Novembro 28, 2024

Zelenski chama soldados russos de 'assassinos' após ucranianos acharem cadáveres em Bucha

O presidente ucraniano Volodmir Zelenski chamou nesta segunda-feira (4) os soldados russos de "assassinos, torturadores, estupradores, saqueadores", depois que dezenas de corpos foram encontrados perto de Kiev, à medida que aumenta a pressão para intensificar as sanções contra Moscou.

Autoridades de Bucha, uma pequena localidade ao noroeste de Kiev, afirmaram que precisaram cavar valas comuns para enterrar os corpos, incluindo alguns com as mãos amarradas nas costas, enquanto imagens de cadáveres nas ruas chocaram o mundo mais de um mês após o início da invasão russa.

A Rússia negou qualquer responsabilidade e, nesta segunda-feira, o Kremlin desmentiu "categoricamente todas as acusações".

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que funcionários do ministério russo da Defesa encontraram sinais de "falsificações nos vídeos" e de "fakes" nas imagens apresentadas pelas autoridades ucranianas como provas de um massacre atribuído à Rússia.

Mas a condenação foi rápida, e líderes ocidentais, a Otan e a ONU expressaram horror com os relatos de civis mortos em Bucha e outras áreas da região de Kiev.

Zelenski foi implacável em sua mensagem de vídeo noturna, na qual afirmou que "o mal concentrado" chegou a sua terra. Ele disse que os soldados russos merecem apenas a morte depois do que fizeram.

"Quero que cada mãe de cada soldado russo veja os corpos das pessoas mortas em Bucha, em Irpin, em Hostomel. Quero que todos os líderes da Federação Russa vejam como suas ordens são cumpridas", acrescentou.

Zelenski disse também que criou um órgão especial para investigar os massacres nas áreas de onde as forças russas se retiraram na região da capital, depois que Moscou reorientou a ofensiva para o sudeste da Ucrânia.

A escala dos massacres ainda está sendo investigada, mas a procuradora-geral ucraniana Iryna Venediktova informou que 410 corpos de civis foram recuperados.

O prefeito de Bucha, Anatoly Fedoruk, afirmou à AFP que 280 corpos foram levados para fossas coletivas porque é impossível sepultá-los nos cemitérios ao alcance dos bombardeios.

A empresa de imagens por satélite Maxar Technologies divulgou fotografias que seriam de uma vala comum no prédio de uma igreja de Bucha.

O funcionário municipal Serhii Kaplychnyi disse à AFP que as tropas russas impediram os moradores de enterrar os mortos na cidade.

"Eles disseram que, enquanto estivesse frio, os deixariam lá", afirmou. Quando finalmente conseguiram recuperar os corpos, "cavamos uma vala comum com um trator e enterramos todos", contou.

A alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se declarou "horrorizada" com as imagens.

"As informações que estão chegando desta região e de outras apresentam perguntas graves e preocupantes sobre possíveis crimes de guerra e infrações graves do direito internacional humanitário, assim como graves violações dos direitos humanos", destacou Bachelet em um comunicado, no qual pediu que "todas as evidências sejam preservadas".

UE estuda novas sanções
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, acusou a Rússia de um "massacre deliberado", enquanto o porta-voz de Zelenski, Sergiy Nikiforov, disse que os massacres em Bucha são "crimes de guerra".

O embaixador adjunto de Moscou na ONU afirmou que a Rússia pediu uma reunião do Conselho de Segurança para esta segunda-feira "com base na atroz provocação dos radicais ucranianos em Bucha".

Correspondentes da AFP na cidade observaram ao menos 20 corpos com trajes civis espalhados por uma rua. As imagens do massacre provocaram indignação mundial e pedidos de novas sanções contra a Rússia.

A UE começou hoje a debater com "urgência" uma nova série de medidas contra Moscou, informou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

O presidente francês Emmanuel Macron declarou que é favorável a uma decisão nesse sentido, por exemplo, contra o petróleo e o carvão russos.

O chanceler alemão Olaf Scholz informou neste domingo (3) que novas sanções serão decididas nos próximos dias, enquanto seu ministro da Defesa citou a possibilidade de cortar a importação de gás russo, um dos grandes trunfos de negociação de Moscou.

O primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki pediu a criação de uma comissão de investigação internacional sobre o "genocídio".

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, disse que seu país vai "fazer todo o possível para que aqueles que cometeram crimes de guerra não fiquem impunes", ao citar também um possível "genocídio".

"Algo terrível vai acontecer"
Mas o presidente ucraniano advertiu que o pior pode estar por acontecer, porque Moscou voltou as atenções para o sul e leste do país em sua tentativa de criar uma ligação terrestre entre a península da Crimeia – anexada em 2014 pela Rússia – e as regiões separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk.

"As tropas russas ainda controlam as áreas ocupadas de outras regiões. E, depois da expulsão dos ocupantes, podemos encontrar coisas ainda piores, mais mortes e torturas", disse.

Zelenski também participou da cerimônia do Grammy com um discurso pré-gravado, no qual solicitou que as pessoas "falem a verdade sobre esta guerra". "Não fiquem em silêncio", pediu ao público.

O pior conflito em décadas na Europa, provocado pela invasão russa de 24 de fevereiro, deixou 20 mil mortos, de acordo com o balanço ucraniano.

Quase 4,2 milhões de ucranianos abandonaram o país, segundo o Alto-Comissariado das Nações para os Refugiados (Acnur).

Na cidade de Kramatorsk, mulheres, crianças e idosos embarcavam em três trens para fugir da região do Donbass. "O boato é que algo terrível vai acontecer", disse Svetlana, voluntária que organiza a multidão na plataforma da estação.

A Rússia intensificou os esforços no sul e leste da Ucrânia, incluindo vários ataques neste domingo contra o porto de Odessa, no mar Negro, que, segundo Moscou, atingiram refinarias de petróleo e depósitos de combustível.

Oito pessoas morreram e 34 ficaram feridas em bombardeios russos neste domingo em Ochakiv e Mykolaiv, também no sul da Ucrânia, informou nesta segunda-feira a procuradoria ucraniana.

O ministério britânico da Defesa destacou que os ataques aéreos russos mais recentes se concentraram no sudeste da Ucrânia. E os combates intensos prosseguem na área do porto de Mariupol.

As conversações de paz por videoconferência devem ser retomadas nesta segunda-feira, mas o negociador russo Vladimir Medinsky disse que é muito cedo para uma reunião entre Zelenski e Putin.

AFP
Ex-prefeito de Santo André/PB

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