Novembro 27, 2024

Líder da oposição diz que Maduro tentou enganar Lula sobre eleições na Venezuela e cobra pressão de líderes internacionais

A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, afirmou que Nicolás Maduro tentou enganar o presidente Lula e o povo brasileiro sobre o resultado das eleições presidenciais da Venezuela. Em entrevista ao g1 na terça-feira (26) ela cobrou pressão de líderes internacionais para que Maduro deixe o poder.

Milhões de venezuelanos foram às urnas no dia 28 de julho para eleger o presidente do país para o período entre 2025 e 2031. Edmundo González foi o candidato da oposição após outros políticos — incluindo María Corina Machado — terem sido barrados de disputar o pleito.

Sem apresentar provas, o Conselho Nacional Eleitoral, alinhado a Maduro, afirmou que o atual presidente da Venezuela venceu as eleições com pouco mais de 50% dos votos.

A oposição, por outro lado, garante que González derrotou o atual presidente com ampla vantagem com base nos documentos impressos pelas urnas de votação. O Centro Carter, ONG americana que atuou como observador das eleições, também aponta González como vencedor.

Um membro da oposição venezuelana viajou para Brasília nesta semana para mostrar os documentos das urnas a autoridades. Reuniões foram marcadas com membros da diplomacia brasileira e do Congresso Nacional.

Maria Corina Machado, 57 anos, afirmou ao g1 que Maduro acreditava que poderia enganar Lula, vendo no presidente brasileiro um aliado internacional. No entanto, segundo ela, o petista tem adotado uma postura firme para apontar que houve fraude nas eleições venezuelanas.

"O Brasil é inquestionavelmente um líder na região. É um país que durante todos esses anos insistiu na validade das instituições democráticas. Maduro acreditou que poderia enganar Lula ou enganar o povo brasileiro, mas isso não aconteceu", afirmou.

"É um momento em que, com muita clareza e nitidez, todos os chefes de Estado, os governos, os líderes da América Latina de todas as posições ideológicas devem assumir uma posição única e unida."

Ainda durante a entrevista, a líder da oposição venezuelana afirmou que:

  • acredita que Edmundo González assumirá o governo em janeiro;
  • a oposição ofereceu uma transição negociada ao atual presidente;
  • há setores das Forças Armadas insatisfeitos com Maduro;
  • existem diferenças entre a situação atual e a de quando Juan Guaidó se autoproclamou presidente.

Acusada de uma série de crimes pelo Ministério Público da Venezuela, Maria Corina Machado disse que continua no país e sofre perseguições, assim como outros membros da oposição.

Por questões de segurança, ela preferiu não dizer se está asilada em uma embaixada. Em agosto, em um artigo no "The Wall Street Journal", Corina Machado afirmou que estava escondida por temer pela própria vida.

Troca de governo
No dia 10 de janeiro de 2025, a Venezuela terá uma cerimônia para anunciar quem ficará pelos próximos seis anos no poder. Maduro, que controla a Justiça e o Congresso, se prepara para assumir o terceiro mandato.

Na oposição, ainda há esperanças de que Edmundo González assuma o poder. Em entrevistas recentes, o oposicionista que está exilado na Espanha garante que vai voltar ao país para ser empossado.

Maria Corina Machado também acredita que há possibilidades de que o regime de Maduro termine em janeiro de 2025. Ela argumenta que tem provas de que González recebeu o maior número de votos. Sendo assim, pela Constituição, é ele quem deve governar o país.

"Evidentemente Maduro, até agora, resistiu e tentou aterrorizar um país e nos prender através da repressão, da intimidação. Mas a Constituição é a Constituição, e é isso que tem que acontecer", disse.

A líder venezuelana disse que a chapa de Edmundo González já conseguiu derrubar outras barreiras que pareciam difíceis de superar. Entre elas, vencer as eleições e conseguir reunir provas disso.

"Eu estou focada em conseguir um mandato para fazer cumprir a Constituição. Quando Maduro vai reconhecer isso? Pode ser antes de 10 de janeiro. Pode ser no dia 10 de janeiro ou até depois do mês de janeiro. Mas Maduro terá de reconhecer a verdade porque nós, venezuelanos, não vamos desistir."

