Durante a cúpula do Mercosul nesta segunda-feira (8) em Assunção, capital do Paraguai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a tentativa de golpe na Bolívia e alfinetou o argentino Javier Milei, ausente no evento, ao condenar “experiências ultraliberais” na América Latina. O chefe do Executivo brasileiro falou também de temas como meio ambiente, inserção econômica e acordos comerciais.
“Há menos de 15 dias, um membro de nosso bloco sofreu uma tentativa de golpe. A democracia prevaleceu graças à firmeza do governo boliviano, à mobilização de seu povo e do rechaço da comunidade internacional. O Mercosul permaneceu, mais uma vez, unido em defesa da plena vigência do Estado de Direito, consagrado pelo Protocolo de Ushuaia”, disse Lula.
“A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de Janeiro no Brasil demonstra que não há atalhos na democracia em nossa região, mas é preciso permanecer vigilante. Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários”, completou.
A Bolívia passou por uma tentativa de golpe de Estado no fim de junho. A medida teria sido liderada pelo ex-comandante do Exército, general Juan José Zúñiga, que foi preso horas após as tropas acompanhadas de veículos blindados invadirem o Palácio Presidencial, na capital La Paz. Na ocasião, Lula e o governo brasileiro se manifestaram contra a medida.
Em seu discurso, Lula também criticou as experiências neoliberais na América Latina, mas não citou o Javier Milei. “Democracia e desenvolvimento andam lado a lado. Os bons economistas sabem que o livre mercado não é uma panaceia para a humanidade. No mundo globalizado, não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista. Tão pouco há justificativa para resgatar as experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades em nossa região.”
Na reunião, os países do Mercosul formalizaram a entrada da Bolívia no bloco econômico. Agora, o país presidido por Luis Arce terá um prazo de quatro anos para concluir o processo de adesão e adotar as normas. Com a medida, o Mercosul passa a ter 300 milhões de habitantes, uma extensão territorial de 13,9 milhões de km² e um PIB (Produto Interno Bruto) total de US$ 3,5 trilhões.
Veja, abaixo, os principais pontos do discurso de Lula.
Inserção econômica
O presidente brasileiro comentou a divisão no continente e as inserções econômicas. “Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria. Num contexto de acirramento da competição geoestratégica, a questão que se impõe é se nossos países querem se integrar ao mundo unidos ou separados. Não vejo contradição entre participar da economia global e cooperar entre vizinhos. Minha aposta no Mercosul como plataforma de inserção internacional e de desenvolvimento do Brasil permanece inabalável.”
Inteligência artificial
“A governança regional de dados no Mercosul é vital para nossa soberania futura e para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. É preciso habilitar nossa região a desenvolver capacidade própria de coletar, processar e armazenar dados, insumo fundamental para avançar no desenvolvimento tecnológico e na digitalização da indústria regional”, destacou o presidente brasileiro na cúpula.
Acordo com União Europeia
Lula afirmou, também, que o Mercosul não concluiu o acordo com a União Europeia porque os “europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas”. Na sequência, citou eventual acordo com a China. “Nos orgulhamos de ser o primeiro país do bloco a ratificar o Acordo de Livre Comércio com a Palestina, mas não posso deixar de lamentar que isso ocorra no contexto em que o povo palestino sofre com as consequências de uma guerra totalmente irracional. Espero que neste ano possamos aprofundar o diálogo sobre um acordo abrangente com a China”, disse.
Meio ambiente
O petista argumentou ser a favor de uma gestão de risco de desastres na América do Sul. “Além de agradecer a solidariedade de todos os sócios do Mercosul que ofereceram prontamente os mais diversos tipos de ajuda humanitária, quero fazer um chamado por maior engajamento e ambição climática. É muito oportuna a adesão do Mercosul, nesta cúpula, ao Memorando de Entendimento sobre cooperação em gestão integral de risco de desastres”, afirmou.
Guerras e eleições
Na cúpula, o presidente abordou as guerras atuais. “Essa é a razão do nosso engajamento em prol de uma solução para o conflito entre Rússia e Ucrânia que efetivamente envolva as duas partes. O apoio do Brasil à África do Sul em sua ação na Corte Internacional de Justiça visa por fim à matança indiscriminada de mulheres e crianças em Gaza”, destacou.
Depois, comemorou os resultados eleitorais na França e no Reino Unido. “Encerro com o registro da vitória das forças progressistas nas recentes eleições no Reino Unido e na França. Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as ameaças do extremismo.”
R7
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