Após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal(STF), anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que o tornou elegível em 2022, o presidente Jair Bolsonaro retomou negociação para se filiar ao PSL, partido pelo qual disputou o pleito em 2018, mas do qual saiu brigado um ano depois. A avaliação é que a entrada de Lula no páreo tornará mais acirrada a disputa no primeiro turno e, nessas circunstâncias, tempo de televisão e fundo partidário ganham mais relevância para, segundo Bolsonaro, "combater fake news" que seriam usadas por adversários. O presidente recebeu integrantes do PSL no Palácio da Alvorada nesta segunda-feira e vem mantendo conversas com dirigentes da sigla.
Embora Bolsonaro, que disputa eleição majoritária, possa fazer coligação com outros partidos para aumentar seu tempo de TV, deputados federais e estaduais bolsonaristas, que disputam a proporcional, não poderiam usufruir da mesma estratégia, ficando reféns do tempo de televisão e do fundo partidário da futura legenda do presidente. Com isso, caso Bolsonaro decida ir para siglas nanicas como DC, PMN ou PMB, esses parlamentares não contariam com aparições na TV nem com verba para campanha. Integrantes do núcleo duro do presidente avaliam que o pedido de voto em Bolsonaro, por deputados federais e estaduais, passou a ser uma arma importante diante do cenário mais acirrado no primeiro turno.
Bolsonaro tem pressa e quer resolver sua situação partidária "até abril", mas dirigentes do PSL responderam que não vão precipitar a decisão. Procurado pelo GLOBO, o presidente da sigla, Luciano Bivar afirmou que a decisão cabe a "toda a bancada" e não somente à executiva nacional.
— Certamente é algo que leva um tempo de maturação e convencimento. Não acredito que o presidente, como legítimo e favorito candidato à reeleição, tenha tempo para esperar a decisão do PSL, quando muitos outros partidos se oferecem para abrigá-lo —disse.
Dirigentes do PSL ouvidos pelo GLOBO em caráter reservado confirmaram que a possibilidade de filiação de Bolsonaro, "antes remota", agora "é real". Um deles argumenta que qualquer partido ficaria "lisonjeado" em receber o presidente da República e alega que as rusgas do passado, principalmente envolvendo o presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), já foram superadas. O PSL, contudo, não está disposto a dar a Bolsonaro o controle da executiva nacional do partido. E argumenta que o presidente teria que abrir mão dessa prerrogativa em troca da estrutura que o partido lhe ofereceria. Indicações de Bolsonaro para diretórios estaduais estratégicos, por sua vez, podem ser discutidas.
Bolsonaro propôs ao PSL uma fusão com algum partido nanico, o que abriria, já neste ano, fora da janela partidária, brecha para políticos entrarem e saírem da sigla sem risco de sofrer sanções. Sem empolgação, o PSL avalia essa alternativa. Outro pedido de Bolsonaro foi que o PSL tire de seus quadros adversários políticos como Joice Hasselmann e Junior Bozella, ambos deputados federais eleitos por São Paulo. Dirigentes do PSL afirmam que estão dispostos a atender a esse pleito.
— Seria uma poda de extremos, tirando tanto radicais anti-Bolsonaro como radicais de direita que bradam contra o STF, como Daniel Silveira e, talvez, dependendo do comportamento, Bia Kicis — disse um dirigente da cúpula.
Integrantes da ala bolsonarista do partido afirmam que não demonstrariam surpresa se, nas próximas pesquisas eleitorais, Lula aparecer à frente em intenções de voto para a Presidência. Argumentam que há no ar um ambiente de perdão ao petista, para muitos vítima de injustiça, e que, além de patinar no cenário econômico, Bolsonaro errou na condução da pandemia. Segundo o próprio núcleo do presidente, a entrada de Lula no pleito faz com que seja reavaliada a estratégia original de migrar para um partido nanico e reforça a necessidade de abrigo em uma legenda com estrutura.
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