O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja retomar os encontros com setores do agronegócio para se aproximar do grupo, em meio à revisão que a equipe econômica do governo tem feito a respeito dos gastos públicos. As reuniões começaram em março e foram suspensas devido à agenda do presidente e à tragédia ambiental que atinge o Rio Grande do Sul desde o fim de abril. Os encontros, com caráter informal, têm acontecido na Residência Oficial da Granja do Torto, no esquema de “happy hour”.
Por enquanto, o petista já reuniu produtores de carne e de óleo vegetal e fruticultores, e os próximos a serem convidados devem ser as áreas de café, algodão, floresta plantada e bioinsumos. A ideia é que os encontros sejam semanais ou a cada 15 dias.
Segundo o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, que também participa das reuniões, o pedido para retomar as agendas com o agronegócio partiu do próprio presidente. Lula solicitou a volta pessoalmente ao ministro na quarta-feira (3), depois do lançamento do Plano Safra para 2024 e 2025. Esta edição da iniciativa terá orçamento recorde, de R$ 400,59 bilhões, em aceno do Executivo ao setor.
“Nós tínhamos programado a continuidade dos encontros setoriais aqui no Palácio [do Planalto] ou na Granja do Torto — preferencialmente, na Granja do Torto. Veio o desastre climático do Rio Grande do Sul e tudo isso foi interrompido. [Lula] disse que já dá para retomar os encontros. O pessoal do café é o primeiro da lista nas agendas e deve ser o próximo, mas ainda não marcamos”, declarou Fávaro, na quarta (3).
Quanto à relação do agronegócio com o governo, o ministro defende que não deve ser “um concurso de beleza”. “Não se torna a prioridade número um agradar todo mundo, achar que todo mundo precisa bater palma. O fato é que, em 18 meses [de mandato], as realizações estão aí. Contra os dados e os fatos realizados, não há controvérsias, e eu não quero polemizar”, completou, ao afirmar que o novo Plano Safra foi finalizado oito dias antes do lançamento.
No fim de março, o ministro chegou a dizer que a relação do governo com o agronegócio não era “uma paixão terrível”, embora, na avaliação dele, já tivesse melhorado desde o início do mandato de Lula. A mudança do local de lançamento do Plano Safra — inicialmente previsto para Rondonópolis, no interior de Mato Grosso, estado onde a produção agrícola é forte — gerou mal-estar com o setor.
O plano acabou sendo lançado em Brasília, no Palácio do Planalto, devido ao pouco tempo para organizar o evento e por falta de espaço em Rondonópolis para comportar a cerimônia. A mudança de local fez com que o anúncio atrasasse em alguns dias. Para Fávaro, não houve desprezo do governo com o setor. Segundo ele, a própria decisão de lançar o plano em um grande evento mostrou o compromisso do Executivo com o grupo.
“É diferente mobilizar fora de Brasília. Aqui, todas as entidades têm representatividade e é mais fácil para vir. Nesse lapso temporal, seria muito mais difícil mobilizar e fizemos aqui em Brasília mesmo. Pareceu que o mundo ia acabar, a agropecuária brasileira ia acabar, uma hecatombe, desprezo. O Plano Safra passado acabou no domingo [anterior ao lançamento de quarta]. Isso já tinha ocorrido outras vezes e o mundo não acabou. Não foi desprezo nenhum. O presidente, de forma muito sensível, me disse ‘olha, se você quiser, venha ao meu gabinete e eu publico o novo plano, tudo certo, não podemos deixar a agropecuária desguarnecida’. Mais do que retórica, é trabalhar, que os resultados aparecem”, completou o ministro.
Novo Plano Safra
O projeto oferece linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas para médios e grandes produtores. Também na quarta-feira (3), Lula lançou o Plano Safra voltado à agricultura familiar, de R$ 85,7 bilhões. Em complementação à iniciativa, será possível usar R$ 108 bilhões em recursos de LCA (Letras de Crédito do Agronegócio), para emissões de CPR (Cédulas do Produto Rural) — num total de R$ 508,59 bilhões para os agricultores do país. O LCA é um título de renda fixa emitido por instituições financeiras públicas e privadas.
Com a oferta de linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas, o plano é um programa do governo federal para apoiar o setor agropecuário. A medida tem vigência de um ano, começa em 1º de julho e termina em junho do ano seguinte — período que acompanha o calendário das safras brasileiras. A liberação de recursos permite, então, o custeio de equipamentos e produtos, assim como melhorias na propriedade rural.
O valor deste ano, de R$ 400,59 bilhões, é cerca de 10% superior ao de 2023, quando o governo federal liberou R$ 364,22 bilhões. Dos recursos do plano em 2024, R$ 293,29 bilhões (73%) são para custeio e comercialização e R$ 107,3 bilhões (27%) para investimentos.
R7
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