O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou o projeto que regulamenta a produção de energia eólica em alto-mar, porém vetou trechos que não tinham relação com o conteúdo original da proposta e que poderiam resultar em aumento da conta de luz.
A sanção foi publicada no "Diário Oficial da União". Os vetos terão de ser analisados por deputados e senadores em sessão do Congresso ainda sem data marcada. Os parlamentares podem manter ou derrubar a decisão de Lula.
O presidente seguiu a recomendação de auxiliares para barrar no projeto artigos inseridos que não tratava da produção da chamada energia eólica offshore, feita em alto-mar onde a força do vento é maior. Artigos que não tratam do tema dos projetos são chamados de jabutis no jargão do Congresso.
Durante a tramitação da proposta foram inseridos e aprovados artigos que incentivam fontes poluentes de energia, como a térmica.
Doze entidades do setor elétrico apresentaram uma carta aberta a Lula na qual pediram que fossem vetados os artigos 19, 22 e 23 do projeto aprovado pelo Congresso.
As entidades destacaram que se, a proposta fosse sancionada sem vetos, haveria um custo mÃnimo de R$ 545 bilhões até 2050, um aumento de 9% na energia.
Vetos
Veja vetos que Lula impôs ao texto aprovado pelo Congresso. Segundo o governo, esses dispositivos não têm a ver com o sentido original do projeto e poderiam ter efeitos colaterais, como aumentar a conta de luz:
Vetos relacionados à contratação compulsória de energia
O governo vetou dispositivos que obrigavam a contratação compulsória de montantes especÃficos de energia em diversas regiões do paÃs. A justificativa foi o impacto negativo nas tarifas de energia, que aumentariam os custos para consumidores residenciais e para o setor produtivo. Além disso, a contratação compulsória de fontes fósseis, como termelétricas a carvão, foi considerada incompatÃvel com os compromissos internacionais de mitigação climática e descarbonização.
Impacto tarifário e insegurança jurÃdica
Os dispositivos que ampliavam subsÃdios ou alteravam critérios para prorrogação de contratos, como os do Programa de Incentivo à s Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), foram vetados por implicarem maior custo nas tarifas. O governo também apontou insegurança jurÃdica em mudanças retroativas de Ãndices de correção de contratos, o que poderia desestimular investimentos no setor energético.
Incompatibilidade com a transição energética
Itens que obrigavam a contratação de fontes fósseis, como carvão e gás natural, foram vetados por estarem desalinhados com as polÃticas públicas de transição energética e com o compromisso do Brasil de adotar uma matriz energética mais limpa. O governo destacou a necessidade de priorizar tecnologias renováveis e inovadoras.
Vetos à contratação de tecnologias incipientes
O governo rejeitou a obrigatoriedade de contratação de energia a partir de fontes ainda em desenvolvimento, como hidrogênio lÃquido. A decisão baseou-se na incerteza dos custos dessa geração e no risco de onerar os consumidores com tarifas mais altas antes da maturidade dessas tecnologias.
Redução de impactos tarifários estruturais
Um dos vetos bloqueou a aplicação de recursos para modicidade tarifária que poderiam comprometer investimentos estruturais, como a interligação da Amazônia Legal ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O governo ressaltou a prioridade de projetos que reduzam custos de longo prazo para o sistema energético.
Inflexibilidade em cronogramas de contratação
Dispositivos que obrigavam a contratação de montantes energéticos em prazos fixos foram vetados por dificultar a adaptação às novas tecnologias e fontes limpas. O governo argumentou que a flexibilização é essencial para aproveitar inovações que possam surgir e reduzir custos ao longo do tempo.
Alterações em prazos de microgeração e minigeração distribuÃda
Foi vetada a ampliação dos prazos para inÃcio da injeção de energia por agentes de microgeração e minigeração distribuÃda. A medida, segundo o governo, causaria impactos tarifários e prejudicaria a expansão da infraestrutura elétrica, aumentando o custo do sistema.
Destinação de recursos já utilizados
A proposta de redirecionar recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para dÃvidas como a Conta-Covid foi vetada, pois essas contas já foram quitadas por medidas anteriores. O governo ressaltou a importância de evitar sobreposição de destinações financeiras e preservar a eficiência na aplicação de recursos públicos.
Esses vetos, fundamentados em critérios técnicos e econômicos, refletem a busca por equilÃbrio entre a proteção dos consumidores, a sustentabilidade ambiental e o compromisso com a transição energética.
g1
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