Novembro 23, 2024

Três anos após referendo em que colombianos rejeitaram acordo com Farc, pacto assinado por Santos enfrenta dificuldades

Nesta quarta-feira (2) completam-se três anos da realização do referendo em que os colombianos rejeitaram o tratado de paz entre o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) –o “não” venceu com 50,2% dos votos, mas o presidente do país na época, Juan Manuel Santos, assinou o tratado com os guerrilheiros mesmo assim.

As Farc viraram um partido político com deputados e senadores no Parlamento, mas o tratado corre risco, de acordo com Alex Fattal, um antropólogo da Universidade de Harvard, nos EUA que estuda o tema.

O presidente que sucedeu Santos, Iván Duque, é ligado a grupos políticos que rejeitam o entendimento com as Farc.

“O governo e os partidos de extrema-direita não querem romper o acordo, mas severamente prejudicá-lo”, diz Fattal, que publicou um livro sobre o papel do marketing nas ações de desmobilização dos membros das Farc na Colômbia.

Duque, que foi eleito em junho de 2018, fez sua campanha presidencial com a promessa de alterar o pacto. Já no cargo, ele tentou endurecer as penas dos guerrilheiros desmobilizados, mas a proposta não passou no Parlamento.

A Justiça ainda determinou que ele deveria aceitar os termos que haviam sido acertados em 2016.

Disputas territoriais voltaram ao país
“Ninguém nas próprias Farc ou no governo ou nos centros de estudo pensou que o acordo seria facilmente implementado, mas o país vive uma onda de disputas por territórios –a ‘paz territorial’ era um dos pontos chave do tratado” afirma ele.

No fim de agosto, Iván Márquez, um líder histórico das Farc, que havia sido o principal interlocutor da guerrilha durante as negociações de paz, apareceu em um vídeo em que anunciava “uma nova etapa da luta armada”.

“Márquez é, de algumas formas, politicamente mais poderoso que Timochenko (o efetivo líder das Farc, cujo nome verdadeiro é Rodrigo Londoño Echeverri). Márquez é mais carismático e é uma figura de autoridade desde os anos 1980.”

A senadora Victoria Sandino, que hoje faz parte do partido Farc, diz que há faltas de garantias para os ex-guerrilheiros como ela se reincorporarem à sociedade (muitos deles já deveriam ter saído da prisão, afirma), que a divisão agrária não avança e que a Justiça Especial de Paz não tem conseguido dar respostas às vítimas dos confrontos entre a guerrilha comunista e o Estado colombiano durante décadas.

Produzir plantas de coca é, tradicionalmente, mais lucrativo do que outras atividades rurais. Para convencer os agricultores da Colômbia a trocar, o governo aceitou fazer pagamentos. O papel das Farc, pelo tratado de paz, é convencer a aderir ao plano.

“O acordo para substituição de cultivos proibidos foi torpedeado pelo governo, que ainda ameaça a voltar a jogar glifosato (herbicida). A eliminação sistemática de líderes comunitários é parte disso: eles são os que mais reivindicavam o cumprimento do acordo de terras e a substituição das plantações proibidas”, diz Sandino.

Paramilitares
O grupo que mais ganhou força foram os paramilitares, de acordo com Fattal, o antropólogo americano. “Esses outros grupos não fazem tráfico de drogas, mas outros negócios ilegais, como garimpo e extorsão. As pessoas que estariam na linha de frente para resistir a isso seriam os líderes comunitários, e temos visto uma série de ataques a eles.”

A senadora Sandino também diz que os paramilitares têm ocupado os territórios deixados pelas Farc –ela os acusa de uma série de crimes que ela caracteriza como “falsos positivos” (assassinatos cometidos por militares que justificam que a morte se deu durante um confronto).

A questão venezuelana
Há ainda a possibilidade de que parte dos guerrilheiros esteja encontrando abrigo no país a leste da Colômbia, a Venezuela.

Um ex-comandante do exército chavista, o general Manuel Ricardo Cristopher Figuera, se refugiou nos EUA e deu uma entrevista ao jornal “The Washignton Post”, na qual diz que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tem ciência da presença de postos de combatentes esquerdistas colombianos que lutam contra o governo de seu país.

Dissidentes das Farc que abandonaram o acordo de paz e uma outra guerrilha, a ELN, seriam os grupos que usam o território venezuelano.

Maduro nega que tenha dado abrigo aos grupos.

G1
Portal Santo André em Foco

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