O Irã acusou Israel nesta segunda-feira (12) de estar por trás do ataque contra o complexo nuclear de Natanz e prometeu vingança. A imprensa israelense diz que o Mossad é responsável pelo ciberataque.
Um dia após classificar o ataque de domingo (11) como "terrorista", o país confirmou que centrífugas de enriquecimento de urânio foram danificadas, sem dar detalhes do estrago causado.
O incidente ocorreu um dia após o Irã acionar novas centrífugas no complexo Chahid-Ahmadi-Rochan de Natanz, apesar de a ampliação da capacidade nuclear ser proibida pelo acordo firmado em 2015.
O apagão acrescenta uma nova incerteza nos esforços diplomáticos para tentar salvar o acordo nuclear, do qual os Estados Unidos saíram em 2018.
A declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Saeed Khatibzadeh, é a primeira acusação oficial contra Israel pelo ataque, que cortou a energia no complexo nuclear.
“A resposta para Natanz é se vingar de Israel”, afirmou Khatibzadeh. “Israel receberá sua resposta por seu próprio caminho", disse o porta-voz iraniano sem detalhar a ameaça.
Israel não assumiu diretamente a responsabilidade pelo ataque, mas a imprensa israelense diz que o apagão foi causado por um ciberataque "devastador" orquestrado pelo país. A emissora pública Kan disse que o Mossad (o serviço secreto do Estado de Israel) estava por trás do ataque.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta segunda-feira (12) que não permitirá que o Irã consiga construir armas nucleares e o país continuará a "se defender" contra agressões iranianas.
'Terrorismo antinuclear'
A Organização de Energia Atômica Iraniana confirmou ontem o apagão no complexo, mas afirmou que o ato de "terrorismo antinuclear" não deixou vítimas nem contaminação. O local é o principal centro do programa nuclear iraniano e já foi alvo de outros ataques (veja mais abaixo).
Khatibzadeh afirmou que ainda é "muito cedo" para determinar os danos materiais causados pelo ataque. "É preciso inspecionar cada centrífuga para ter um balanço dos danos".
O porta-voz também acusou Israel de sabotar as discussões em andamento em Viena sobre o retorno do Irã ao acordo nuclear de 2015, do qual os EUA saíram em 2018.
Com a saída dos americanos, o Irã começou a descumprir o acordo em 2019, e observadores internacionais alertam que o país vem acelerando as violações ao tratado nos últimos meses.
Após o ataque, a União Europeia afirmou que não aceita tentativas de obstruir as discussões sobre o acordo nuclear com o Irã. "Rejeitamos qualquer tentativa de minar ou provocar o descarrilamento das atividades diplomáticas em marcha", disse o porta-voz da diplomacia do bloco, Peter Stano.
Autoridades que falaram sob condição de anonimato ao jornal "The New York Times" dizem que a explosão foi um duro golpe para a capacidade do Irã de enriquecer urânio e que pode levar pelo menos nove meses para restaurar a produção de Natanz.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, afirmou que o complexo nuclear será reconstruído com máquinas mais avançadas. "Os sionistas [Israel] queriam se vingar do povo iraniano", afirmou Zarif. "Nos vingaremos dessa ação".
Outros ataques
Natanz já foi alvo de sabotagem no passado. O vírus de computador Stuxnet, descoberto em 2010 e considerado uma criação conjunta de EUA e Israel, já interrompeu e destruiu centrífugas no complexo.
Em julho, o complexo nuclear sofreu uma explosão misteriosa em sua avançada fábrica de montagem de centrífugas e mais tarde as autoridades iranianas descreveram o incidente como sabotagem.
O Irã também culpou Israel pela morte em novembro do cientista que iniciou o programa nuclear do país.
G1
Portal Santo André em Foco
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