Alberto Fernández, que foi eleito presidente da Argentina no fim de outubro, tomou posse nesta terça-feira (10) em Buenos Aires. Além dele, Cristina Kirchner assumiu seu novo cargo como vice-presidente –foi ela que escolheu Fernández como cabeça de chapa para concorrer nas eleições deste ano.
Em seu discurso de 28 páginas, ele falou sobre os seguintes temas:
O novo dirigente disse como pretende renegociar a dívida do país. “Não há pagamento de dívida que se possa sustentar se o país não cresce. É simples assim: para poder pagar, é preciso crescer”, afirmou.
O país tem vontade de pagar, mas carece da capacidade de fazê-lo, discursou. Fernández afirmou que vai buscar uma relação "construtiva e cooperativa com o Fundo Monetário Internacional" e com os credores.
Reforma da Justiça
Cristina Kirchner é investigada em nove casos judiciais –eram 11, mas, em dois, a Justiça não a tornou ré.
Ao lado da ex-mandatária, Fernández afirmou que o sistema é parcial, e prometeu uma reforma Judicial. "Nós vimos uma deterioração judicial nos últimos anos. Vimos perseguições indevidas e detenções arbitrárias induzidas por governantes e silenciadas por certa complacência midiática", afirmou.
Em um dos momentos mais exaltados de seu discurso de posse, Fernández disse que deu um "nunca mais" a uma Justiça “contaminada por serviços de inteligência, operadores judiciais, procedimentos obscuros e linchamentos midiáticos”.
Brasil no discurso
O novo presidente da Argentina citou o Brasil em sua posse.
"Com a República Federativa do Brasil, particularmente, temos que construir uma agenda ambiciosa, inovadora e criativa em temas de tecnologia, produção e estratégia, que esteja respaldada pela irmandade histórica de nossos povos que é mais importante que qualquer diferença pessoal de quem governa a conjuntura", disse ele.
Foi o único país citado nominalmente em 28 páginas do texto –ao discursar, no entanto, ele falou do Chile, para dizer que ofereceu ajuda a Sebastián Piñera nas buscas por um avião que desapareceu perto da Antártica.
Dirigiu até a cerimônia
A cerimônia começou quando Fernández recebeu uma escolta em sua casa, no bairro de Puerto Madero e dirigiu seu próprio carro até o Congresso.
No prédio do Congresso, a primeira a falar foi a vice-presidente do governo de partida, Gabriela Michetti. O novo presidente da Câmara, Sergio Massa, içou uma bandeira argentina e os nomes dos deputados e senadores foram anunciados.
Fernández e Cristina Kirchner assinaram um livro de honra e foram para a Câmara dos Deputados para serem juramentados por Michetti.
Ele prestou juramento, no qual disse que vai observar a Constituição do país. Foi seguido por Cristina, que também pronunciou as palavras sobre suas obrigações.
Quando Mauricio Macri entrou no Congresso, parte dos presentes no Congresso começou a cantar a marcha peronista (movimento politico ao qual a chapa vencedora pertence).
Fernández então recebeu a faixa e o bastão presidenciais de Macri.
Cristina Kirchner convidou Fernández a fazer seu primeiro discurso.
Fernández, ao fazer seu discurso, disse que o dia 10 de dezembro marca o fim da ditadura –o primeiro presidente civil, Raul Alfonsin, assumiu nessa data de 1983.
Ele agradeceu a "generosidade" de Cristina, a quem ele chamou de amiga e pediu para lembrar de seus pais e Néstor Kirchner.
Vice-presidente Mourão
Depois do Congresso, partiu para a Casa Rosada, onde recebe representantes de outros países.
O vice-presidente Hamilton Mourão, é a autoridade do Brasil presente.
Jair Bolsonaro chegou a dizer a interlocutores que não mandaria representantes do governo brasileiro para a posse, de acordo com o blog de Gerson Camarotti. Mourão disse, na terça (10), que a importância da economia argentina foi um dos fatores que pesaram para que o presidente brasileiro decidisse enviar um representante.
De acordo com Mourão, Bolsonaro levou em consideração o fato de a Argentina ser o terceiro parceiro comercial do Brasil. Segundo o vice-presidente, o Brasil não atingiu algumas das metas econômicas em 2019 por conta da crise do país vizinho.
"É um gesto político do presidente enviar o vice-presidente para representá-lo aqui nessa cerimônia", disse ele.
Pelo Uruguai, foram Tabaré Vázquez, o atual presidente, e Luis Lacalle Pou, que foi eleito, e o ex-presidente José "Pepe" Mujica (ele é casado com a atual vice-presidente do país). Mario Abdo, do Paraguai, e Miguel Díaz-Canel, de Cuba, também estiveram presentes.
Sebastián Piñera, do Chile, deixou de viajar por causa do desaparecimento de um avião da Força Aérea do pais.
Finalmente, participaram ainda Rafael Correa, ex-presidente do Equador, e Fernando Lugo, ex-líder do Paraguai.
Posse e festa
À tarde , Fernández vai dar posse aos seus ministros na Casa Rosada. Do lado de fora, na Praça de Maio, haverá shows de mais de 20 cantores ou conjuntos musicais.
Espera-se que Fernández e Kirchner participem da festa depois do fim dos protocolos formais do lado de dentro.
Trajetória do novo presidente
Fernández é um peronista, corrente política ligada ao general Juan Perón, que foi presidente da Argentina duas vezes na década de 1950 e uma terceira nos anos 1970.
Ele promete "pôr o país de pé de novo", após um período de recessão, de inflação alta e de aumento do desemprego e da pobreza.
Advogado de 60 anos, ele usa como credenciais para governar sua experiência como chefe de gabinete no governo de Néstor Kirchner (2003-2007) e durante o primeiro ano do primeiro mandato de Cristina Kirchner (2008), a vice-presidente que vai liderar o Senado e que impulsionou sua candidatura, escolhendo-o para encabeçar sua chapa.
Nas eleições, Fernández derrotou Mauricio Macri, que estava no poder desde 2015, no primeiro turno.
Nova família presidencial
O novo presidente tem 60 anos, e namora Fabiola Yañez, de 38. Os dois vão se mudar para a residência oficial, em Olivos. O seu cachorro Dylan, um collie, também vai para a nova casa.
Fernández tem um filho, Estanislao, de um relacionamento anterior, que se apresenta como drag queen em festas em Buenos Aires com o nome Dyhzy.
O lenço do bolso do paletó do filho do novo presidente tem as cores do arco-íris, um dos símbolos LGBTIQ.
G1
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