Transição negociada
Em agosto, a oposição da Venezuela anunciou que ofereceria "garantias, salvo-conduto e incentivos" para que Nicolás Maduro faça uma transição de poder. A ideia seria uma negociação com o atual presidente, que inclusive já recebeu uma oferta de asilo político no exterior.

No mesmo mês, Maduro descartou negociar com a oposição e disse que Corina Machado tinha que se entregar à Justiça para responder "pelos crimes que cometeu".

Agora, a líder da oposição venezuelana afirma que Maduro deveria aceitar os termos de uma transição negociada "para o seu próprio bem" e evitar um cenário devastador na Venezuela.

"Dissemos que estamos dispostos a dar garantias nesta transição, com base no reconhecimento da soberania popular expressada em 28 de julho. O que nós venezuelanos queremos é o que é bom para o nosso país, o que é bom para os países vizinhos, o que é bom para todas as nações democráticas e também o que é bom para aqueles que hoje apoiam Nicolás Maduro", afirmou.

A líder da oposição destacou que o apoio internacional para a troca de poder na Venezuela é fundamental para pressionar o regime atual. Segundo ela, Maduro acredita que os crimes cometidos durante seu governo serão esquecidos, mas o mundo não virará a página tão facilmente.

Quando questionada sobre o que pode acontecer caso Maduro continue no poder, Corina Machado disse: "Acredite, será mais difícil para Maduro do que para nós".

"Ele tornaria realidade o golpe de Estado mais cruel da história deste país e ficará absolutamente isolado e sozinho em condições cada vez mais difíceis ou impossíveis de sustentar. Ele não tem mais nada, ele não tem mais ninguém. Ninguém acredita nele", afirmou.

Militares insatisfeitos
A líder da oposição venezuelana afirmou que o regime de Nicolás Maduro só continua de pé por causa da atuação das Forças Armadas, que têm forte influência chavista.

"Vemos como em todos os cargos governamentais há algumas figuras das Forças Armadas porque Maduro sabe que isso é a única coisa que lhe resta."

Por outro lado, Corina Machado disse que existe um descontentamento crescente nas bases militares. Nas eleições de 28 de julho, por exemplo, membros das Forças Armadas tiveram papeis decisivos para que a oposição conseguisse reunir as atas das urnas eleitorais, segundo ela.

"Essas pressões dentro das Forças Armadas crescem porque eles entendem que com Maduro não há futuro. Nós estamos oferecendo um governo democrático no qual todos os venezuelanos poderão se encontrar e fortalecer nossas instituições, começando por uma força armada profissional e bem treinada", concluiu.

Guaidó no passado
Os Estados Unidos e outros países já reconheceram Edmundo González como presidente eleito. No entanto, essa não é a primeira vez que membros da comunidade internacional tentaram buscar uma alternativa diplomática a Maduro.

Em 2019, o oposicionista Juan Guaidó se autodeclarou presidente da Venezuela. O governo dele foi reconhecido por diversos países, inclusive o Brasil. Ainda assim, o mandato de Guaidó não teve efeito prático e acabou sendo dissolvido pela própria oposição em 2022.

Corina Machado acredita que há diferenças entre 2019 e o que acontece atualmente. A primeira delas é que Edmundo González concorreu nas eleições presidenciais, recebendo a maioria dos votos, conforme dados coletados pela oposição. Já Guaidó, segundo ela, se autoproclamou em meio a um vazio de poder.

Ela também elencou mudanças dentro da própria Venezuela nos últimos cinco anos, afirmando que o regime de Maduro está mais frágil hoje.

"Era um regime tinha recursos econômicos e que os usava para comprar, persuadir, manipular ou enganar. Isso já não é possível. O chavismo colapsou no dia 28 de julho, não tem mais capacidade de controle social para manipular a sociedade. Não tem dinheiro", afirmou.

"Mas o mais importante é que nunca tivemos um país tão unido. Hoje podemos mobilizar cidadãos em 500 cidades de todo o mundo no mesmo dia. Temos uma liderança legitimada, primeiro através das primárias e depois através das eleições presidenciais. Nunca estivemos tão fortes como hoje."

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Portal Santo André em Foco

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