A Polícia Federal vai ouvir os delegados e policiais que participaram das investigações da operação “Furna da Onça” no procedimento instaurado pelo órgão para apurar se houve vazamentos envolvendo o inquérito. O novo procedimento, conduzido pela Corregedoria, foi aberto para apurar as denúncias feitas pelo empresário Paulo Marinho de que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, foi informado da operação cerca de um mês antes de sua deflagração. Entre os que serão ouvidos está a delegada Xênia Soares, presidente do inquérito na PF, e os policiais que trabalharam na investigação.
Em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Marinho disse que assessores de Flávio foram procurados por um delegado da PF que pediu um encontro no qual comunicou a existência da operação e que ela iria "alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio. Uma delas é o (Fabrício) Queiroz e a outra é a filha do Queiroz (Nathália)". Marinho disse que ouviu o relato de Flávio que não identificou quem seria o delegado que comunicou as informações para o filho do presidente.
Entre os documentos preparatórios para a operação policial, estava um relatório de inteligência financeira, produzido em janeiro de 2018, que citava a movimentação atípica de funcionários da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Entre eles, estava Fabrício Queiroz, então chefe da segurança de Flávio, com uma movimentação de R$ 1,2 milhão.
Xênia Soares é delegada desde 2009 e também atuou na Operação “Cadeia Velha”, em novembro de 2017, responsável pela prisão de Jorge Picciani, então presidente da Alerj, e os deputados estaduais Paulo Melo e Edson Albertassi. Na ocasião, a “Cadeia Velha” teve comando na PF de Alexandre Ramagem. A “Furna da Onça” foi uma operação que ocorreu em um desdobramento da anterior e prendeu outros 10 deputados estaduais sob acusação de recebimento de propina e compra de votos no governo de Sérgio Cabral.
Ramagem é atualmente diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o nome que o presidente Jair Bolsonaro queria para a direção-geral da PF. A escolha foi barrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes depois das acusações de Sergio Moro de que as trocas seriam uma interferência política na corporação.
Quando a Furna da Onça foi deflagrada, Alexandre Ramagem já era o chefe da equipe de segurança do então presidente Jair Bolsonaro. Ele assumiu a função em 1 de novembro de 2018. Antes disso, estava lotado em Brasília na Coordenação de Recursos Humanos da PF. Mesmo no período da Cadeia Velha, ele também estava lotado em Brasília e trabalhou temporariamente no Rio.
Contradições
Ao anunciar a investigação na noite de domingo, a PF informou, por nota, que já foi realizada uma investigação para apurar se houve vazamentos relacionados à operação “Furna da Onça” depois que uma nota do colunista Ascânio Seleme, em dezembro do ano passado, relatou parte do episódio mencionado por Marinho. A investigação concluiu que não houve vazamentos, porém, diante das declarações de Marinho, foi aberto um novo procedimento.
Procurada, a PF disse que não iria comentar. O GLOBO apurou que policiais da corporação avaliaram, no entanto, que a acusação de que a deflagração da operação teria sido adiada possui contradições. Uma delas seria o fato de que desde janeiro de 2018, além da PF, cópias do relatório do Coaf foram entregues ao MPF, MP estadual e Receita Federal.
Além disso, segundo o relato de Marinho, o delegado da PF teria dito que a Furna da Onça foi adiada em um mês para não prejudicar a campanha de Jair Bolsonaro. Integrantes da investigação dizem que essa seria outra contradição uma vez que a manifestação do MPF para a operação foi entregue no dia 16 de outubro de 2018 e os mandados, um total de 45, foram expedidos em 31 de outubro de 2018 pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Desse modo, a ação foi deflagrada apenas em 8 de novembro.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) enviou neste domingo um ofício à Polícia Federal solicitando o depoimento do empresário Paulo Marinho no inquérito que apura suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro no órgão. A PGR também pediu que a PF ouça, na mesma investigação, Miguel Ângelo Braga Grillo, chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro desde 2007.
O Globo
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