A ministra das mulheres, Cida Gonçalves, defendeu nesta sexta-feira (2) que a luta contra o feminicídio no país depende também de uma mudança de comportamento da sociedade brasileira, inclusive, com o combate a falas e 'piadas' machistas.
A chefe da pasta comentou, durante um café com jornalistas nesta manhã, as gafes cometidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista fez declarações inapropriadas sobre mulheres em discursos públicos recentemente.
Em julho, Lula chegou a afirmar que considera "inacreditável" o aumento da violência contra a mulher após jogos de futebol, mas disse que “se o cara é corinthiano, tudo bem”, durante uma reunião no Palácio do Planalto.
Cerca de um mês antes, o presidente também alegou ter dito a uma mulher de 25 anos, mãe de três filhos, que ela deveria parar de ter crianças, durante um evento de entrega de obras do programa Minha Casa Minha Vida.
Cida Gonçalves afirmou que pretende conversar com o presidente, assim que encontrá-lo, para lembrar que "piadinha, nem o presidente da República", declarou.
"A pessoa decide fazer uma piadinha porque acha que com essa piadinha melhora as coisas, né? Diminui o impacto da notícia do que você está dando. Aí o que eu tenho dito é, que piadinha nem o presidente da República. Não dá para aceitar piadinha de nada nem de ninguém", frisou a ministra.
Ela então completou: "Eu vou falar para ele, quando eu encontrar com ele – acho que a [primeira-dama] Janja já falou, e muitas mulheres também devem ter falado – mas nós precisamos fazer uma mudança de comportamento e de cultura, das formas com que nós trabalhamos e pensamos".
De acordo com a chefe da pasta, as pessoas devem voltar a "não aceitar brincadeirinha nem de negro, nem de gordo, nem de imigrante, nem de mulher, nem piada homofóbica".
"A gente precisa começar a ideia de construir uma mobilização pelo feminicídio zero, tem que começar inclusive aí, a prevenção passa por aí. Não faça piada com aquilo. Eu acho que é um processo que a gente vai ter que reconstruir no nosso país, vai ter que reconstruir com nossos homens e com as nossas lideranças", frisou.
Feminicídio zero
Durante a conversa com jornalistas, Cida também anunciou que a pasta busca estabelecer um diálogo com mulheres evangélicas para uma mobilização nacional que busca zerar o feminicídio no país.
Segundo a ministra, o diálogo com mulheres evangélicas já foi iniciado, mas as diretrizes serão traçadas em setembro.
“As pastoras evangélicas foi nosso primeiro contato, na verdade, a gente está nesse desafio faz tempo. Elas vão entrar [...] Vão levar para dentro das igrejas. [...] O que nós tiramos é que em setembro, possivelmente, a gente vai fazer um encontro ou virtual ou presencial com mais tempo para definir de fato quais são as ações, como é que pode chegar na base das igrejas nesse debate”, informou a ministra.
Além da busca do apoio do grupo ligado à religião, Cida informou que a pasta também buscou diálogo com times de futebol, empresas e movimentos sociais.
Em relação aos times, a ministra disse que apresentou dados de uma pesquisa feita pelo Fórum de Segurança Pública com o Instituto Avon em 2022 a dirigentes de clubes e a CBF.
De acordo com o estudo, o registro de boletins de ocorrência de ameaça contra mulheres aumenta 23,7% em dias em que um dos times da cidade joga e quando a partida acontece na própria cidade o aumento de registros de lesão corporal sobe 25,9%.
Foi a esse estudo que o presidente Lula estava se referindo, quando fez o comentário inadequado sobre a agressão contra mulheres após jogos de futebol.
g1
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