esta”, afirmou Le Pen.
As siglas conservadoras e de extrema direita da Europa, incluindo o partido de Le Pen, concordam em pontos que geram polêmica entre os europeus, como a contenção de imigrantes e a revogação das regulamentações ambientais, mas se opõem fortemente em questões como o apoio à Ucrânia.
James Shields, professor de estudos franceses da Universidade de Warwick, no Reino Unido, disse à BBC que as referências racistas e antissemitas ficaram para trás, mas as velhas medidas de lei e ordem anti-imigrantes e autoritárias do antigo partido do pai de Le Pen permanecem praticamente inalteradas.
Reuters
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