A realidade de um espaço comum europeu, que norteia a União Europeia há quase quatro décadas, vem se dissipando ultimamente com controles temporários das fronteiras em oito de seus Estados-membros, pressionados pelo fluxo migratório.
No centro do continente e cercada por nove países, a Alemanha adotou, a partir desta segunda-feira (16), o controle mais rigoroso em seus 3.621 quilômetros de fronteiras.
A medida põe o Espaço Schengen, a área que isenta de passaportes cerca de 420 milhões cidadãos de 29 países, numa nova era de incerteza. Há duas semanas, a coalizão de centro-esquerda liderada pelo chanceler Olaf Scholz balançou com os resultados da extrema direita em duas eleições estaduais.
O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve o primeiro lugar na Turíngia e o segundo na Saxônia.
Para evitar, no próximo domingo, um novo desastre em Brandemburgo, onde as pesquisas indicam que o AfD lidera o social-democrata SPD, do impopular Scholz, o governo achou por bem adiantar-se e endurecer as regras de imigração e a fiscalização das fronteiras.
Em princípio, a medida vai vigorar por seis meses, até março do próximo ano, o que equivale dizer que o tráfego de pessoas e veículos nesses postos será mais moroso.
“Precisamos proteger ainda mais nossas fronteiras nacionais até que consigamos uma proteção de fronteira mais forte com o sistema europeu de asilo”, argumentou a ministra do Interior, Nancy Faeser.
Dos 1,1 milhão de pedidos de asilo recebidos pela União Europeia no ano passado, 340 mil vieram da Alemanha. Dias antes das eleições regionais, um ataque terrorista perpetrado por um imigrante sírio, que teve o pedido de asilo rejeitado, matou três pessoas a facadas em Solingen, no Norte de Dusseldorf.
O debate interno recrudesceu a ponto de Scholz endurecer as normas para a entrada de migrantes no país, revertendo a política da ex-chanceler Angela Merkel, de 2015, que permitiu o ingresso de mais de 1 milhão de refugiados. O objetivo é reduzir a imigração irregular e deportar quem não está apto a ingressar no país.
E também apaziguar o eleitorado.
Os controles de fronteiras no Espaço Schengen são previstos em emergências, como ocorreu, por exemplo, durante a pandemia ou em atentados terroristas.
Ultimamente, porém, países como Itália, Noruega, Hungria, Suécia, Eslovênia e Dinamarca, invocaram dados sobre crime organizado, atividade terrorista e as guerras na Ucrânia e Oriente Médio para ampliar a vigilância em suas fronteiras e coibir o fluxo de imigrantes.
O monitoramento dos postos e a exigência de passaportes são música para os ouvidos de líderes da extrema direita da UE — o premiê húngaro Viktor Orbán, a francesa Marine Le Pen e o holandês Geert Wilders, entre eles. A controversa adesão da Alemanha ao controle de suas fronteiras compromete a unidade europeia e implica também na falta de confiança em seus parceiros para fiscalizá-las.
France Presse
Portal Santo André em Foco
Make sure you enter all the required information, indicated by an asterisk (*). HTML code is not allowed.