Setembro 28, 2024

Bastidores da sucessão na Câmara têm articulação de pré-candidatos e espera por Lira em disputa sem favorito

Em meio ao prazo inicialmente estabelecido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para anunciar qual nome terá seu apoio na sucessão pelo comando da Casa, a disputa segue sem um favorito claro e três deputados do Centrão insistem que não vão desistir.

Embora um nome tenha a preferência de Lira, o de Elmar Nascimento (União-BA), a falta de certeza sobre seu sucesso tem se tornado uma dor de cabeça para o alagoano, segundo parlamentares.

Enquanto isso, os outros dois pré-candidatos “correm por fora” e buscam estratégias para ganhar apoio: Antonio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

Segundo aliados de Lira, o presidente da Câmara queria “cumprir um ritual” antes de fazer o anúncio: tratar do tema com o presidente da República, em uma espécie de reverência e, também, numa tentativa de fazer com que o governo não interfira na disputa. A reunião aconteceu nesta quarta-feira (28).

Os candidatos

Elmar Nascimento (União-BA)
Uma fonte próxima ao presidente da Câmara garante que Elmar será o nome escolhido por Lira.

Hoje líder do maior bloco da Câmara, que reúne oito partidos, Elmar tem o mesmo perfil de Lira, assertivo e não tão aberto ao diálogo, o que não agrada muito os parlamentares do chamado “baixo clero”.

Além disso, sofre resistências de uma ala petista da Bahia e por parte dos governistas, que não confiam em deixá-lo no comando da Câmara por dois anos.

Por outro lado, Elmar é visto como um nome “combativo” e que pode proteger os interesses dos deputados frente ao Executivo em temas como emendas parlamentares e mais espaço na Esplanada.

Para reduzir resistências do governo, Elmar conseguiu “furar a bolha” do Centrão e recebeu a sinalização de apoio de dois partidos do campo progressista: o PDT e o PSB.

Mas, ainda não há certeza sobre a federação PT/PCdoB/PV. Um parlamentar do grupo disse que os três partidos combinaram de escolher juntos e não devem anunciar separadamente a escolha, ainda que as opiniões sejam divergentes.

Antonio Brito (PSD-BA)
Já Antonio Brito tem a preferência da maior parte dos governistas e é visto como um perfil que pode facilitar a atuação do Palácio do Planalto, depois de dois anos não tão harmoniosos com Lira na condução.

Se por um lado o perfil de Brito ganha a simpatia do governo, por outro há o receio de uma postura “submissa”, que não bate de frente com o Executivo em nome dos deputados.

Aliados de Brito, contudo, fazem questão de lembrar que ele também é próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que recentemente o presenteou com uma medalha que só é dada a aliados mais próximos.

Apesar de mais carismático, há quem diga que Brito está na sombra de Gilberto Kassab, presidente do PSD, e “ninguém quer o Kassab no comando da Câmara”, como definiu um deputado.

Marcos Pereira (Republicanos-SP)
Presidente do Republicanos, Marcos Pereira é o atual vice-presidente da Câmara e, segundo pessoas próximas, aguarda há muitos anos a possibilidade de concorrer ao posto mais alto da Casa.

Pereira e Lira já conversaram sobre a disputa nesta semana. Como fez chapa com o presidente da Câmara nas últimas eleições, havia certa expectativa de que o deputado tivesse seu apoio no futuro — o que não é a aposta de aliados do atual presidente da Casa.

O conteúdo da reunião, no entanto, não foi divulgado pelos deputados.

A favor de Pereira está o fato de ter um perfil conciliador, com bom trânsito entre governo e oposição. Mas nos últimos meses deu declarações que desagradaram parlamentares ligados ao ex-presidente Bolsonaro e, integrante da Igreja Universal, sofre rejeição de outros grupos evangélicos.

Um encontro em Brasília na última terça-feira (27) é visto como um movimento de apoio ao seu nome.

O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia — que sofreu uma derrota para Lira na eleição para a presidência da Câmara em 2021, quando não conseguiu eleger seu sucessor, Baleia Rossi (MDB-SP) — reuniu alguns integrantes do MDB, Republicanos e PSD, entre eles Brito e Pereira.

Embora não admitam, há quem diga que os três partidos poderiam se unir para uma eventual derrota de Elmar, especialmente se houver segundo turno na disputa.

