Os candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) participaram neste domingo (16) do primeiro debate do segundo turno das Eleições 2022. O encontro foi organizado por TV Bandeirantes, TV Cultura, UOL e Folha de S. Paulo.
O debate foi dividido em três blocos. Os candidatos tiveram momentos de confronto direto, em que precisaram administrar "bancos de tempo" com 15 minutos cada, e também responderam a perguntas formuladas por jornalistas.
Ao longo de quase duas horas, Lula e Bolsonaro trataram de temas como:
No primeiro bloco, os dois candidatos responderam a uma mesma pergunta sobre orçamento. Depois, debateram em confronto direto sobre temas como a gestão federal na pandemia de Covid, o pagamento de auxÃlios como Bolsa FamÃlia e AuxÃlio Brasil e as obras realizadas em governos anteriores.
No segundo bloco, questionados por jornalistas, Lula e Bolsonaro trataram de temas como propostas para mudar a composição do Supremo Tribunal Federal (STF), preços dos combustÃveis, divulgação de fake news e relação com o Congresso, além da acusação de suposta pedofilia por parte de Bolsonaro – repudiada pelo candidato.
No terceiro bloco, os candidatos responderam a uma mesma pergunta sobre o déficit educacional na pandemia. Depois, voltaram ao confronto direto e usaram a maior parte do tempo para trocar acusações sobre corrupção. Por fim, apresentaram suas considerações finais (veja vÃdeos abaixo).
O debate foi realizado duas semanas antes da votação de segundo turno para presidente, marcada para 30 de outubro.
O candidato eleito em segundo turno toma posse no cargo no próximo dia 1º de janeiro, em cerimônia no Congresso Nacional. Desta vez, o mandato presidencial terá quatro dias a mais: uma reforma eleitoral aprovada em 2021 definiu que, em 2027, a posse presidencial será em 5 de janeiro.
Corrupção e apoio no Congresso
O tema do combate à corrupção e dos escândalos das últimas décadas apareceu nos três blocos do debate.
O jornalista Josias de Souza, do UOL, questionou Lula e Bolsonaro sobre a negociação com o Congresso – e citou os escândalos do "petrolão" (governos Lula e Dilma) e do orçamento secreto (governo Bolsonaro), ligados à compra de apoio de parlamentares do Centrão.
Bolsonaro negou que tenha comprado o centrão com o orçamento secreto e disse que pode até entender que o "parlamento trabalha melhor na distribuição de renda" do que o Executivo.
"Eu comprei com o orçamento? Eu vetei. Derrubaram o veto. Agora, se eu comprei, eu tenho voto. Vamos supor que o senhor seja deputado, se o senhor recebeu um dinheiro do orçamento secreto, o senhor vai votar comigo. É lógica, ou não é? Eu tenho aqui uma lista preliminar, 13 deputados do PT que receberam recurso desse tal orçamento secreto. Eu não tenho nada a ver com esse orçamento secreto. Posso até entender que o parlamento trabalha melhor na distribuição de renda do que nós do lado de cá, o meu Ministério da Economia e o presidente".
Lula disse que os deputados são responsabilidade do povo brasileiro e que, se eleito, pretende criar um orçamento participativo.
"Eu vou tentar confrontar essa história do orçamento secreto, eu vou tentar criar um orçamento participativo que foi uma coisa que criamos nos estados brasileiros [...] vamos pegar o orçamento e vamos mandar para o povo dar opinião para saber o que ele quer efetivamente que seja feito para ver se a gente consegue diminuir o poder de sequestro que o centrão fez no presidente Bolsonaro".
No terceiro bloco, durante o confronto direto, Lula e Bolsonaro voltaram ao tema, com foco nas denúncias de corrupção e desvio de recursos na Petrobras em anos anteriores.
"Se houve corrupção na Petrobras, prendeu-se o ladrão que roubou, acabou. Prendeu porque houve investigação, porque no nosso governo nada era escondido. A gente não tinha sigilo do filho, da filha, do cartão de crédito, das casas, nada. Era o Portal da Transparência e a Lei de Acesso à Informação", disse Lula.
