Setembro 17, 2024

Kamala amplia liderança sobre Trump em pesquisa de intenção de voto feita após debate

A candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, ampliou a liderança das intenções de voto sobre o republicano Donald Trump após o debate eleitoral entre os dois, segundo um levantamento da agência de notícias Reuters e do Instituto Ipsos divulgado nesta quinta-feira (12).

Harris tem 47% das intenções de voto, contra 42% de Trump, segundo uma nova pesquisa de intenção de voto Reuters/Ipsos, a primeira do instituto realizada após o debate. A diferença é um ponto percentual maior que a registrada no último levantamento feito pelo mesmo instituto, no fim de agosto.

Na ocasião, 45% dos entrevistados disseram que votariam na vice-presidente, contra 41% que manifestaram apoio a Trump.

A pesquisa Reuters/Ipsos ouviu 1.690 pessoas entre quarta-feira (11) e esta quinta, entre elas 1.405 eleitores registrados — nos EUA, o voto não é obrigatório, e os cidadãos têm de fazer um registro a cada pleito para poder votar — e tem margem de erro de três pontos percentuais.

O levantamento também perguntou aos eleitores quem foi melhor no debate, e 53% deles disseram ter achado que Kamala Harris venceu o enfrentamento, contra 24% que opinaram que Trump se saiu melhor. Os 23% restantes disseram achar que nenhum dos dois foi bem.

Debate
O primeiro debate entre Donald Trump e Kamala Harris, na noite de terça-feira (10), foi marcado por trocas de acusações em temas centrais da corrida à Casa Branca e pelo tom mais assertivo de Harris, que empurrou o adversário para a defensiva e conseguiu se impor até em temas mais confortáveis para Trump, como imigração e economia.

Enfática e expressiva, Kamala Harris investiu em ataques a Trump e procurou se desassociar de Joe Biden ao mesmo tempo em que defendeu seu governo. Com oratória segura, ela também evocou seu passado como procuradora-geral, deixando de lado dúvidas sobre se conseguiria lidar com acusações de Trump. E, mesmo sem o apoio de sua equipe e de anotações prévias, que não puderam entrar no auditório do debate, conseguiu dar respostas rápidas.

Segundo levantamento do jornal "The New York Times", Trump passou a maior parte do debate, de pouco mais de 90 minutos, se defendendo de ataques da adversária, ao contrário do enfrentamento que teve em junho contra o presidente Joe Biden. Na ocasião, o republicano foi quem mais fez ataques.

Donald Trump, que começou o debate repetindo o tom mais calmo que adotou no cara a cara contra Biden, também foi optando por falas mais agressivas ao longo do enfrentamento em reação a provocações constantes da adversária.

Ele tentou atrelar a democrata a Joe Biden, buscando tirar proveito do mau desempenho do presidente. "Ela é Biden. Ela está querendo se afastar de Biden, mas ela é Biden", disse.

"Claramente, eu não sou Biden, e certamente não sou Donald Trump. Estou querendo oferecer uma nova geração de líderes aos americanos", retrucou Kamala Harris. "Deixe eu te lembrar que você não está concorrendo com o Joe Biden. Você está concorrendo comigo."

A atual vice-presidente dos EUA disse ter passado os quatro últimos anos "limpando a bagunça de Donald Trump". Ela o acusou de deixar o governo com altas taxas de desemprego e com uma política externa desastrosa, além de ter criticado sua gestão da pandemia.

Aborto, transgêneros e armas
Kamala foi especialmente enfática e cresceu no debate ao ser questionada sobre aborto. Disse que seu adversário vai liderar um "plano nacional para banir o direito ao aborto", o que Trump negou.

O ex-presidente acusou a adversária de "querer fazer operações transgênero pelo país", chamou-a de "marxista" e disse que os EUA se tornarão "uma Venezuela com anabolizante" caso Harris vença. Ele também a acusou de ter um plano para "confiscar as armas de todo mundo", o que a democrata não só negou como retrucou dizendo que ela própria e seu candidato a vice, Tim Walz, têm armas.

"Kamala e eu somos portadores de armas. Nós não vamos retirar seus direitos protegidos pela Segunda Emenda (da Constituição). Só vamos impedir que seus filhos sejam baleados na escola", disse Walz, após o debate.

Também depois do debate, a equipe de Donald Trump se queixou das correções feitas pela rede de TV ABC, organizadora do evento e que fez checagens em tempo real. O próprio Trump afirmou ter achado o mesmo e disse que o debate "foi um 3 contra 1", sugerindo que os dois apresentadores estariam do lado de Kamala Harris.

Discurso anti-imigração de Trump
Além dos ataques, o republicano insistiu em discursos voltados ao seu eleitorado, como o de que o país está sendo "invadido" por criminosos estrangeiros.

Em cinco ocasiões diferentes, Trump repetiu o discurso anti-imigração, desvirtuando de outros temas. Chegou a dizer que imigrantes estão comendo cachorros de norte-americanos, fala que foi seguida de uma risada alta de Kamala Harris e de uma correção quase imediata dos apresentadores.

