O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou nesta segunda-feira (2), em uma rede social, Brasil e Argentina de desvalorizarem "maciçamente" suas moedas, e afirmou que vai reinstalar as tarifas de importação sobre o aço e o alumínio dos dois países.
"Brasil e Argentina têm presidido uma desvalorização maciça de suas moedas. O que não é bom para nossos agricultores", escreveu Trump em uma rede social. "Portanto, com efeito imediato, restaurarei as tarifas de todo o aço e o alumínio enviados para os EUA a partir desses países."
Trump ainda usou a oportunidade para criticar o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano.
"O Federal Reserve deveria agir da mesma forma, para que países, que são muitos, não se aproveitem mais do nosso dólar forte, desvalorizando ainda mais suas moedas. Isso torna muito difícil para nossos fabricantes e agricultores exportarem seus produtos de maneira justa", disse ele, que frequentemente tem defendido juros mais baixos nos Estados Unidos.
Ainda na manhã desta segunda, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que falará com Trump sobre o anúncio referente às tarifas.
Na Argentina, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores disse que iniciará as negociações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos após a decisão do presidente Donald Trump.
O dólar passou a operar em leve queda nesta segunda, após abrir em alta.
Na tarde desta segunda, antes de embarcar para reunião da Otan em Londres, Trump voltou a dizer que vai sobretaxar o aço do Brasil e da Argentina. Ele acusou os dois países de desvalorizarem suas moedas "substancialmente", em 10%.
"Eu dei a eles [Brasil e Argentina] uma grande trégua nas tarifas, mas agora eu estou tirando essa trégua porque é muito injusto para a nossa indústria e muito injusto para os nossos produtores rurais. Nossas empresas de aço vão ficar muito contentes, e nossos fazendeiros vão ficar muito contentes", disse o presidente americano a jornalistas.
Desvalorização do real
Do início do ano até a última sexta-feira (29), o dólar já subiu 9,43% frente ao real, barateando as exportações brasileiras e aumentando a competitividade dos produtos do país lá fora. Somente em novembro, a alta foi de 5,73%.
O real foi a quarta moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar no mês de novembro, segundo levantamento da Austin Rating, com uma desvalorização de 5,2%. A moeda brasileira ficou atrás somente do bolívar soberano, da Venezuela (-36,1%), do kwacha, da Zâmbia (-9,3%), e do peso do Chile (-8,1%).
O ranking considera as variações de 121 moedas no mundo. No acumulado no ano, o Brasil ocupa a 13ª posição. A liderança é da Venezuela (-98,3%), seguida pela Argentina (-37,2%).
Analistas ouvidos pelo G1 rebatem a acusação de Trump de que Brasil estaria desvalorizando o real como uma política cambial e destacam que, entre os principais fatores que explicam uma disparada do dólar no país nas últimas semanas, está justamente a prolongada guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Exportações de aço e alumínio
O Brasil está entre os principais fornecedores de aço e ferro para os Estados Unidos.
Trump escreveu que a medida teria "efeito imediato", mas ainda não está claro se a sobretaxa dos produtos brasileiros será a mesma adotada temporariamente no ano passado (25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio) nem quando ela de fato passará a valer.
Em agosto de 2018, Trump anunciou um alívio nas cotas de importação de aço e alumínio que excedam as cotas livres do pagamento das sobretaxas que haviam sido impostas pelo governo dos Estados Unidos em março do mesmo ano. A decisão de flexibilizar a tarifa atingiu as cotas de aço da Coreia do Sul, Brasil e Argentina, além do alumínio da Argentina.
Desde então, as empresas americanas que compram aço do Brasil não precisam pagar 25% a mais sobre o preço original, caso comprovem falta de matéria-prima no mercado interno.
O Instituto Aço Brasil, que representa a indústria de aço no país, disse que recebeu "com perplexidade" o anúncio de que os Estados Unidos vão voltar a aplicar tarifas sobre o produto brasileiro. Para a entidade, o movimento é uma "retaliação" "que não condiz com as relações de parceria entre os dois países".
No caso do alumínio, a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) explica que o setor já pagam sobretaxa desde junho de 2018.
"Esse acerto foi ratificado no ano passado com o governo Trump, quando este abriu a possibilidade de substituir a sobretaxa por cotas limitadas de exportação. Na época, optamos pela sobretaxa e seguimos assim desde então", afirmou a entidade, em nota, destacando que ainda "não há nenhuma posição oficial do governo norte-americano" em relação a retomada da sobretaxa às exportações brasileiras de alumínio.
A sobretaxa do aço foi um dos primeiros capítulos da guerra comercial de Trump. Visando a atingir sobretudo a China, o governo americano impôs uma regra geral e, aos poucos, renegocia com cada país.
Em março do ano passado, o presidente americano impôs tarifa de 25% às importações de aço e de 10% às de alumínio alegando questões de segurança nacional. A decisão desencadeou uma série de retaliações pelo mundo e adoção de salvaguardas por outros países e blocos.
Na ocasião, a indústria brasileira classificou a sobretaxa à importação de aço e alumínio como medida 'injustificada e ilegal', com potencial de provocar "dano significativo" às siderúrgicas instaladas no Brasil, uma vez que o Brasil é o segundo maior fornecedor de ferro e aço dos Estados Unidos.
G1
Portal Santo André em Foco
Make sure you enter all the required information, indicated by an asterisk (*). HTML code is not allowed.