Novembro 25, 2024

PT chega aos 40 anos com dificuldade para se renovar Featured

O PT completa 40 anos na próxima segunda-feira diante do desafio de renovar os seus quadros. A falta de novos nomes tem impacto direto na dificuldade do partido para definir candidaturas nas principais cidades na eleição municipal deste ano. Apesar da insistência do ex-presidente Lula para que o PT esteja na disputa no maior número possível de municípios, a legenda deve ter nomes na urna em apenas cerca de dez capitais.

Dessas cidades, só no Nordeste, reduto tradicional da legenda, os pré-candidatos petistas se mostram competitivos na largada da disputa eleitoral. São os casos da ex-prefeita Luizianne Lins em Fortaleza e da deputada Marília Arraes em Recife. A segunda, porém, enfrenta resistência da cúpula da legenda em Pernambuco, que é favorável à manutenção da aliança local com o PSB.

Reservadamente, dirigentes reconhecem que o partido sofre para se renovar em consequência de seu afastamento das bases nos anos em que permaneceu no poder. Também admitem que em muitas cidades serão lançados nomes com chances mínimas de vitória. Já militantes da juventude petista queixam de desdém da cúpula partidária pela formação de novos quadros e dizem que, por muitos anos, o PT ficou preso ao sindicalismo sem se atentar para o enfraquecimento dessas organizações de representação por causa das mudanças nas relações de trabalho.

O cenário mais explícito da dificuldade do PT para formar quadros se dá em São Paulo. Com a resistência de Fernando Haddad de concorrer, sete nomes se apresentaram para disputar uma prévia na maior cidade do país, mas nenhum deles é visto como competitivo.

Em Belo Horizonte, os nomes cotados para assumir a candidatura também são considerados azarões. Já na região metropolitana de São Paulo, que no passado foi um reduto petista apelidado de cinturão vermelho, a aposta será em políticos veteranos, que já foram prefeitos como Emídio de Souza em Osasco, Elói Pietá em Guarulhos, Luiz Marinho em São Bernardo do Campo e José de Filippi Júnior em Diadema.

Acadêmico com olhar voltado para a história do PT, o professor do departamento de sociologia da USP Ricardo Musse avalia que o partido sofreu as consequências das mudanças sociais e do seu próprio crescimento. Também credita a falta de renovação a um enfraquecimento das tendências internas.

Musse lembra que o PT foi fundado por quadros que já tinham expressão social antes de ingressarem na política institucional, seja no sindicalismo, no movimento estudantil e na acadêmia. São os casos de Lula, José Dirceu e Eduardo Suplicy.

- Esse processo não teve como ter continuidade pelas mudanças históricas.

Em seguida, houve, na avaliação do professor, uma inevitável burocratização vivida por todos os partidos de massa do mundo.

- Quando o PT foi fundado, quem mandava no mandato do parlamentar era a estrutura do próprio partido. A partir de determinado momento, esse parlamentar começou a contratar quadros do partido e esses quadros ficaram reféns do parlamentar. Isso fez com que as tendências, os núcleos e a base se enfraquecessem.

Nos últimos anos, o PSOL, legenda que nasceu de uma dissidência do PT, passou a recrutar militantes ligados aos movimentos estudantil, negro, feminista e LGBT. Hoje, dos dez deputados federais da bancada do PSOL, seis têm menos de 40 anos. Dos 53 do PT, apenas três estão nessa mesma faixa etária.

- O PSOL investiu muito nesses novos movimento sociais. O PT ainda tinha na cabeça que o sindicato e o MST eram a fonte do ativismo. Recentemente, o PT começou a se abrir para eles.Agora isso já faz parte da retórica do partido, mas não da prática - analisa Musse.

Professor do Insper, o cientista político Carlos Melo concorda que o PT sofreu em razão das mudanças na estrutura social dos últimos anos e lembra que as dificuldades de renovação de quadros não são exclusividade do partido na política brasileira.

Destaca, porém, que os escândalos de corrupção tiveram impacto no processo de formação de novos nomes.

- Houve uma geração que foi carbonizada pelos escândalos, com José Dirceu, José Genoino e outros. Esse vácuo talvez tenha significado a perda de um elo. Quem veio depois não conseguiu a mesma substância.

Para Melo, o grande problema do PT hoje é em relação à geração na casa dos 40 anos.

- Esses nomes não são conhecidos. Não tem apelo.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não nega que o partido tenha poucos nomes competitivos para as eleições deste ano nas capitais. Para celebrar os 40 anos, a legenda realiza neste final de semana debates políticos e shows musicais no Rio.

- O partido sofreu um ataque descomunal de desconstrução política. Muitas lideranças foram atacadas nesse processo. O tempo para reconstruir uma imagem política, para reposicionar uma liderança, é longo. É natural essa consequência em razão de que nós sofremos.

A dirigente acredita que a falta de nomes consolidados pode servir justamente para promover a renovação.

- Vejo como uma oportunidade de lançar novas lideranças nas disputas municipais. Muitos podem ser surpresas e, mesmo que não ganhem, começamos a formar lideranças de referência popular. Lançar quadros novos é um investimento que o partido faz e também uma oportunidade de renovação.

Gleisi diz que nos últimos anos o partido se abriu para a renovação ao estimular o ingresso de mulheres, negros e jovens em seus postos de direção. Afirma também que aposta em um projeto interno de formação de candidatos para estimular jovens pelo país a disputarem cargos de vereador este ano.

- Renovar não é só colocar gente mais nova. É colocar também setores da sociedade que historicamente foram excluídos do processo de decisão política.

Para a presidente do PT, o grande desafio do partido aos 40 anos é se reaproximar das bases e digitalizar a sua forma de comunicação.

O Globo
Portal Santo André em Foco

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