Primeiro encontro frente a frente
O enfrentamento foi também o primeiro encontro entre o republicano e a democrata, que nunca haviam ficado frente a frente ao vivo. Antes mesmo do início do debate, quando entraram no estúdio, Kamala Harris adotou uma postura mais assertiva. Caminhou até o púlpito do candidato republicano, estendeu a mão e disse: "bom te ver".

Para Kamala Harris, o debate foi a primeira e, talvez, a única oportunidade de se apresentar para o público geral e de tentar fazer chegar ao eleitorado de Trump o discurso de que seu rival, um bilionário, só governará para si mesmo, enquanto ela, uma ex-procuradora-geral, seguirá pensando no povo. Uma pesquisa do "The New York Times" afirmou que 28% dos eleitores não sabem bem quem ela é.

Ao responder à primeira pergunta, sobre economia, ela disse "vim da classe média e seguirei governando para a classe média", enquanto, segundo Kamala, Trump "governará para ele mesmo". "Meus valores não mudaram", afirmou a democrata, que se esquivou ao ser questionada sobre se a economia do país estava melhor agora do que há quatro anos. Ela disse apenas que reduzirá taxas para a compra de imóveis.

Raça
Como esperado, Donald Trump evitou ataques pessoais a Kamala Harris, mas foi perguntado pelos apresentadores por que questionou a identidade racial da adversária durante um comício em julho.

"Eu não ligo para o que ela é, não podia me importar menos. Eu disse aquilo porque li que ela não disse que era branca", disse o republicano.

Harris, que também tem evitado explorar demais as questões de raça e gênero, aproveitou o momento para evocar o passado "racista" de Trump. "É uma tragédia que tenhamos alguém que queira ser presidente e que tenta usar a raça para dividir o povo americano. Não queremos essa abordagem, especialmente sobre raça", disse.

Guerra em Gaza e na Ucrânia
Quando os temas de Israel e da guerra em Gaza foram colocados no debate, as atenções se voltaram para Kamala Harris. Os comícios dela têm sido alvo de protestos pró-Palestina por conta do apoio que o governo de Joe Biden tem dado a Israel desde o início do conflito.

Em uma fala repetida e sem riscos, a democrata disse apoiar o direito de defesa de Israel, mas afirmou acreditar que "vidas inocentes demais foram perdidas em Gaza", e que, por isso, defende o acordo de cessar-fogo e a solução de dois Estados.

Trump foi mais enfático ao falar sobre o tema: "Se eu fosse presidente, a guerra nunca teria começado. Se eu fosse presidente, a Rússia nunca teria invadido a Ucrânia. Eu conheço o Vladimir Putin muito bem".

Ele também acusou Harris de "odiar Israel e a população árabe".

Aproveitando o gancho aberto pelo próprio adversário ao mencionar Putin, a democrata disse que "é sabido que ele admira ditadores" e afirmou que, se a guerra na Ucrânia tivesse ocorrido na gestão de Trump, o presidente russo estaria "sentando em Kiev olhando para a Europa" e teria "almoçado" o republicano.

Ainda sobre o conflito na Ucrânia, Trump disse que tem "um bom relacionamento" tanto com Putin quanto com presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e prometeu que dará um fim à guerra caso seja eleito. Já Biden, afirmou o republicano, não tem boa relação com nenhum dos dois.

Kamala isolada e em treinamento
Antes do debate, a vice-presidente democrata passou o fim de semana reclusa em intenso treinamento com especialistas em debates. A ideia era prepará-la para as regras rígidas do debate — os candidatos não puderam nem levar anotações nem se comunicar com suas equipes — e para um desempenho bem mais confiante e assertivo que o de Joe Biden, em junho.

Na ocasião, o atual presidente norte-americano, também sem anotações prévias ou comunicação com sua equipe, teve um desempenho muito ruim: confundiu temas, mostrou-se apático e deu o pontapé para uma enxurrada de pedidos para que desistisse da corrida eleitoral, o que ele acabou fazendo cerca de um mês depois.

Trump: sem treinamento
Já Trump, experiente em debates e em oratória, disse que não se preparou para o enfrentamento e escolheu passar os últimos dias fazendo campanha nos chamados estados-chave, nos quais o apoio para um partido ou outro variam de acordo com as eleições.

Esse foi o principal motivo, inclusive, para que o local do debate fosse definido: o enfrentamento ocorrerá na Filadélfia, cidade na Pensilvânia, um dos estados onde o voto ainda não está definido. Nas duas últimas eleições, o partido apoiado pela maioria dos eleitores de lá foi o vencedor.

Por isso, embora historicamente os debates presidenciais dos EUA não tendem a se reverter em votos para um ou outro lado, a expectativa é que o enfrentamento desta terça tenha rompido com essa lógica e se tornado uma das peças decisivas do quebra-cabeça eleitoral dos EUA.

g1
Portal Santo André em Foco

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