Diplomatas do Brasil ouvidos pela GloboNews nesta sexta-feira (16) avaliaram, na condição de anonimato, que o presidente venezuelano Nicolás Maduro está "esticando a corda" e agindo na "contramão" do acordo que prevê, entre outros pontos, eleições no país neste ano e a libertação de opositores presos.
Nesta quinta (15), o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, informou que funcionários do Alto Comissariado de Direitos da Organização das Nações Unidas deverão deixar o país.
A medida foi anunciada após eles terem divulgado um relatório no qual afirmaram que o programa do governo venezuelano de combate à fome é ineficiente e suscetível a influências políticas.
Para o governo de Nicolás Maduro, o grupo agiu como advogado de “golpistas" e “terroristas”, acrescentando que os funcionários da ONU só poderão permanecer no país se retificarem o estudo.
Também nesta semana, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, os Estados Unidos e organizações humanitárias condenaram a prisão da ativista Rocío San Miguel.
Ela está na sede do serviço de inteligência, em Caracas. Rocío é conhecida por fazer denúncias sobre tortura sofrida por detidos pelo governo.
Em outra ação controversa, o Supremo Tribunal de Justiça, alinhado ao governo Maduro, inabilitou recentemente María Corina Machado, opositora de Maduro e até então candidata a presidente nas eleições deste ano.
Momento pede 'cautela'
Segundo diplomatas ouvidos pela GloboNews, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou como estratégia a aproximação com Maduro ao longo de 2023 e costurou o Acordo de Barbados – que prevê, entre outros pontos, a realização de eleições neste ano e a libertação de opositores presos.
Agora, diante dos novos fatos no país vizinho, integrantes do governo brasileiro avaliam que a situação se agravou. E que, por isso, novas conversas devem acontecer.
Embora concordem que o momento pede "cautela", as fontes divergem sobre o tom a ser adotado se o Brasil concluir que Maduro está agindo contra o processo eleitoral e descumprindo o acordo.
Para alguns diplomatas, seguindo a tradição, o país não deve adotar tom mais "duro". “Não se trata de passar pano, mas, sim, de não queimar os canais, as possibilidades de diálogo", afirmou à GloboNews um integrante da diplomacia brasileira.
Para outros, porém, o país deve mudar de postura e passar a ser mais crítico ao regime de Maduro.
Lula foi alvo de críticas
Em maio do ano passado, quando recebeu Maduro no Palácio do Planalto, o presidente Lula foi criticado após ter feito uma declaração à imprensa na qual disse que o presidente venezuelano era alvo de “narrativas” sobre a democracia no país.
“Acho que cabe à Venezuela mostrar sua narrativa para que possa efetivamente fazer pessoas mudarem de opinião. […] É preciso que você construa a sua narrativa, e eu acho que, por tudo o que conversamos, a sua narrativa vai ser a melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você”, disse Lula a Maduro.
Na ocasião, diplomatas disseram ao g1 e à GloboNews que, embora o tom de Lula pudesse ser questionado, a estratégia era buscar uma aproximação com Maduro, o que, segundo eles, fazia ser necessária uma declaração mais amena.
Nova embaixadora
Após seis anos sem embaixador em Caracas, o Brasil indicou a diplomata Glivânia Oliveira para o posto – ela já foi sabatinada e aprovada pelo Senado.
Segundo o Itamaraty, a diplomata já está na Venezuela e servirá como "ponto de apoio importante" em meio ao atual cenário no país.
Conforme relatos, ela deve "tomar pé" da situação local antes de o Brasil decidir os próximos passos em relação a Maduro.
g1
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