Novembro 26, 2024

Mais dois brasileiros são presos em investigação sobre assassinato de policial na Guiana Francesa

A polícia anunciou na quarta-feira (19) a prisão de mais dois brasileiros suspeitos de terem relação com o assassinato de um policial de elite na Guiana Francesa durante operação de combate ao garimpo ilegal na Amazônia em março.

Os dois homens são investigados por pertencerem ao grupo de ladrões especializados em roubo de garimpeiros que atacou os policiais em 25 de março. As prisões foram realizadas no garimpo clandestino de Dorlin, próximo da fronteira com o Suriname e não muito longe do local onde ocorreu o assassinato.

O policial Arnaud Blanc, de 35 anos, foi morto durante uma operação contra o garimpo ilegal dentro do Parque Amazônico da Guiana. Ele e outros nove agentes participaram de um forte tiroteio na área de Maripasula e Blanc acabou atingido.

O suspeito do assassinato, um brasileiro de 20 anos, que foi preso no dia 8 de abril em Dorlin, faria parte do bando armado dos homens detidos nesta semana.

Um deles foi identificado como Romário e tem 30 anos. Ele seria o líder de um grupo armado conhecido na região como "bando do Romário". O segundo, um homem de 49 anos, é conhecido pelo apelido de Irmão Bomba, e teria sido apontado por garimpeiros brasileiros que trabalham ilegalmente na região.

Os dois fariam parte de um grupo de assaltantes especializado em atacar os garimpeiros clandestinos que trabalham nesta área.

"Esses grupos armados aparecem com frequência para extorquir os garimpeiros, ou vender seus serviços para grupos de garimpeiros em disputa", explica o pesquisador francês François-Michel Le Tourneau, do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) da França, estudioso do garimpo na área.

De acordo com Le Tourneau, há uma aparente multiplicação desses grupos armados recentemente na Guiana Francesa.

Brasileiros tomam conta do garimpo clandestino
A presença de garimpeiros brasileiros no território vizinho francês é constante. Um relatório sobre o combate ao garimpo ilegal na Guiana Francesa indica a existência de cerca de 8.600 garimpeiros, a maioria deles em situação irregular e atraídos pelo ouro.

O trabalho, feito por uma comissão de investigação da Assembleia Nacional da França, estima que mais de 90% dos garimpeiros em território guianense seja de brasileiros, sendo grande parte deles homens vindos especialmente do Maranhão.

Os garimpeiros trabalham sobretudo em pontos de extração clandestina na floresta Amazônica, especialmente dentro do Parque Amazônico da Guiana, onde a mineração é ilegal. De acordo com o Observatório da Atividade Mineradora, haveria ao menos 500 pontos de extração clandestinos ativos no território.

Apesar da constante repressão da polícia francesa à atividade ilegal, o combate do garimpo clandestino na região é dificultado pela situação geográfica, em que a floresta divide a fronteira com o Suriname e com o Brasil.

Combate difícil
As operações policiais francesas são constantes no solo guianense. Só no ano passado foram feitas mais de mil missões policiais. No entanto, a repressão é pouco eficiente para o fim do garimpo ilegal.

"Esses garimpeiros são reprimidos pela polícia francesa, mas a forma de resistência deles consiste em ficar no lugar, esperar a operação policial passar e voltar às atividades depois. Existe muito pouco uma política de enfrentamento", explica Le Tourneau.

A dificuldade está, entre outras coisas, na porosidade das fronteiras. Os garimpeiros, em geral, trabalham no sistema clandestino presente na Amazônia, e mudam de ponto de exploração — e de país — conforme a disponibilidade de minério e a facilidade para sua extração.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, explica o pesquisador francês, a falta de fiscalização no Brasil e o incentivo dos governos para a extração de ouro levou muitos garimpeiros a escolherem o território brasileiro.

"Os garimpeiros da Guiana decidiram voltar para o Brasil e muitos foram para áreas como Roraima, no território Yanomami. Agora que o Brasil está retomando uma política de combate ao garimpo, pode acontecer o movimento contrário, e isso já se vê, de garimpeiros voltando para a Guiana Francesa para trabalhar", aponta o especialista do CNRS.

RFI
Portal Santo André em Foco

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