Novembro 26, 2024

Diante de resistência à vacina, França pode impor imunização a enfermeiros e auxiliares

A resistência de enfermeiros e auxiliares de enfermagem a se vacinar contra a Covid-19 na França gera muita preocupação no governo francês, afirma a imprensa do país nesta sexta-feira (18).

O jornal "Le Monde" tenta entender por que a taxa de vacinação entre algumas categorias de profissionais de saúde parou de avançar.

Segundo um documento da AP-HP, a instituição que administra os cerca de 40 hospitais públicos da região parisiense, após seis meses do início da campanha de vacinação na França, os níveis de imunização entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de saúde são muito inferiores aos dos médicos.

Em relação à primeira dose, a diferença é quase o dobro. Cerca de 91% dos médicos, incluindo os residentes, receberam ao menos uma injeção desde 1° de janeiro, contra 54% dos outros profissionais de saúde.

Praticamente a mesma diferença é observada em relação às duas doses, 68% contra 37%. Em alguns hospitais, a taxa de vacinação completa é extremamente fraca e preocupante, e atinge apenas cerca de 10% dos funcionários.

A AP-HP identificou essa resistência e afirma ao jornal ter desenvolvido assiduamente "uma campanha de comunicação sobre as vacinas para acabar com o bloqueio”.

Defesa da vacinação obrigatória
O fenômeno é constatado também em outras regiões francesas. Em todo o país, 72,2% dos médicos receberam uma primeira dose da vacina contra a Covid.

Entre os enfermeiros eles são apenas 58,7%, e entre os auxiliares, 50%. A agência de segurança sanitária afirma que começa a observar um limite na progressão da vacinação entre os paramédicos.

A vice-presidente da comissão médica do hospital de Nice, Sylvia Benzaken, defende nas páginas do Le Monde a vacinação obrigatória contra a Covid para os profissionais de saúde, a exemplo do que ja acontece com a Hepatite B.

Outros representantes do setor acham a polêmica prematura. O porta-voz do sindicato dos enfermeiros CFE-CGC, Thierry Amouroux, lembra que "tradicionalmente os auxiliares se vacinam menos do que os enfermeiros, que se vacinam menos que os médicos".

Ele também ressalta que na crise atual, 70.000 paramédicos tiveram a Covid e têm que esperar o prazo recomendado entre três e seis meses para poder se vacinar.

Além disso, sugere o sindicalista, essa é uma categoria formada por profissionais mais jovens e a vacinação na França só foi aberta a toda a população no final de março.

“É indispensável que todos os auxiliares e enfermeiros sejam vacinados, eles têm um dever moral, deontológico para proteger os pacientes, mas é preciso que seja da vontade deles”.

Profissionais de casas de repouso reticentes
A pesquisadora Jocelyn Raude indica, no entanto, que essa resistência dos enfermeiros e auxiliares é antiga. Ela também é observada em relação a vacina contra a gripe. Ela é explicada, antes de mais nada, por questões socioculturais.

A psicóloga ressalta que o universo paramédico é um universo majoritariamente feminino e diz que as mulheres são muito mais sensíveis aos efeitos colaterais de novas tecnologias e produtos e são mais adeptas a práticas médicas alternativas, como a homeopatia, onde circulam discursos que questionam as vacinas.

A atitude é também resultado da falta de reconhecimento dessas categorias e da relação de hierarquia nos hospitais franceses.

A taxa de vacinação desses profissionais foi publicada depois de um outro estudo preocupante mostrando que os profissionais de casas de repouso também têm resistência em se vacinar.

Apenas 41,9% das pessoas que trabalham nos asilos franceses foram completamente vacinadas até agora, segundo balanço da agência de Saúde Pública Francesa publicado nessa quinta-feira.

Isso levou o ministro da Saúde, Oliver Véran, a ameaçar fazer uma campanha de vacinação obrigatória para os profissionais do setor. Os paramédicos e auxiliares não podem ser menos imunizados do que a população geral, alertou Véran.

RFI
Portal Santo André em Foco

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