O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou que "eventuais excessos" da Operação Lava-Jato, revelados nos supostos diálogos entre procuradores obtidos após um ataque hacker, não podem desviar o foco do combate a uma "corrupção sistêmica" que existe no Brasil.
Em uma entrevista ao historiador Marco Antonio Villa, exibida no último sábado, Barroso citou existir em curso uma "operação abafa" por meio da aliança de todos os setores para enterrar as ações de combate à corrupção.
— Não é esse o ponto, alguém ter dito uma frase inconveniente ou não. É que estão usando esse fundamento pra tentar destruir tudo que foi feito, como se não tivesse havido corrupção. O problema do Brasil foi a Lava-Jato e os seus eventuais excessos, não foi a corrupção — ironizou o ministro.
Barroso citou que um ex-gerente da Petrobras devolveu mais de R$ 100 milhões de propina desviada dos cofres da estatal e lembrou a apreensão de R$ 51 milhões em dinheiro vivo em um apartamento ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), dentre outros casos apurados na Lava-Jato. Citou também a existência de agentes públicos desviando recursos da saúde que deveriam ser usados no combate à pandemia.
—Então é claro que se tiver um excesso, ele deve ser objeto de atenção. Mas é preciso não perder o foco. O problema não é ter tido exagero aqui ou ali. O problema é esta corrupção estrutural, sistêmica, institucionalizada, que não começou com uma pessoa ou um partido, vem de um processo acumulativo que um dia transbordou. E o que a gente assiste hoje é a tentativa de sequestrar a narrativa como se isso não tivesse acontecido — afirmou o ministro.
— E um dos problemas é que no andar de cima no Brasil quase todo mundo tem um parente, um amigo, um parceiro que esteve envolvido com alguma coisa errada. E aí se forma um arco de alianças. O Brasil está polarizado de norte a sul, só há um consenso: varrer a corrupção pra baixo do tapete — concluiu.
O Globo
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