A mais acirrada disputa pelo comando da Procuradoria-Geral da República (PGR) tem sido marcada pela recorrente fritura dos procuradores mais cotados para a vaga e, consequentemente, pelo vaivém de favoritos. Até agora, quem ascendeu à condição de provável indicado pelo presidente Jair Bolsonaro viu sua vantagem em relação aos demais candidatos cair de repente.
Foi o caso de Augusto Aras, que disputa por fora da lista tríplice. Antes favorito ao cargo, o subprocurador perdeu pontos no Palácio do Planalto após ser alvo da artilharia de parlamentares do próprio partido do presidente, o PSL, que o classificaram como “esquerdista”. A fritura de Aras incluiu até mesmo a entrega de um “dossiê” contra o candidato pela deputada Carla Zambelli (SP), contendo vídeos com declarações dele com críticas à Lava-Jato e opiniões tidas como de esquerda.
Com o desgaste de Aras, ganhou força a candidatura do subprocurador José Bonifácio Borges de Andrada, que chegou a ser recebido por Bolsonaro. Seu favoritismo, porém, não durou. Pesou contra ele a ligação histórica com o PSDB — o subprocurador já atuou como advogado-geral da União no governo Fernando Henrique e também como advogado-geral da gestão de Aécio Neves no governo de Minas Gerais. Agora, o subprocurador Antônio Carlos Simões Martins Soares aparece na frente.
Na segunda-feira, o colunista Lauro Jardim informou que, na semana passada, Bolsonaro admitiu a interlocutores que estava perdido sobre quem escolher para a PGR. Na sua avaliação, os candidatos apresentados pareciam bons, mas depois se descobria que não era bem assim, sinal de que os ataques e dossiês produzidos contra os mais cogitados para a vaga surtiam efeito. A indecisão já fez o presidente adiar a escolha, que estava prevista para a sexta-feira da semana passada.
Em recentes entrevistas, Bolsonaro sinalizou que busca um perfil alinhado ao conservadorismo de seu governo: alguém que trate a questão ambiental “sem radicalismo”, que “não atrapalhe na questão das minorias” e que trate de forma “adequada” as Forças Armadas, sem interferências.
O beija-mão de parlamentares e ministros por parte dos candidatos em busca de padrinhos já dura mais de dois meses. A lista tríplice, por exemplo, foi definida numa eleição interna do Ministério Público Federal em 18 de junho, mas o presidente optou por fazer a escolha só nos momentos finais do mandato da atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
O Globo
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