Além dos três nomes que garantem a candidatura, outros deputados também são lembrados para concorrer, como Isnaldo Bulhões (MDB-AL), Hugo Motta (Republicanos-PB) e Dr. Luizinho (PP-RJ).

Por que o governo ‘não quer se meter’?
Em reunião com líderes partidários nesta semana, Lula disse que não vai interferir na eleição da Câmara, nem vetar o nome escolhido por Lira.

Defendeu, ainda, que Lira tem o direito de escolher seu sucessor, assim como ele próprio quer fazer o seu na presidência da República.

Aliados de Elmar enxergam na fala um “sinal verde” ao seu nome. Ainda assim, há um receio de que a imagem de Lira se desgaste caso o governo entre na briga num momento mais próximo da eleição.

Quem defende a distância do governo na corrida lembra de dois casos emblemáticos e que deram dor de cabeça aos governos petistas: em 2005, quando Severino Cavalcanti venceu a disputa contra o nome apoiado pelo presidente Lula, Luiz Eduardo Greenhalgh, e em 2015, quando Eduardo Cunha venceu o candidato de Dilma Roussef, Arlindo Chinaglia.

Briga pelas emendas
A briga pelas emendas parlamentares também entrou no centro da disputa pela eleição da Câmara, desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu suspender o pagamento dos recursos até que sejam aprovadas regras de transparência.

Por um lado, parlamentares próximos a Lira avaliam que sua postura combativa com o STF reforça a popularidade do presidente e seu perfil de defensor da Casa.

Segundo essa avaliação, a defesa que Lira faz das emendas foi importante não só para reforçar os votos para seu sucessor como também para virar votos a seu favor, principalmente de quem está “machucado” com o presidente.

Um aliado diz que existe muita gente cansada do jeito duro de Lira e isso acaba pesando contra a imagem dele.

Por outro lado, a impossibilidade de utilizar esses recursos na composição de acordos para seu sucessor amarra o presidente da Câmara e pode atrapalhar seus planos, segundo parlamentares.

As emendas parlamentares, em especial as indicadas pelas comissões, são uma ferramenta de poder dentro da Casa.

Votação secreta e com segundo turno
Como a eleição para a Mesa Diretora é secreta, os pré-candidatos têm em mente que não basta firmar acordos com as lideranças dos partidos, é preciso “conquistar o coração” dos deputados, inclusive os do “baixo clero”.

Segundo uma fonte que acompanha as negociações na Câmara, “na votação, estão apenas o deputado, a urna e as mágoas acumuladas com Lira e Elmar nos últimos 4 anos.”

Além disso, uma disputa acirrada pode empurrar a eleição para um segundo turno. Segundo o regimento da Casa, vence em 1º turno o candidato que tiver a maioria absoluta dos votantes — ou seja, se 400 deputados votarem, a disputa se encerra no 1º turno se um dos candidatos receber 201 votos.

Um eventual segundo turno é visto com receio por aliados de Lira. Há quem aposte que, neste cenário, Republicanos, PSD e MDB poderiam fazer uma “jogada casada”, ainda que ninguém admita, e que pode contar com a participação do governo.

Neste caso, o nome que for para o segundo turno com Elmar pode reunir mais votos e vencer.

Três eleições
Para aliados de Lira, o presidente da Câmara vive um momento de pressão não só pela sucessão, mas porque neste momento enfrenta três eleições: na Câmara, em Maceió, e em Barra de São Miguel, onde seu pai é prefeito.

Em Maceió, as preocupações são duas: o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), vice de João Henrique Caldas (PL-AL), era um aliado, mas se afastou nos últimos meses e protagonizou uma disputa com Lira durante a votação, no Senado, do projeto da taxação das compras internacionais; e Rafael Brito (MDB), candidato do seu adversário no estado Renan Calheiros (MDB-AL).

Lira também reforça a campanha eleitoral em Barra de São Miguel, onde seu pai, Benedito de Lira (PP-AL), é prefeito e tenta a reeleição. A manutenção do comando do município na mão da família é central para Lira.

Em meio a tantas disputas e traumas de ex-presidentes da Câmara — que caíram no esquecimento ou tiveram complicações judiciais —, segue a tentativa de Lira em manter sua influência já que, nas palavras de um aliado, “a política costuma ser ingrata”.

g1
Portal Santo André em Foco

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