O governo dos Estados Unidos fez uma campanha velada ao longo de todo o ano passado para garantir a realização das eleições presidenciais no Brasil, afirma uma reportagem do jornal "Financial Times" desta quarta-feira (21).
De acordo com fontes ouvidas pela publicação, a operação, não divulgada, envolveu o contato com instituições brasileiras como as Forças Armadas e foi montada diante do temor de que o ex-presidente Jair Bolsonaro pudesse fraudar o processo eleitoral.
Além de alto escalões da Casa Branca, participaram da ação também oficiais da CIA (a agência de inteligência dos EUA) e do Pentágono, a sede do Departamento de Defesa norte-americano, segundo a reportagem, que ouviu seis oficiais e ex-oficiais do governo norte-americano integrantes da operação.
"Foi praticamente um ano de estratégias, realizadas com um objetivo muito claro em mente, que era não apoiar um candidato ou outro, mas fortemente focado no processo eleitoral, em garantir que o processo funcionasse", afirmou ao Financial Times o ex-embaixador dos EUA no Brasil e um dos alto escalões do Departamento de Estado norte-americano Michael McKinley.
As táticas, relata o jornal, incluíram reuniões em Brasília e nos Estados Unidos, como um almoço entre investidores norte-americanos e o então vice-presidente, o general Hamilton Mourão, em julho em Nova York.
O ex-oficial do Departamento de Estado dos Estados Unidos Tom Shannon, que participou do almoço, relatou à publicação que expressou a Mourão a preocupação de seu país com a ameaça às eleições e que, como resposta, o ex-vice-presidente disse também estar preocupado.
"Eu falei a ele: 'você sabe que sua visita aqui é muito importante. Você ouviu preocupações de pessoas nesta mesa. Eu compartilho dessas preocupações e, sendo bem franco, eu estou muito preocupado'. Mourão virou para mim e disse: eu estou muito preocupado também", contou Shannon ao jornal norte-americano.
Assessores de Mourão não quiseram falar com o jornal sobre o relato de Shannon.
Oficiais também afirmaram ao Financial Times que a Casa Branca sabia dos riscos de ser acusada de interferência em assuntos internos de um país latino-americano, reproduzindo a política adotada pelos Estados Unidos na época da Guerra Fria.
"Foram as instituições brasileiras que realmente garantiram que as eleições tenham sido realizadas normalmente. O importante é que nós transmitimos as mensagens corretas e garantimos e mantivemos a disciplina política", disse um dos oficiais ao Financial Times.
Reuters
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