Setembro 19, 2024

Fernández fez apelo à ex para falar 'o mínimo possível' antes de audiência sobre fotos de agressão, diz site argentino

O ex-presidente argentino Alberto Fernández mandou várias mensagens e fez um apelo à ex-mulher, Fabiola Yañez, no dia em que ela deu seu primeiro depoimento à Justiça sobre as fotos em que aparece com hematomas, fruto de uma suposta agressão do então companheiro, no dia 28 de junho.

O site de notícias argentino Infobae teve acesso a uma conversa entre o ex-casal, horas antes da ex-primeira-dama falar em uma audiência online com o juiz Julián Ercolini sobre as mensagens e fotos encontradas no celular da ex-secretária de Fernández, María Cantero, durante perícia realizada na investigação sobre possíveis atos de corrupção no governo.

Em mensagem enviada 15 minutos antes da audiência começar, Fernández pede:

"Você não deveria ter que passar por isso. (...) Meu conselho é que fale o mínimo possível. Essa é a melhor garantia de que não se torne notícia".

Quatro horas antes, em seu primeiro contato, o ex-presidente da Argentina pede que a ex-mulher atenda o advogado Juan Pablo Fioribello e avisa: "O assunto é muito grave". Um dia antes, o profissional havia sido chamado para uma conversa reservada sobre o conteúdo encontrado no celular da secretária, que mostrava a violência contra a ex-primeira-dama.

Sem resposta, na mesma hora, Fernández fez uma chamada de áudio pelo próprio aplicativo de mensagens para Yañez. Os dois conversaram por 10 minutos. Cerca de uma hora depois, ele mandou um longo pedido de desculpas:

"Sinto muito por tudo. Percebo que está muito magoada, nunca quis que as coisas fossem como foram. Sempre te amei e passamos por um momento conturbado que certamente não me deixou te dar a atenção que você merecia. Hoje estou muito triste por tudo. Não tenho vontade de viver. Sonhava outra coisa ao seu lado. Te peço perdão pelo dano que, sem querer, te causei. Beijo grande".

Sete minutos depois, Fabiola responde apenas: "Já falei com o Juan Pablo. Fique tranquilo. Vou fazer o que me disse para fazer".

Mais de duas horas depois, ela volta a tentar falar com o ex-marido, que não atende duas ligações nem responde suas mensagens. Apenas uma hora e meia depois, Fernández aparece novamente dizendo que lamenta e dando o conselho antes da audiência.

Neste dia, ao ser confrontada pelo juiz com as fotos e mensagens que enviou à secretária do ex-marido e questionada se gostaria de apresentar uma denúncia sobre violência de gênero, Yañez se recusou a prestar queixa e também a ver as imagens mandadas a Cantero em 2021.

Com a decisão da ex-primeira-dama, o contato entre eles seguiu tranquilo. A situação só mudou, segundo o Infobae, quando, no dia 3 de agosto, o ex-presidente soube que o jornal "Clarín" iria publicar as mensagens e fotos enviadas pela ex e passou a pressioná-la.

No dia 6, Fabiola procurou o juiz Ercolini e deu a entender que estava sendo ameaçada para não fazer a denúncia. Fernández foi denunciado por violência doméstica e assédio e proibido de deixar o país.

As acusações contra Alberto Fernández
Alberto Fernández, ex-presidente da Argentina, foi formalmente acusado por lesões graves, ameaças e abuso de poder contra a ex-mulher no dia 14 de agosto depois que a ex-primeira-dama Fabiola Yañez denunciou o ex-presidente por violência doméstica no início de agosto.

Fernández chegou a ser alvo de buscas e teve o passaporte cassado. Ele nega o crime.

De acordo com o jornal "El Clarín", o promotor federal Ramiro González ampliou as acusações contra Fernández por violência de gênero após o depoimento de Yañez. Ela relatou o caso durante uma audiência, na terça-feira (13).

