Novembro 23, 2024

Trump lança suspeitas sobre Biden e se complica

O presidente-candidato Donald Trump deu nova munição à oposição democrata, que há meses enfrenta um dilema crucial -- o de deflagrar ou não um processo de impeachment no Congresso. O escândalo da vez vem da Ucrânia e envolve o ex-vice-presidente Joe Biden, até agora o principal adversário de Trump nas eleições de 2020. E mais uma vez diz respeito à interferência externa na campanha presidencial dos EUA.

O presidente admitiu neste domingo ter conversado sobre Biden com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, num telefonema em julho passado. O pano de fundo seria uma investigação sobre Hunter Biden, o filho caçula do ex-vice-presidente de Obama, que integrou o conselho da Burisma Holding, principal empresa de gás ucraniana.

Segundo relato de um denunciante ao Conselho Nacional de Inteligência, revelado pelo jornal “Wall Street Journal”, durante a conversa Trump mencionou oito vezes o nome de Biden, incitando o presidente ucraniano a investigar seu filho.

A ligação ocorreu no momento em que a Ucrânia aguardava a aprovação de um pacote de ajuda militar dos EUA no valor de US$ 250 milhões. A verba foi ratificada no mês seguinte pelo Congresso, mas suspensa logo depois pela Casa Branca.

O bloqueio desta ajuda financeira levanta dúvidas sobre a suposta tentativa de intimidação de Trump ao governo ucraniano para tomar medidas que prejudicariam Biden. Se for comprovado que isso ocorreu, teremos um repeteco das eleições de 2016, quando a Rússia foi acusada de interferir na campanha presidencial na qual o candidato republicano saiu vitorioso.

Em sua defesa, o presidente americano alega que não mencionou a ajuda financeira na conversa com o presidente ucraniano, que assegura ter sido totalmente apropriada. “Basicamente falamos de corrupção e do fato de que não queremos pessoas como o ex-vice-presidente Biden e seu filho criando corrupção na Ucrânia”, relatou Trump.

O imbróglio antecipa o quanto a campanha presidencial será nefasta nos 13 meses que restam até as eleições. E fez os democratas mais céticos pronunciarem a palavra impeachment com veemência.

Até então, o processo de destituição de Trump esbarrava na resistência do núcleo duro democrata, encarado como um tiro no pé nas ambições do partido de retomar a presidência americana: ainda que aprovado pela Câmara dos Representantes, o impeachment de Trump certamente seria rejeitado pelo Senado, sob controle republicano.

Tradicional opositor do impeachment, o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, considera que agora a Casa pode ter “atravessado o Rubicão”. O congressista democrata referia-se ao rio italiano cruzado por Júlio César, violando uma lei, o que acabou mudando o rumo da história romana.

Sem mencionar o impeachment, a presidente Nancy Pelosi advertiu sobre um novo e grave capítulo de ilegalidade, caso o governo insista em não divulgar o teor do relatório do denunciante que reportou a conversa telefônica entre Trump e Zelensky ao Conselho Nacional de Inteligência.

Biden denunciou o comportamento de Trump como repugnante pela disposição do presidente em “abusar do poder e diminuir o país”. Pré-candidato favorito nas pesquisas, ele se vê, contudo, obrigado a voltar a explicar as razões da insistência do presidente americano em investigar as atividades de seu filho na Ucrânia.

Advogado de Trump, o ex-prefeito Rudolph Giuliani defende a reabertura de um processo de corrupção contra o magnata ucraniano, dono da empresa de gás em que Hunter Biden ocupou um cargo de direção.

Em 2016, o então vice-presidente teria pressionado o governo ucraniano a demitir o procurador-geral que investigava a Burisma. A suspeita de interferência de Biden em benefício do filho incomoda e frequentemente constrange a campanha do pré-candidato democrata, embora a Justiça ucraniana não tenha encontrado qualquer irregularidade.

Ao lançar suspeitas sobre o pré-candidato democrata, o presidente se complicou até quando duvidou que Biden não tenha abordado o caso com Hunter. “É claro que ele falou com o filho. Quem não falaria disso com o filho?”, precipitou-se o presidente.

É bom lembrar que o próprio Trump deu desculpa parecida para escapar das acusações de que o filho Donald Trump Jr. participou de um encontro com advogados russos para adquirir informações que o ajudariam a vencer as eleições de 2016. Na época alegou que nunca conversara com o filho sobre a reunião. Será?

France Presse
Portal Santo André em Foco

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