Duas semanas depois de afirmar que a operação da Polícia Federal com mandados de busca e apreensão em sua casa teve a “interferência” do presidente Jair Bolsonaro, o governador do Rio, Wilson Witzel, decidiu amenizar as críticas ao adversário político. Em entrevista concedida nesta terça-feira à Rádio BandNews FM, Witzel disse que espera ser recebido por Bolsonaro para “retomar o diálogo” e debater questões como o Regime de Recuperação Fiscal. Aliados do presidente, contudo, afirmaram ao GLOBO que uma reaproximação ente ambos é “impossível”.
Durante a entrevista, Witzel afirmou que o suposto aparelhamento da Polícia Federal para “assassinato de reputação” teve início durante o governo PT.
— É uma prática que vem acontecendo há muito tempo, o uso político da própria instituição para se fortalecer e ganhar força depois. Não estou dizendo que todos na instituição façam isso. Não houve cuidado de se fazer investigação mais aprofundada — afirmou.
O verbo “temos”
Depois, Witzel manifestou o desejo de ser recebido por Bolsonaro para conversar.
— Tenho minhas diferenças com o presidente e continuo tendo. Mas sempre foram críticas para ajudar nosso desenvolvimento econômico. Espero que o presidente possa retomar diálogo comigo, pois isso é bom para o Rio e para o Brasil. Tenho vários problemas aqui, como o Regime de Recuperação Fiscal, os royalties de petróleo... Espero que o presidente possa me receber para que a gente converse e possa encontrar soluções.
Duas pessoas do núcleo de Bolsonaro ouvidas pelo GLOBO, no entanto, afirmam que qualquer possibilidade de reaproximação foi sepultada quando Witzel afirmou que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, deveria estar preso. A declaração foi dada na porta do Palácio Laranjeiras no dia em que o governador foi alvo da operação da PF.
Na ocasião, Witzel disse: “O senador Flávio Bolsonaro, com todas as provas que já temos contra ele, que já estão aí sendo apresentadas, dinheiro em espécie depositado em conta corrente, lavagem de dinheiro, bens injustificáveis, ele já deveria estar preso”.
— Ao usar o verbo “temos”, Witzel admitiu participar do processo de investigação (da Polícia Civil). Somando às acusações feitas, isso tornou impossível qualquer reaproximação. Existe um certo limite para a retomada de relações cordiais. Esse limite foi ultrapassado — afirma um interlocutor de Bolsonaro.
Procurada, a assessoria de imprensa do Planalto preferiu não comentar.
Em março, antes da decretação da pandemia e de Witzel ser alvo da operação da PF, o deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ) chegou a tentar selar a paz entre o governador e Bolsonaro por meio do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Ramos, porém, recusou alegando que “a missão era muito árdua”. De lá para cá, Bolsonaro chegou a insinuar que Witzel seria preso. O governador, por sua vez, afirmou que o presidente é quem “deveria se preocupar com sua liberdade”.
Enquanto isso, na Assembleia Legislativa do Rio, deputados afirmam que Flávio Bolsonaro tem ligado para alguns parlamentares cobrando a votação dos 12 pedidos de impeachment de Witzel já protocolados na Casa. A disposição da Assembleia de votar rapidamente a instauração do processo de afastamento ganhou força ontem, após deputados acusarem o Palácio Guanabara de ameaçar parlamentares com dossiês comprometedores. O governo estadual nega.
Ronaldo Caiado e presidente se aproximam
Se a relação entre Bolsonaro e Witzel continua conturbada, a do presidente com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), parece ter melhorado.
Caiado, que em março chamou o presidente de “ignorante" pela forma como Bolsonaro vem tratando a pandemia de coronavírus, inaugurou sexta-feira, ao lado do presidente, o Hospital de Campanha de Águas Lindas. Foi o primeiro encontro dos dois após o rompimento.
O Globo
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