O governo da Grécia anunciou nesta segunda-feira (30) que pretende enviar cerca de 10 mil migrantes à Turquia até o fim de 2020. A medida foi anunciada após a convocação de emergência de um conselho de ministros um dia depois de um incêndio e tumultos em um acampamento na ilha de Lesbos terminarem em morte.
No mandato do ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras, foram reenviados 1.806 migrantes em quatro anos e meio. O governo do novo premiê Kyrakos Mitsotakis pretende ampliar em mais de cinco vezes esse número em um prazo muito menor.
Duas pessoas morreram no incêndio no acampamento de migrantes de Moria. Segundo os refugiados, o fogo começou num pequeno comércio ambulante – ainda não está claro se o fogo teve início antes ou durante os tumultos que terminaram em confronto com a polícia.
De acordo com o Ministério da Saúde, 17 migrantes ficaram feridos: nove homens, seis mulheres e duas crianças. Todos receberam atendimento no Hospital de Mytilene, perto do local, informou a agência France Presse.
O acampamento acolhia entre 12 mil e 13 mil migrantes em contêineres – muito mais do que a capacidade máxima de 3 mil. O prefeito do norte do Mar Egeu, Kostas Moutsouris, que representa a região que inclui a ilha de Lesbos, disse ao site Newsbomb que o incidente era uma tragédia anunciada.
"Tal tragédia poderia acontecer a qualquer momento", lamentou.
O porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) na Grécia, Boris Cheshirkov, afirmou à AFP que a situação dos migrantes no país é muito trágica. Segundo ele, é urgente acelerar as transferências para a porção continental da Grécia.
Refugiados revoltados
Em um acampamento superlotado, os migrantes iniciaram no domingo uma revolta contra as autoridades gregas e provocaram tumultos na madrugada. Alguns deles chegaram a subir nos contêineres do centro na ilha de Lesbos.
Os migrantes reivindicavam uma transferência à parte continental da Grécia. De lá, eles poderiam seguir viagem rumo a outros países da Europa.
O tumulto piorou quando a multidão entrou em confronto com a polícia pela demora dos bombeiros em extinguir o incêndio, informaram refugiados à agência France Presse. Policiais dispararam gás lacrimogêneo contra os manifestantes.
De acordo com uma porta-voz da Acnur em Lesbos, a situação se acalmou na manhã desta segunda-feira. Porém, o local teve a presença policial reforçada.
"Muitos policiais chegaram hoje. Checam os documentos das pessoas, olham dentro dos contêineres... tudo isso nos estressa ainda mais", confirmou Farid, um jovem afegão por telefone à AFP.
"Muitos refugiados estão tristes e estressados. Têm medo de um novo acidente", disse ele.
Para o ACNUR, "o incêndio ocorreu em um contexto de aumento de chegadas" de migrantes da vizinha Turquia. Em três meses, quase 10 mil pessoas chegaram à ilha de Lesbos, segundo Lefteris Oikonomou, vice-ministro da Defesa Civil.
Pior período desde 2016
"Estamos em um contexto diferente da crise migratória de 2015, onde as fronteiras estavam abertas. Porém, desde o acordo UE-Turquia (firmado em março de 2016), atravessamos o pior período", disse Oikonomou durante uma coletiva de imprensa em Mitilene.
As autoridades prometeram uma nova transferência de 250 pessoas nesta segunda-feira e esvaziar o acampamento de Moira. Segundo o Acnur, de 2 a 15 de setembro, 2.510 refugiados foram transferidos das ilhas do mar Egeu para o continente grego.
O prefeito de Lesbos, Stratos Kytelis, também pediu "o descongestionamento imediato de nossas ilhas e o fortalecimento do controle de fronteiras".
No auge da crise migratória, a União Europeia e a Turquia assinaram um acordo em 2016 que levou a uma redução significativa no fluxo de migrantes e refugiados pelas ilhas gregas, perto da Turquia.
Mas, no início de setembro, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, cujo país abriga mais de quatro milhões de refugiados, ameaçou "abrir as portas" aos migrantes, se não conseguir mais ajuda internacional.
Na semana passada em Nova York, os líderes da Grécia e da Turquia "concordaram em fazer todos os esforços para reduzir o fluxo de migrantes", de acordo com uma autoridade grega.
G1
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