"Você entregou para partidos polÃticos diretorias da Petrobras, fez um leilão em troca de apoio no parlamento, botava gente indicada por grupos partidários e o pessoal entrava para saquear. E você, com os votos caindo para aprovar propostas, você se refestelava", acusou Bolsonaro.
AuxÃlio Brasil x Bolsa FamÃlia
Logo no primeiro trecho do confronto direto, Jair Bolsonaro usou parte do tempo para comparar o Bolsa FamÃlia, criado na gestão PT, com o AuxÃlio Emergencial pago na pandemia e o AuxÃlio Brasil criado para suceder o Bolsa FamÃlia no ano passado.
"Só de AuxÃlio Emergencial, em 2020, nós gastamos o equivalente a 15 anos de Bolsa FamÃlia. O Bolsa FamÃlia pagava muito pouco, eu tinha vergonha de ver as pessoas mais humildes especial do Nordeste, do interior do Nordeste recebendo, algumas famÃlias começando a receber R$ 42 reais. Se podia dar algo melhor, como tá dizendo agora, por que que não deu lá atrás?", disse Bolsonaro.
Em resposta, Lula citou outras medidas de assistência social adotadas pelo governo federal entre 2003 e 2010, quando era presidente.
"O nosso programa de inclusão social não era só o Bolsa FamÃlia. O nosso programa de inclusão social foi a maior polÃtica de distribuição de renda que esse paÃs já conheceu para o pobre. Era ajuda ao pequeno produtor rural, era 1,4 milhão de cisternas que nós fizemos para o Nordeste. Era o Pnae [programa de alimentação escolar] para levar comida para as crianças mais pobres, e a gente comprava do pequeno produtor. Além do aumento do salário mÃnimo de 74%", enumerou.
Conduta na pandemia
Na primeira rodada de confronto direto, Lula questionou Bolsonaro sobre a conduta do governo na pandemia. Até este domingo, o Brasil contabilizava 687.195 mortes pela Covid.
"A sua negligência fez com que 680 [mil] pessoas morressem quando mais da metade poderia ter sido salva. A verdade é que o senhor não cuidou, debochou, riu, desacreditou a vacina. [...] O senhor gozou das pessoas, imitou as pessoas morrendo afogadas por falta de oxigênio em Manaus. Não tem na história de nenhum governo no mundo alguém que brincou com a pandemia e com a pandemia como você brincou", disse Lula.
Em resposta, Bolsonaro citou a ocasião em que Lula disse "ainda bem" ao se referir ao papel da Covid-19 em demonstrar a necessidade do Estado. E defendeu a polÃtica do governo contra o vÃrus.
"A primeira vacina no mundo foi aplicada em dezembro de 2020. Em janeiro do ano seguinte, um mês depois. O Brasil começou a vacinar. Nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina. E todos aqueles que quiseram tomar vacina, tomaram. E o Brasil foi um dos paÃses que mais vacinou no mundo e em tempo mais rápido. Então, o senhor se informe antes de fazer acusações levianas e mentirosas", disse Bolsonaro.
Orçamento e cortes
No primeiro bloco, os dois candidatos foram questionados sobre quais cortes farão no orçamento, se eleitos, para viabilizar os projetos prometidos na campanha.
Primeiro a responder, Bolsonaro disse que o AuxÃlio Brasil será "permanente" e bancado a partir da reforma tributária que ainda tramita no Senado.
"Bem como nosso governo estuda, ao se privatizar alguma coisa, uma parte obviamente vai para pagar juros da dÃvida e outra parte para irrigar projetos outros que podem acontecer", disse.
Lula fez referência ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que implementou em seu segundo mandato. O candidato também citou a aprovação de uma reforma tributária pelo Congresso para "taxar menos os mais pobres e os trabalhadores".
"Por isso é que nós propomos uma isenção até R$ 5 mil, não pagamento do Imposto de Renda. E cobrar dos mais ricos, que muitas vezes não pagam sobre o lucro e sobre o dividendo. AÃ, vamos ter dinheiro para fazer as polÃticas que nós fizermos", completou.
