O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que o G20 tem "virtual unanimidade" sobre a necessidade de dois estados como solução do conflito entre Israel e Palestina. O pronunciamento foi feito nesta quinta-feira (22) após o segundo e último dia da Reunião de Chanceleres , no Rio de Janeiro.
Vieira enfatizou que muitos países de todas as regiões demonstraram preocupação com o conflito na Palestina, destacando os riscos de alastramento nos países vizinhos. "Vários demandaram a imediata libertação dos reféns em poder do Hamas", disse, sem especificar quantos países.
"Foi conferido especial destaque ao deslocamento forçado de 1,1 milhão palestinos para o sul da Faixa de Gaza. Nesse contexto, houve diversos pedidos pela liberação imediata do acesso para ajuda humanitária na Palestina, bem como apelos pela cessação das hostilidades."
"Muitos se posicionaram contrariamente à operação de Israel em Rafah, pedindo que o governo de Israel reconsidere e suspenda imediatamente essa decisão", disse.
O conflito entre Israel e Palestina já dura décadas. Em sua forma moderna, remonta a 1947, quando as Nações Unidas propuseram a criação de dois Estados — um judeu e um árabe — na Palestina, sob mandato britânico. A proposta foi aceita pelos líderes judeus, mas rejeitada pelo lado árabe e nunca foi implementada.
Sem capacidade de resolver a situação, os governantes britânicos partiram e o Estado de Israel foi proclamado pelos líderes judeus no ano seguinte, causando revolta entre os palestinos e resultando na Guerra árabe-israelense de 1948.
Reforma da governança global
O ministro disse que também houve unanimidade quanto às prioridades estabelecidas pelo Brasil para a presidência do G20, especialmente quanto às ações concretas de combate à desigualdade e à fome.
"Na sessão de hoje pela manhã tratou-se da reforma da governança global, que para o Brasil é urgente e prioritária. Todos concordaram quanto ao fato de que as principais instituições multilaterais, ONU, OMC, Banco Mundial e FMI, entre outras, precisam de reforma para se adaptarem aos desafios do mundo atual."
Em seu discurso sobre as necessidades de reforma na ONU, Mauro Vieira também pediu a inclusão de novos membros no Conselho de Segurança da entidade. Segundo o ministro, existe um consenso entre os membros do G20 sobre a oferta de vagas no conselho para países da América Latina, Caribe e África.
“Todos mencionaram a necessidade de conferir impulso às discussões da necessidade da reforma da organização, em especial do seu Conselho de Segurança, com inclusão de novos membros permanentes e não permanentes, sobretudo da América Latina e Caribe e da África."
"As diferentes propostas existentes nesse sentido precisam ser efetivamente debatidas e pretendemos impulsionar esse processo."
A fala do ministro sobre a reunião não é uma declaração oficial do G20, mas sim uma formalidade --sem definições concretas--, já que o encontro é uma prévia para a Cúpula do G20 em 2024, que vai ocorrer em 18 e 19 de novembro, também no Rio de Janeiro.
Chanceleres se reunirão em setembro
Vieira disse ainda que pela primeira vez o G20 fará uma segunda reunião no ano, dessa vez na sede da ONU, em Nova Iorque, em setembro.
"Gostaria de destacar com grande satisfação que a proposta brasileira de realizar uma segunda Reunião de Chanceleres do G20 em setembro, à margem da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, foi muito bem recebida. Será a primeira vez que o G20 se reunirá dentro da sede da ONU, em sessão aberta para todos os membros da organização, para promover um chamado em ação da reforma da governança global."
O chanceler brasileiro voltou a falar nesta quinta sobre o importante papel das instituições financeiras globais. Para Vieira, é preciso que órgãos como o FMI e o Banco Mundial, por exemplo, possam financiar países mais pobres. Segundo o ministro, o G20 espera que países em desenvolvimento façam parte dessas instituições.
"Houve grande convergência sobre a necessidade de facilitar acessos a financiamentos a países mais pobres, bem como sobre a urgência de se aumentar a representatividade do mundo em desenvolvimento em sua governança."
A Reunião de Chanceleres do G20 é o encontro mais importante da trilha diplomática do grupo das maiores economias do mundo antes da Cúpula que reunirá chefes de Estado.
O encontro no Rio contou com a participação de 45 delegações de países-membro, países convidados e organizações internacionais, sendo 32 delegações chefiadas em nível ministerial.
O segundo dia de plenária dos chanceleres do grupo na Marina Glória, na Zona Sul, foi voltado para o debate sobre a reforma da governança global, uma das prioridades do Brasil durante seu ano à frente do G20.
O objetivo do país é fazer avançar a agenda da reforma em órgãos de governança como a ONU e assim propor mudanças que possam facilitar a resolução de conflitos e impedir que novos desentendimentos possam surgir.
Na quarta-feira (21), Mauro Vieira abriu o encontro com um discurso afirmando que o Brasil não aceita um mundo em que as diferenças sejam resolvidas pela força militar. Ele disse ainda que a ONU está "paralisada".
"Nossas posições sobre os casos ora em discussão no G20, em particular a situação na Ucrânia e na Palestina, são bem conhecidas e foram apresentadas publicamente nos foros apropriados, como o Conselho de Segurança da ONU e a Assembleia Geral da ONU", disse ele.
Reuniões bilaterais
Além dos temas de interesse global, o evento no Rio também foi importante para que os chanceleres pudessem realizar encontros bilaterais, ou seja, reuniões reservadas com membros de outros países. Essas agendas são oportunidades para avançar em acordos econômicos e debater interesses em comum.
Apenas no primeiro dia, o ministro brasileiro participou de seis reuniões bilaterais com os seguintes países: França, Egito, Argentina, Canadá, Portugal e Rússia.
Na agenda com o ministro Sameh Shoukry, do Egito, o Brasil tratou das negociações em curso para o possível cessar-fogo em Gaza e para a libertação dos reféns em poder do Hamas.
Nesta quinta, o Itamaraty divulgou que o ministro brasileiro teria mais sete encontros bilaterais. Segundo a agenda, Mauro Vieira se encontrará com David Cameron, do Reino Unido; com a chanceler mexicana, Alicia Bárcena; o ministro de Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide; os representantes do Fórum de Diálogo entre Índia, Brasil e África do Sul (IBAS); a secretaria geral adjunta da ONU, Amina Mohammed; o chanceler do Japão, Yōko Kamikawa; e o chanceler da Turquia, Hakan Fidan.
Tema: reforma da ONU, FMI e Banco Mundial
Como presidente temporário do grupo, o Brasil escolheu três temas prioritários para serem discutidos ao longo do ano. Os temas são os seguintes:
O presidente Lula (PT) tem repetido em seus discursos que considera que é preciso reformar instituições como a ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Em sua visita recente à Etiópia ele voltou a citar o tema. Segundo ele, a ONU não tem “dado conta” de resolver os problemas. “Os membros do Conselho de Segurança são os maiores produtores de armas. São os que detêm as armas nucleares. São os que têm direito de veto, e são os que não cumprem nada porque não se submetem ao próprio Conselho de Segurança", afirmou o presidente.
Ele também fez críticas ao desempenho atual do FMI e Banco Mundial: "[Essas entidades] vão servir para financiar desenvolvimento dos países pobres ou vão continuar existindo para sufocar os países pobres?".
O G20 é formado pelos seguintes membros:
g1
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