Moradores de diversas cidades na Bolívia relatam escassez de alimentos e gasolina por causa de protestos contra a queda do ex-presidente Evo Morales, que renunciou ao cargo pressionado pela oposição e por militares após denúncias de fraude nas eleições presidenciais de outubro.
O governo interino da Bolívia disse nesta segunda-feira (18) que os esforços para abastecer La Paz encontra dificuldades devido às barreiras instaladas nas estradas. A nova liderança também enfrenta obstáculos para estabelecer diálogo com os oponentes, principalmente depois da morte de nove apoiadores de Evo em confrontos com forças de segurança.
Furiosos com a repressão armada, partidários do ex-presidente pedem a renúncia de Jeanine Áñez, autoproclamada presidente interina da Bolívia. Vice-presidente do Senado, ela se lançou à liderança do país após as renúncias da linha sucessória de Evo.
Líderes da igreja boliviana anunciaram nesta segunda-feira planos de um diálogo com o enviado especial da Organização das Nações Unidos (ONU) Jean Arnault. Eles esperam a participação de militantes do Movimento ao Socialismo (MAS) – partido de Evo – e disseram que a conversa abordará novas eleições e um novo tribunal eleitoral.
La Paz fechada
O novo ministro de Hidrocarbonetos, Víctor Hugo Zamora, disse à rede de televisão boliviana ATB que o abastecimento de gasolina enfrenta dificuldades para chegar a La Paz por causa dos bloqueios de manifestantes.
Diversas lojas de La Paz estão fechadas, e as poucas ainda aberta cobram o dobro dos preços normais, relata a moradora Guillermina Chura.
"O que vamos dar às nossas famílias se as coisas continuarem desse jeito?", questionou Chura.
A vendedora Ana Gonzáles contou ter fechado a banquinha de vegetais que tinha nas ruas de La Paz por não ter nada a vender.
"Vou viver de quê?", indagou a comerciante.
Ela também diz que Evo, que está no México após obter asilo no país, deve agir para acalmar a situação. O ex-presidente tem condenado o governo interino e dito que foi vítima de um golpe de estado.
Além de La Paz, os bloqueios nas estradas também afetaram o comércio de Santa Cruz de La Sierra. Produtores dizem que frutas e outros vegetais estão estragando nos caminhões retidos antes de chegar aos mercados.
Estratégia de Evo
O grupo pró-Evo instalou os bloqueios nas estradas como parte de um esforço para desestabilizar o governo interino, afirmou o analista econômico Alberto Bonadona, professor na Universidade Maior de San Andrés.
A Defensoria Pública estima que ao menos 23 pessoas morreram nos protestos violentos desde as eleições de 20 de outubro. Evo declarou vitória após a votação, mas opositores denunciaram fraude e iniciaram grandes protestos.
Uma auditoria internacional liderada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) concluiu que houve irregularidades no processo eleitoral.
A crise na Bolívia expôs divisões étnicas, raciais e geográficas que muitos pensaram estar superada durante os 14 anos do governo de Evo, que introduziu uma constituição considerada mais inclusiva. Analistas dizem que o movimento para derrubar o ex-presidente partiu da revolta da classe-média urbana contra os esforços do político para permanecer no poder.
Associated Press
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