Em um primeiro momento, o ex-presidente era investigado por lesões leves contra a ex-primeira-dama. Agora, a investigação também enquadra lesões graves duplamente qualificadas, com abuso de poder e autoridade. Ele também foi acusado de ameaças coercitivas.

No depoimento, a ex-primeira-dama afirmou que era alvo de episódios diários de violência reprodutiva, institucional, verbal, física e doméstica, além de constantes traições. Ela também disse que foi forçada por Fernández a fazer um aborto.

Diante do relato de Yañez, a promotoria entendeu que a ex-primeira-dama foi vítima durante oito anos de um crime maior do que lesões leves.

O Ministério Público da Argentina também determinou que outras quatros pressoas sejam ouvidas como testemunhas no caso, incluindo uma ex-secretária de Fernández e um médico que cuidava da saúde da família.

Entenda a denúncia
Yañez, de 43 anos, e Fernández, de 65, noivaram em 2016 e tiveram um filho em 2022, chamado Francisco. Atualmente, a ex-primeira-dama vive em Madri com o filho, enquanto o ex-presidente mora em Buenos Aires.

A agência AFP informou que a denúncia surgiu após o vazamento para a imprensa de mensagens entre Yañez e a secretária particular de Fernández, María Cantero. Nestas mensagens, a ex-primeira-dama teria relatado agressões sofridas do então presidente, inclusive com fotografias.

Além disso, o celular de Cantero passou por uma perícia durante as investigações de um outro caso que envolve Fernández. O ex-presidente é suspeito de envolvimento em um esquema de corrupção durante o governo dele.

O advogado de Yañez, Juan Pablo Fioribello, afirmou que a ex-primeira-dama entrou em contato com o juiz Julián Ercolini para denunciar as agressões. O magistrado é o mesmo que acompanha as investigações de corrupção

O relato da ex-primeira-dama
Yañez participou de uma audiência com o Ministério Público na terça-feira, diretamente do Consulado da Argentina em Madri. Na conversa, ela informou datas e locais onde as agressões teriam acontecido.

Ela afirmou que o relacionamento dos dois começou há mais de 14 anos, sendo que os dois noivaram durante uma viagem para Paris, em 2016. Segundo a ex-primeira-dama, ela era alvo de assédio psicológico antes de os dois morarem juntos.

“Eu devia permanecer atenta às suas chamadas telefônicas que se repetiam a ponto de eu não poder interagir com terceiros e ter uma vida normal, como sair com amigas porque eu tinha de responder às suas mensagens a cada três minutos”, afirmou.

Yañez disse que ficou grávida em 2016, mas contou que a gestação foi rejeitada por Fernández. Segundo ela, o ex-presidente a forçou cometer um aborto.

“Ele me dizia: ‘não posso contar a ninguém que terei um filho com você em tão pouco tempo’ e ‘é preciso resolver isso. Você tem de abortar’.”

Depois do aborto, a ex-primeira-dama disse que decidiu se mudar para Londres. No entanto, Fernández prometeu que iria ser uma nova pessoa e que queria se casar com ela. Os dois retomaram o relacionamento. Yañez afirmou que o assédio e a perseguição ressurgiram pouco tempo depois.

A ex-primeira-dama relatou ainda que foi vítima de violência física dentro da residência presidencial argentina de Olivos.

“Tínhamos discutido muito, como já era habitual e, para acabar com a discussão, ele me bateu, virando do seu lado da cama para o meu com um soco terrível. Gritei: ‘o que você me fez?!’, mas ele não disse nada. Virou e, com esse soco, terminou a discussão”, revelou.

Ela contou também que foi alvo de violência mesmo após engravidar novamente, em 2022. Yañez afirmou ainda, que no fim do mandato de Fernández como presidente, ela passou a ser vítima de socos diários.

“Ele abusava do poder e do cargo para me submeter, para me vulnerar e para me silenciar, exercendo violência inclusive quando eu estava grávida do seu próprio filho.”

g1
Portal Santo André em Foco

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