Desertos e sem filas, os centros de votação da Venezuela contrastaram com a vitória esmagadora do “sim” descrita pelo presidente do Conselho Nacional Eleitoral, após o referendo ufanista de Nicolás Maduro sobre o destino de Essequibo, na Guiana.
Elcio Amoroso contabilizou 10,5 milhões de votos, cifra bem maior do que a contestada última eleição do presidente, em 2018, alimentando automaticamente a desconfiança de que os números foram inflados.
O referendo de domingo acabou por expor mais um preocupante prenúncio do processo eleitoral do próximo ano, quando estão marcadas as eleições presidenciais nas quais Maduro concorrerá a um terceiro mandato.
Militante chavista dos mais leais, Elcio Amoroso foi escolhido, em agosto, para ocupar o cargo de maior autoridade eleitoral do país. Como ex- controlador-geral, ele adquiriu o apelido de “inabilitador”, por ter tornado inelegíveis os principais políticos de oposição, entre eles, Maria Corina Machado, que atualmente desponta como a principal concorrente de Maduro.
Neste primeiro pleito no cargo, o presidente do Conselho Nacional Eleitoral sequer apresentou os números da abstenção. Também não esclareceu como foram computados os 10 milhões de votos — se referiam-se à soma das cinco perguntas feitas aos eleitores no referendo. Nesse caso, conforme apontou o ex-candidato presidencial Henrique Capriles, o número de votantes teria sido de 2,1 milhões.
No entender de Luís Vicente León, diretor da Datanalisis, ficou óbvio que os resultados do referendo não corresponderam à matriz de sucesso que o governo esperava: “Mesmo que os resultados da participação estivessem corretos, as percepções formaram-se claramente na direção oposta e a gestão da comunicação foi bastante ruim.”
O processo para a realização do referendo sobre Essequibo decorreu sem observadores independentes, organizado por uma instituição que deixou de ser pluralista. Não houve campanha para o “não”. Maduro concorreu sozinho em favor do “sim”. Pôs a máquina eleitoral a serviço do apoio popular para recuperar a região de Essequibo, a despeito da decisão contrária, proferida pela Corte Internacional de Justiça.
De acordo com o presidente do CNE, o “sim” prevaleceu nas cinco perguntas, com índices que variaram entre 95,93% e 97,83%. Os eleitores concordaram, por exemplo, em anexar o território de 159 mil quilômetros quadrados à Venezuela e criar um estado chamado Guiana Essequiba.
“O CNE fez um anúncio ambíguo e confuso para não reconhecer o fracasso óbvio do governo na sua tentativa de mobilização num referendo livre de adversários”, opinou Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos e de Governo da Universidade Católica Andrés Bello.
O referendo se revelou, segundo ele, num fracasso retumbante do governo e pôs em xeque a sua liderança. “A campanha esmagadora pelo sim não adiantou em nada, nem as estruturas de mobilização funcionaram. O rei está nu”, vaticinou.
De posse do resultado alardeado pelo CNE, sem qualquer verificação independente, resta saber o que Maduro fará em relação a Essequibo e se os riscos de um conflito militar com a Guiana estão nos seus planos.
O que mais preocupa os opositores é a credibilidade da instituição que terá como tarefa a organização das eleições do próximo ano. E é justamente na desconfiança do sistema eleitoral que reside mais um dilema da oposição, conforme apontou Luís Vicente León na rede social X: quanto mais desconfiança se gerar agora nos resultados da CNE, mais difícil será mobilizar os eleitores no próximo ano.
“Isto representa um forte risco de promoção da abstenção, que em outros casos tem sido ouro em pó para o chavismo.”
g1
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