Após dizer que o conceito de democracia "é relativo", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse gostar nesta quinta-feira (29) do regime do governo.
A declaração foi feita durante a abertura do 26º encontro do Foro de São Paulo — grupo de discussão política que agrupa partidos alinhados à esquerda na América Latina —, em Brasília.
"A gente gosta de democracia, a gente gosta de ter tem gente protestando contra a gente, a gente gosta quando tem greve contra a gente, a gente gosta quando negocia. Nada disso é contra a democracia", disse.
Horas antes, ao avaliar o motivo pelo qual setores da esquerda defendem o governo da Venezuela, Lula afirmou que o conceito de democracia é relativo para cada pessoa.
"A Venezuela tem mais eleições do que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim. Eu gosto de democracia, porque a democracia que me fez chegar à Presidência da República pela terceira vez", declarou.
A fala à "Rádio Gaúcha" repercutiu de forma negativa ao longo do dia. Antes, no fim de maio, o petista já havia sido criticado por defender o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
À época, o presidente afirmou que as acusações de que o país vive uma ditadura fazem parte de uma "narrativa".
No encontro do Foro de São Paulo, Lula afirmou que é preciso que "a gente aprenda a exercitar a democracia", e voltou a dizer que partidários sofrem "ataques pejorativos".
"Vocês sabem quantas vezes nós fomos acusados. Vocês sabem quanta difamação e quantos ataques pejorativos se fazem contra a esquerda na América do Sul. Nós não somos vistos pela extrema-direita fascista, nem do Brasil nem do mundo, como organizações democráticas. Eles nos tratam como se nós fôssemos terroristas", disse.
O presidente ainda declarou que não se ofender em ser chamado de comunista. Segundo ele, pessoas que se identificam com a esquerda se sentem ofendidos somente quando chamados de "nazista".
"Eles nos acusam de comunistas achando que nós ficamos ofendidos com isso. Nós não ficamos ofendidos. Nós ficaríamos ofendidos se nos chamassem de nazista, de neofacista, de terrorista. Mas de comunista, de socialista, nunca. Isso não nos ofende. Isso nos orgulha muitas vezes."
Apelo à esquerda
Em seu discurso na abertura do evento, o petista fez apelo aos partidos de esquerda para uma revisão do discurso público. "É preciso que a gente rediscuta o discurso da esquerda. É preciso que a gente repense o que que a gente quer e como a gente vai fazer para conquistar", disse.
Segundo Lula, ao redor do mundo, aliados da direita tem encontrado maior facilidade em conquistar apoios.
"Muitas vezes, a direita tem mais facilidade do que nós com um discurso fascista. Aqui, no Brasil, nós enfrentamos o discurso do costume, da família, do patriotismo. Ou seja, aqui nós enfrentamos um discurso de tudo aquilo que nós aprendemos a combater. Na Europa, a esquerda perdeu o discurso para a questão da migração. Ou seja, a esquerda não sabe defender a questão dos imigrantes", declarou.
O presidente defendeu maior integração da esquerda latino-americana e que aliados não têm "tempo a ficar brigando por coisas menores".
"A gente não pode ficar a vida inteira criticando os outros. De vez em quando, a gente tem que olhar para dentro de nós e saber o que que nós fizemos de errado. [...] Precisamos discutir os nossos erros para que a gente possa corrigi-los", afirmou.
"A gente tem que meditar para que a gente consiga que novos erros atropelem a caminhada da gente pela conquista da qualidade de vida do nosso povo", completou.
Equívocos de 'companheiros'
Ao comparar adversários políticos na região, Lula defendeu que é "muito melhor" um aliado político "cometendo alguns equívocos".
"É muito melhor ter um companheiro da gente cometendo alguns equívocos para a gente criticar, do que ter alguém de direita governando que não permite sequer que a gente tenha espaço para fazer crítica", disse.
"No Brasil, nós aprendemos. Quatro anos da extrema-direita foi uma lição para todos nós. Ou nós criamos juízo, ou nós nos organizamos, ou nós trabalhamos para resolver os problemas da sociedade brasileira, sobretudo com a questão da inclusão social, ou a extrema-direita está aí contando mentiras, utilizando fake news, violentando qualquer parâmetro de dignidade para voltar ao poder", acrescentou.
O presidente ainda defendeu que aliados não façam críticas a outros publicamente. Segundo ele, entre amigos, a conversa deve ser feita "pessoalmente".
"A gente não faz críticas públicas, porque interessa para a extrema-direita."
g1
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