Mudanças no Judiciário
Lula e Bolsonaro foram questionados pela jornalista da TV Cultura Vera Magalhães sobre as propostas em tramitação no Congresso que podem alterar regras do Supremo Tribunal Federal, incluindo o número de ministros. Ambos negaram intenção de propor algo nesse sentido.
"Não é democrático um presidente querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos [...] Estou convencido de que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, companheiro, partidário é um atraso que a população brasileira já conhece muito bem. Acho que a Suprema Corte tem que ser escolhida por competência, por currÃculo, não por amizade", disse Lula.
"Da minha parte, está feito o compromisso. Não terá nenhuma proposta, como nunca estudei isso com profundidade. Mas deixo claro: no momento, o PT tem sete ministros indicados, eu tenho dois. Caso eu venha a ser reeleito, tenho mais dois. Eu ficaria com quatro e o PT, com cinco. Está feito o equilÃbrio", respondeu Bolsonaro – que defendeu publicamente, na última semana, aumentar o número de ministros do STF de 11 para 16.
Combate às fake news
Lula e Bolsonaro foram questionados pela jornalista Patricia Campos Mello, da Folha, se se comprometeriam a propor lei especÃfica para punir autoridades eleitas e servidores que divulguem fake news.
Os candidatos usaram o tempo para acusar o adversário de propagar notÃcias falsas – e nenhum dos dois respondeu à pergunta.
"Eu já participei de outras campanhas contra o FHC, o Collor, o Serra e o nÃvel era outro. Era um nÃvel civilizado, em que a verdade sempre prevalecia. [...] Eu acho que a campanha tem que ser regulada, a Justiça tem que tomar decisão e, toda vez que houver mentira, nós vamos entrar com processo para tirar", diz Lula.
Em resposta, Bolsonaro citou a decisão do presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, que mandou a campanha do PT tirar do ar um vÃdeo de Bolsonaro com fala sobre meninas venezuelanas.
"Me acusou de pedofilia, tentando me atingir naquilo que tenho mais de sagrado. Defesa da famÃlia brasileira, defesa das crianças", defendeu-se o candidato à reeleição.
Pandemia e danos à educação
No terceiro bloco, Lula e Bolsonaro foram questionados sobre como resolver a defasagem educacional agravada pela pandemia, e a desigualdade que afeta os alunos em sala de aula.
"O governo federal vai compartilhar com governadores e prefeitos a responsabilidade de recuperar essas aulas, para que esses alunos possam aprender mais. Nós vamos ter que fazer um verdadeiro mutirão. Convidar professores, quem sabe, trabalhar de domingo, quem sabe, trabalhar de sábado para que a gente possa fazer que essa meninada consiga aprender o que deixaram de aprender na pandemia", prometeu Lula.
"A garotada ficou dois anos em casa, eu fui contra isso. Nós já estamos fazendo, o nosso ministro da Educação tem um aplicativo que está há um ano em vigor. Chama-se GraphoGame. [...] No tempo do Lula, a garotada levava três anos para ser alfabetizada. Agora, no nosso governo, leva seis meses. Nós vamos começar agora com o Fies técnico, para a garotada do ensino médio ter uma profissão. Auxiliar de enfermagem, enfermeiro, entre tantos outros", disse Bolsonaro.
Considerações finais
Em sua última fala no debate, o presidente Jair Bolsonaro disse que deseja um paÃs livre e com liberdade de expressão. O candidato à reeleição também recorreu à s pautas de costumes como proibição de drogas, a liberdade religiosa e o aborto, e criticou o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).
Nas considerações finais, o ex-presidente Lula rebateu Bolsonaro, usando como argumento o fato de ter sancionado a lei de liberdade religiosa. O candidato do PT afirmou também que o atual presidente é um "ditadorzinho" que quer "ocupar a Suprema Corte". Ele também afirmou que vai governar para tirar a população da extrema pobreza.
g1
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