Novembro 23, 2024

Documento diz que Casa Branca tentou esconder conversa de Trump que fundamenta pedido de impeachment

Autoridades da Casa Branca agiram para esconder o conteúdo da conversa entre o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, e o da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pois sabiam que o material é comprometedor, afirma um relatório do agente que fundamenta o pedido de impeachment feito contra o americano.

O documento, que foi redigido no dia 12 de agosto, foi tornado público nesta quinta-feira (26), por um comitê da Câmara dos Deputados. O diretor de inteligência dos EUA, Joseph Maguire, respondeu perguntas sobre o caso no Congresso.

Trump reagiu nas redes sociais –ele disse que é uma nova "caça às bruxas".

O que diz o documento
O acusador escreveu no documento revelado nesta quinta que, durante suas tarefas oficiais, recebeu informações "de múltiplos agentes do governo dos EUA de que o presidente dos EUA está usando o poder de seu gabinete para pedir interferência estrangeira nas eleições de 2020".

Ele descreve que isso inclui, entre outras coisas, "pressionar um governo estrangeiro para investigar um dos principais rivais políticos domésticos do presidente".

"O advogado pessoal do presidente, o senhor Rudolph Giuliani, é uma figura central nesse esforço. O procurador geral [William] Barr parece estar envolvido também", afirmou ele no documento.

O telefonema do dia 25 de julho
"Na manhã de 25 de julho, o presidente falou pelo telefone com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Foi a primeira chamada que se tornou pública entre os dois desde um cumprimento de parabéns, depois que Zelensky venceu as eleições, em 21 de abril", diz o documento divulgado nesta quinta.

O acusador prossegue:

"O presidente usou o telefonema para defender seus interesses pessoais. Explicitamente, buscou pressionar o líder ucraniano para tomar ação para ajudar a reeleição de 2020. De acordo com os agentes da Casa Branca, o presidente pressionou Zelensky a, entre outros:

  • Iniciar uma investigação das atividades do ex-vice-presidente Joseph Biden e de seu filho, Hunter Biden;
  • Revelar que as alegações de interferência russa nas eleições de 2016 começaram na Ucrânia -- foi a empresa de segurança virtual americana Crowdstrike que inicialmente revelou que hackers russos haviam entrado nas redes do Partido Democrata em 2016; Trump pediu para que Zelensky localizasse e entregasse aos EUA servidores usados pelo Comitê Nacional Democrata e examinasse a companhia;
  • Encontrar ou conversar com duas pessoas ligadas ao presidente, Giuliani e o procurador geral Barr, a quem o presidente fez múltiplas referências na chamada."

Tentativas de esconder a conversa
"Nos dias após o telefonema, soube de diferentes agentes que um oficiais sênior da Casa Branca tentaram intervir para 'travar' todos os registros da chamada, especialmente a transcrição de palavra por palavra produzida em decorrência do telefonema, como é costume, pela sala de controle da Casa Branca".

Para o acusador, "esse conjunto de ações ressalta que autoridades da Casa Branca entendiam a gravidade do que havia acontecido na chamada".
Os informantes contaram ao acusador que foram orientados pelos advogados da presidência a retirar a transcrição eletrônica do sistema de computadores em que geralmente são armazenados.

O registro da conversa foi carregado em um outro sistema eletrônico, que tradicionalmente é usado para informação sigilosa.

"Um funcionário da Casa Branca descreveu esse ato como um abuso do sistema eletrônico, porque a chamada não continha nada remotamente sensível do ponto de vista de segurança nacional", afirma o acusador.

Pós-telefonema
O acusador relata que a conversa entre Trump e Zelensky teve consequências. O líder ucraniano se encontrou, em Kiev, um dia depois da chamada, com duas autoridades dos EUA:

  • o representante especial dos EUA para negociações com a Ucrânia, Kurt Volker
  • o embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland

Os dois deram conselhos a Zelensky sobre como “navegar” as demandas de Trump.

No dia 2 de agosto, Rudolph Giuliani, o advogado de Trump, foi a Madri, na Espanha, para se encontrar com um conselheiro do ucraniano, Andriy Yermak. O encontro foi uma reunião de acompanhamento (“follow up”) sobre os casos que os presidentes haviam discutido.

Diversos agentes relataram ao acusador que Giuliani buscou assessores de Zelensky, inclusive o chefe do serviço de segurança ucraniano, Ivan Bakanov. O autor do documento não sabe se, de fato, esses encontros aconteceram.

Relatos de terceiros
O agente relata que mais de meia dúzia de autoridades americanas o informaram de vários fatos ligados a esse esforço –é rotina para os agentes com responsabilidade por uma região específica ou uma função compartilhar tais informações um com o outro para determinar políticas e análises.

Ele ressalta que não foi testemunha direta da maioria dos eventos. "Considerei as descrições desses eventos pelos meus colegas verídicas porque, em quase todos os casos, múltiplos agentes recontaram padrões de fatos que eram consistentes um com o outro", escreveu.

Reação de Trump
Trump foi a uma rede social para atacar o documento, chamando atenção para o fato de que o informante relata fatos que ele ouviu de outros agentes.

"Um informante com informações de segunda mão? Outra notícia falsa! Veja o que foi dito na ligação muito agradável, sem pressão. Outra caça às bruxas!", escreveu o presidente no Twitter.

O presidente dos EUA ainda fez menções, sem ser explícito, a punir os funcionários que passaram informações aos serviços de inteligência. Em uma conversa com funcionários dos EUA na ONU, ele disse o seguinte:

"Quero saber quem é a pessoa que deu ao denunciante a informação, porque isso é perto de ser um espião. Você sabe o que nós costumávamos fazer no passado quando éramos espertos com espiões e traição, certo? Nós costumávamos dar um jeito um pouco diferente do que o atual”, afirmou.

G1
Portal Santo André em Foco

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