O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, durante evento alusivo aos 400 dias do seu governo, que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, é "privilegiado" porque a área comandada por ele está "em último lugar" e, por isso, não pode ser ultrapassada por ninguém. A ironia fez referência ao resultado do país na última prova do Pisa, sigla em inglês para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes.
Mas a declaração de Bolsonaro não é verdadeira. A média brasileira referente ao último exame, realizado em 2018, ficou em 413 no quesito Leitura (57º do mundo), 384 em Matemática (70º) e 404 em Ciências (64º). As notas são levemente mais altas do que o último resultado, de 2015, mas insuficientes para serem consideradas um avanço, segundo o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
— Até há poucos dias falei para o Weintraub, né? Você é um ministro privilegiado. A educação chegou a um nível tal que não pode ser ultrapassada por ninguém, porque está em último lugar. Obviamente, levando-se em conta a última prova do Pisa realizada no início de 2018. A próxima será em 2021. Ele já sabe que esses números vão mudar. Se nós não investirmos, com seriedade, na questão da educação, não teremos futuro — comentou o presidente.
Logo antes, ele afirmou que o seu governo respeita a família e quer "nossos filhos no bom caminho, com boa educação".
No dia 7 do mês passado, Weintraub assumiu o "compromisso" de tirar o Brasil do que ele chamou de "fundo do poço" do Pisa.
— O compromisso, presidente... O fundo do poço foi em 2018. O senhor vai marcar já a reversão disso. Não dá para colocar (o Brasil) em primeiro lugar da América do Sul ainda, porque a gente está em último, mas a gente já vai sair do fundo do poço. Esse é o compromisso que a gente tem — disse o ministro, durante reunião com Bolsonaro transmitida pelo Facebook.
Apesar de o ele afirmar que o Brasil ficou em último lugar na América do Sul, outros países tiveram desempenhos piores: a nota da Argentina em Matemática foi 379 enquanto a do Brasil foi de 384. Já em Ciências, Argentina e Peru ficaram empatadas com o Brasil com 404. Argentina e Peru tiveram desempenhos piores que os brasileiros em Leitura.
Em coluna publicada no dia 5 de janeiro no GLOBO, Antonio Góis mostra que, de acordo com dados do próprio Pisa, o Brasil está entre os três países que mais evoluíram na educação na década passada. "A melhoria no período entre 2000 e 2009, puxada principalmente pela área de matemática, foi insuficiente para tirar o país das últimas colocações do ranking, mas era surpreendente, a ponto de alguns especialistas terem levantado a hipótese de se tratar na amostra de estudantes que fizeram o exame", escreveu.
O Globo
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