Opositores do governo de El Salvador pediram nesta terça-feira (9) que uma comissão do Congresso estude impedir o presidente Nayib Bukele por "incapacidade mental" por "se sentir acima da lei". O mandatário, em resposta, disse que partidos de direita do país querem dar um golpe parlamentar.
O pedido foi anunciado pelo deputado Ricardo Velásquez com base em um artigo na Constituição. O parlamentar, que pertence à sigla direitista Aliança Nacionalista Republicana (ARENA), disse que presidente deu sinais "notórios" de "sua incapacidade mental" por meio de um discurso "de ódio, não tolerância, agressões".
Velásquez, crítico ferrenho de Bukele, disse que o presidente "se sente acima da lei" e considerou que "ou estamos diante de um criminoso ou estamos diante de um louco, um louco que não tem faculdades mentais para exercer o cargo".
Bukele reagiu pouco depois do anúncio do pedido e criticou outros órgãos nacionais que não se pronunciaram contra a solicitação do deputado. "É incrível, mas revelador, ver os autoproclamados 'defensores da democracia' manterem silêncio total", afirmou o presidente, segundo a AFP.
Nas redes, Bukele também sugeriu que a ARENA esteja alinhada com outro partido no extremo oposto do espectro político salvadorenho: a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN, esquerda), uma ex-guerrilha que se tornou partido político.
"Isso revelará a todos, sem dúvida, que a ARENA e a FMLN são realmente aliadas, os interesses que defendem são os mesmos", escreveu Bukele nas redes sociais.
El Salvador passará por eleições municipais e legislativas de 28 de fevereiro, para as quais os apoiadores do presidente aparecem como favoritos.
A Comissão Política, a quem a oposição entregou o pedido, é composta por 13 membros, sendo 10 opositores (incluindo um deputado independente) e três membros oficiais. Caso a comissão, em prazo indeterminado, vote por dar luz verde à petição de Velásquez, a decisão de declarar a incapacidade presidencial caberia a uma equipe de cinco médicos indicados pelo Congresso.
Aí, para que Bukele deixe o cargo por incapacidade mental, dois terços dos deputados — ou seja, 56 parlamentares — deverão votar a favor da destituição.
Até o momento, o bloco de oposição não se pronunciou sobre a possibilidade de aceitar o pedido, embora tenha os votos necessários para fazê-lo.
Pressão militar há um ano
A petição foi entregue em um momento em que várias organizações salvadorenhas exigem nas ruas que Bukele nunca mais militarize o Congresso, como aconteceu em 9 de fevereiro de 2020, há um ano, ato descrito pela oposição como uma tentativa de golpe.
Naquela data, Bukele entrou no Congresso acompanhado pela tropa de choque e soldados do exército vestindo coletes à prova de balas e rifles de assalto. Com isso, o presidente pressionou o Congresso a aprovar um empréstimo milionário.
Nesta terça, manifestantes foram às ruas para relembrar a ação militar de Bukele no Congresso. Uma faixa chegou a chamar o presidente de "fascista" e "terrorista".
France Presse
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