Novembro 26, 2024

Articulado por ala militar, aproximação entre Bolsonaro e Maia é jogo de sobrevivência política

O presidente Jair Bolsonaro deu sinal verde aos ministros Luiz Eduardo Ramos (Articulação Política) e Braga Neto (Casa Civil) na semana passada para organizarem uma visita de Rodrigo Maia ao gabinete de crise da Covid-19, no Palácio do Planalto, nesta semana.

Quem sabe, Bolsonaro passaria por lá? Seria o primeiro encontro do presidente da República e do presidente da Câmara em tom ameno, após muitas rusgas e manifestações antidemocráticas no caminho.

Nesta quinta-feira (14), dia da visita (veja imagens abaixo), Maia estava pronto para ir ao encontro dos ministros da ala militar quando foi surpreendido com a fala de Bolsonaro a empresários pela manhã. Sem citar Maia, Bolsonaro deu uma indireta ao deputado: parecia que ele queria quebrar o País.

Maia, ao tomar conhecimento da fala, pensou em não ir ao encontro palaciano, mas, novamente, foi convencido pelos ministros militares de que a reaproximação era importante. Neste momento, a importância se dá tanto para Bolsonaro quanto para Maia.

Para Bolsonaro, interessa a sinalização a Sergio Moro de que, mesmo se houver desdobramento do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), a Câmara não autorizará um processo de impeachment contra ele. Mas como vencer Moro politicamente sem ter Maia ao lado? Por isso, apesar das negativas oficiais, Bolsonaro autorizou a reaproximação com o presidente da Câmara neste momento.

Já Maia viu seu poder na Câmara ameaçado quando os principais expoentes do Centrão sentaram à mesa com Bolsonaro para negociar cargos. O Centrão, maior bloco na Câmara, é a base de sustentação de Maia na Casa, o que garantiu a sua reeleição. “Sem o centrão, não tem votação”, ironiza um líder.

Centrão cobra de Maia diálogo com Bolsonaro
Deputados do bloco passaram a cobrar Maia a respeito da falta de diálogo com Bolsonaro. Para dar uma resposta interna, então, Maia repensou o distanciamento do Planalto: também seria interessante à sua estratégia de sobrevivência política, incluindo a influência na sucessão da presidência da Câmara em 2021, passar aos líderes do Centrão que querem enfraquecê-lo a mensagem de que ele senta à mesa com Bolsonaro. Traduzindo: que não está isolado, como querem alguns líderes que estão de olho na sua cadeira.

Hoje, Bolsonaro está num casamento de ocasião com o Congresso. “Até a próxima postagem de um dos filhos atacando Maia, o Congresso”, diz um deputado.

Favorece o casamento de ocasião entre Bolsonaro e Congresso o fato de que o adversário de Bolsonaro hoje, o ex-ministro Sergio Moro, é persona no grata no Congresso. Como diz um ministro do governo: “se o seu inimigo é o nosso inimigo, então somos amigos”.

Não interessa, hoje, aos deputados e senadores da chamada “velha política”, com quem Bolsonaro negociou cargos, enfraquecer o presidente para fortalecer Sergio Moro. O temor do Congresso e de Bolsonaro é que o resultado de todo esse desgaste seja fazer o ex-juiz da Lava Jato se eleger presidente da República.

Sem ambiente para impeachment na Câmara
Por isso, por ora, não há ambiente para impeachment na Câmara. Como argumento, citam Augusto Aras, o procurador-geral da República, que defendeu só parte do vídeo vir a público para que o inquérito não vire “palanque político”.

Mas líderes políticos do Centrão fazem jus à fama de que não prometem fidelidade eterna ao Planalto e reforçam nos bastidores que não há clima “por ora”. Eles pontuam que o "combo" dos próximos meses será definidor do clima político. Além do inquérito no STF, o desemprego, a crise social pós-pandemia e, acima de tudo, as mortes por conta da pandemia do coronavírus precisarão de respostas e explicações dos políticos.

As bases políticas locais vão pressionar seus representantes no Congresso e, como nenhum deputado ou senador chegou ao Congresso “por sorteio”, devem explicações ao eleitor.

Por isso, por ora, o encontro Bolsonaro e Maia de quinta-feira, na avaliação de fontes ouvidas pelo blog, não garante ao Planalto que não haverá impeachment no Congresso de hoje até 2022. A reunião, sim, serviu para diluir a “paranoia” do presidente de que Maia conspira contra o seu governo no momento, como relataram líderes do centrão ao Planalto.

No entanto, o encontro não garante que não haverá impeachment a médio prazo: garantir isso seria “futurologia”, como diz um parlamentar influente. O encontro garantiu a foto com a legenda de que, por ora, Bolsonaro e Congresso estão juntos contra o fortalecimento de Moro, uma espécie de “nós contra ele”.

G1
Portal Santo André em Foco

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