Um cenário quase impensável em tempos de polarização na geopolítica mundial acabou ocorrendo na África: tropas dos Estados Unidos e da Rússia estão dividindo uma mesma base militar no Níger desde o início desta semana, de acordo com o próprio Exército norte-americano.
As duas tropas acabaram coincidindo na mesma base porque as Forças Armadas dos EUA se preparam para deixar o país, por determinação da junta militar que governa o Níger desde que fez um golpe de Estado, no ano passado.
A retirada dos EUA ocorre no mesmo momento em que tropas russas aterrissam no Níger, por um acordo também com o governo local, alinhado a Vladimir Putin.
Por isso, ambas as tropas ocupam a Base Aérea 101, que fica ao lado do Aeroporto Internacional Diori Hamani, em Niamey, capital do Níger.
As duas tropas utilizam hangares diferentes da base, mas compartilham espaços comuns de lá.
Mas, apesar da tensão, as Forças Armadas dos EUA afirmaram que a presença dos soldados russos não constituem um perigo aos militares norte-americanos que estão na mesma base. Questionado sobre o caso, o Kremlin disse também não se preocupar.
Um militar dos EUA disse à agência de notícias Reuters que as duas tropas não estão se misturando dentro da base.
Questionado pela Reuters sobre o caso, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, minimizou qualquer risco para as tropas americanas ou ainda a chance de as tropas russas se aproximarem do equipamento militar dos EUA.
“Os russos estão em um complexo separado e não têm acesso às forças dos EUA ou ao nosso equipamento”, disse .
Segundo o militar norte-americano ouvido pela Reuters, autoridades nigerinas comunicaram ao governo dos EUA que cerca de 60 militares russos passariam a compartilhar a base com os norte-americanos.
Expulsão do Níger
No ano passado, após chegar ao poder, os oficiais militares ordenaram que os EUA retirarem seus quase 1.000 militares que mantinha no país.
Antes do golpe, o Níger era um dos grandes parceiros, na África Ocidental, de Washington na luta contra grupos terroristas com a Al-Qaeda. Mas, após o golpe, bandeiras da Rússia e cartazes a favor de Putin eram vistos nas manifestações de apoio ao novo governo pelo país.
A proximidade ocorre no momento em que a rivalidade militar e diplomática entre as nações é cada vez mais acirrada em relação ao conflito na Ucrânia.
Os EUA e os seus aliados foram forçados a retirar tropas de vários países africanos, na sequência de golpes de estado que levaram ao poder grupos marcados por se distanciarem dos governos ocidentais. Além do Níger, as tropas dos EUA também deixaram o Chade nos últimos dias, enquanto as forças francesas foram expulsas do Mali e do Burkina Faso.
A Rússia, por outro lado, procura reforçar as relações com as nações africanas, apresentando Moscovo como um país amigo, sem bagagem colonial no continente.
O Mali, por exemplo, tornou-se nos últimos anos um dos aliados africanos mais próximos da Rússia.
Washington tem mostrado preocupação com grupos militantes islâmicos na região do Sahel, onde fica o Níger. O temor é que os grupos se expandam sem a presença das forças e da inteligência dos EUA na região.
g1
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