Novembro 23, 2024

Além da tragédia humana, conflito em Gaza provoca catástrofe ambiental sem precedentes, diz ONU

Para além das milhares de mortes, o conflito entre Israel e Hamas em Gaza gerou uma catástrofe ambiental sem precedentes no território, segundo um relatório da ONU divulgado nesta terça-feira (18).

A poluição contamina o solo, a água e o ar da região, e os bombardeios israelenses já produziram cerca de 39 milhões de toneladas de detritos, segundo o documento. Cada metro quadrado da Faixa de Gaza está agora coberto por mais de 107 kg de entulho.

Isso é mais de cinco vezes os destroços gerados durante a batalha por Mosul, no Iraque, em 2017.

A guerra entre Israel e o Hamas, facção que controla a Faixa de Gaza, reverteu rapidamente o limitado progresso na melhoria das instalações de dessalinização de água e de tratamento de águas residuais da região, na restauração de biomas costeiros e nos investimentos em instalações de energia solar, diz o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

"Tudo isto está prejudicando profundamente a saúde das pessoas, a segurança alimentar e a resiliência de Gaza", afirmou a Diretora Executiva do PNUMA, Inger Andersen.

O ambiente de Gaza já sofria devido aos conflitos recorrentes, o rápido crescimento urbano e a elevada densidade populacional, antes do início do conflito mais recente, após os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro.

"Os impactos ambientais não serão sentidos apenas localmente, onde ocorrem os combates, mas poderão ser deslocados ou mesmo sentidos à escala global através das emissões de gases com efeito de estufa", afirma Eoghan Darbyshire, da ONG Observatório de Conflitos e Ambiente.

Infraestrutura básica destruída
A avaliação da ONU é resultado de um pedido de dezembro de 2023 da Autoridade Palestina para que o PNUMA faça um balanço dos danos ambientais.

Os sistemas de água, saneamento e higiene estão agora quase totalmente extintos, concluiu o relatório, com as cinco estações de tratamento de águas de Gaza inoperantes.

A ocupação de longo prazo de Israel já tinha colocado grandes desafios ambientais nos territórios palestinos no que diz respeito à qualidade e disponibilidade da água, de acordo com um relatório de 2020 do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

Atualmente, mais de 92% da água na Faixa de Gaza é considerada imprópria para consumo humano.

A Faixa de Gaza tinha uma das maiores densidades de painéis solares em telhados do mundo, com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede nos EUA, estimando em 2023 cerca de 12.400 desses sistemas. Mas, desde então, Israel destruiu uma grande parte da florescente infra-estrutura de Gaza, e painéis partidos podem vazar chumbo e outros metais pesados, contaminando o solo.

Desde a trégua de uma semana em novembro, repetidas tentativas de conseguir um cessar-fogo falharam, com o Hamas pedindo o fim permanente da guerra e na retirada total de Israel de Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se recusa a encerrar a guerra antes que o Hamas seja erradicado e os reféns capturados por militantes do Hamas durante o ataque de 7 de outubro ao sul de Israel, que desencadeou a guerra, sejam libertados.

Analisando para a escala da destruição ambiental, "na minha opinião, grandes áreas de Gaza não serão recuperadas dentro de uma geração, mesmo com financiamento e vontade ilimitados", diz Darbyshire.

A guerra entre Israel e Hamas teve início em outubro de 2023, como resposta aos ataques terroristas do dia 7 daquele mês perpetrados pelo grupo palestino, que deixou cerca de 1.200 mortos.

Desde então, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirma que a ação militar israelense na Faixa de Gaza já deixou 37 mil mortos, incluindo 15 mil crianças.

Reuters
Portal Santo André em Foco

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