O presidente Jair Bolsonaro afirmou na tarde desta sexta-feira (31) que o governo enfrenta ao menos duas dificuldades para evacuar os brasileiros que se encontram na China, local onde se iniciou o surto de coronavírus. Uma delas é a falta de recursos. O outro ponto, seria a falta de garantia na lei para que esse grupo cumpra o período de quarentena. O mandatário do país disse que os brasileiros que lá se encontram apenas retornarão ao Brasil caso haja garantia de que o prazo de 40 dias será respeitado. Ele pedirá ao Judiciário e ao Congresso que assegure a medida.
O chefe do Executivo, que não contava com agenda oficial por se recuperar de um procedimento de vasectomia, realizado ontem à noite no Hospital das Forças Armadas, se reuniu nesta sexta-feira (31) no Palácio da Alvorada com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
“Temos alguns nacionais, em especial na região de Wuhan, que querem voltar para cá e têm pedido o nosso apoio. Obviamente, o apoio custa dinheiro, meios e o Brasil vai ter que se esforçar para consegui-los”, alegou.
O presidente reclamou da deterioração da Força Aérea. “Ao longo dos últimos 30 anos, arrebentaram o material das Forças Armadas, as aeronaves, por um projeto de poder. O militar sempre foi o último obstáculo para o socialismo. Então temos uma realidade pela frente. Inclusive, o orçamento do ano passado e desse ano foi majorado, das Forças Armadas, em torno de R$ 4 bilhões. Tivemos críticas ferrenhas da imprensa porque diminuiu para as outras áreas, mas ninguém falou nos últimos 30 anos como estiveram as Forças Armadas”, apontou.
Bolsonaro ainda defendeu que não poderia colocar em risco 210 milhões de brasileiros por conta de “algumas dezenas”.
“Nós não temos uma lei de quarentena. Ao trazer brasileiros para cá, é nossa ideia, obviamente, colocá-las em um local para quarentena. Mas qualquer ação judicial tira de lá e, daí, seria uma irresponsabilidade retirar pessoas que vem dessa região da China para cá (sem quarentena). Se lá temos alguma dezenas de vidas, aqui nós temos 210 milhões de brasileiros. Então são coisas que tem que ser conversadas antecipadamente com o chefe do poder judiciário, conversado com o parlamento também”, emendou dizendo que necessita da aprovação do parlamento para agir e não cair na lei de Responsabilidade Fiscal.
Questionado se um voo comercial poderia resolver o problema, Bolsonaro apontou que o mesmo custaria cerca de US$ 500 mil e que nenhum passo será dado sem o aval da justiça: “Para 30, nós temos possibilidade das Forças Armadas cumprir essa missão. Mas todo mundo diz que não está contaminado. Tem que fazer um exame prévio lá, quem tiver qualquer possibilidade de apresentar os sintomas, não embarcaria. Chegando aqui, pela ausência da lei da quarentena, nós temos que discutir com o parlamento. Nós vamos decretar a quarentena com toda a certeza numa base militar, longe de grandes centros populacionais para que a gente não cause pânico e transtorno junto a população brasileira”, garantiu.
Perguntado se o governo poderia decretar a quarentena por meio de Medida Provisória, o presidente indicou que o tema precisaria ser antes discutido para evitar que possíveis questionamentos revertam a medida.
“A MP pode chegar lá e alguém simplesmente julgá-la inconstitucional com uma ação judicial porque você sabe, o nosso judiciário é bastante rápido nessas questões aí." E emendou: “Se não tiver redondinho no Brasil, não vamos buscar ninguém. A intenção do presidente não vai buscar ninguém. Quem quer vir para cá tem que se submeter aos trâmites de proteção dos 210 milhões que estão aqui”, declarou.
O chanceler Ernesto Araújo disse ainda que qualquer operação de evacuação precisará antes ser solicitada à China. “Para tirar brasileiros de lá, a região da China que está mais sujeita, está fechada. É preciso negociar com o governo chinês primeiro para que deixe sair. Não é uma coisa óbvia e imediata”, destacou.
O ministro da saúde, Mandetta relatou que a situação de emergência apenas será declarada caso algum caso de coronavírus seja confirmado no país. “Ao que tudo indica, esse vírus tem uma transmissibilidade maior, mas letalidade muito menor. Então, como ele vai se comportar no nosso bioma? Ele vai aumentar ou diminuir transmissibilidade e a letalidade? Somente quando tiver a presença dele num país com as nossa características saberemos. Tem todo um estado de alerta”, defendeu.
Bolsonaro também comentou sobre a possibilidade de casos do novo vírus na Venezuela ampliarem a migração para o Brasil.
"Debatemos e estudamos muito e vamos continuar essa conversa sobre a possibilidade desse vírus chegar na Venezuela. O que a gente acredita que pode acontecer, é uma entrada em massa de venezuelanos para cá, tendo em vista o clima em que se instalará naquele país. O que poderemos fazer? Logicamente, viria em massa para cá, para a Colômbia. E a América do Sul toda está preocupada com isso que pode acontecer e temos que nos antecipar a possíveis problemas para que não tenhamos que discuti-lo no fragor da entrada dessas pessoas aqui”, disse, informando que outras reuniões poderão ocorrer durante o final de semana a respeito do tema.
Por fim, o presidente falou da preocupação com o abalo da economia global e das exportações brasileiras diante do grave quadro. “A economia, em parte, terá algum problema. A previsão é da China perder 1% de seu crescimento. Nossas exportações, no momento, pode ser que sejam afetadas em torno de 3%. Isso aí pesa para nós, afinal de contas, a China é nosso maior mercado exportador. Tenho conversado com Guedes e Roberto Campos. Está todo mundo envolvido e preocupado em dar pronta resposta à população”, concluiu.
O Ministério da Saúde informou nesta sexta que o Brasil tem 12 casos suspeitos do coronavírus. Nenhum caso foi confirmado.
Correio Braziliense
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