A Bolívia sofre com o maior incêndio de sua história recente. Uma área de pelo menos 500 mil hectares já foi consumida pelo fogo. A nuvem de fumaça que sai de Roboré, município do departamento de Santa Cruz, chegou, inclusive, a cidades brasileiras que ficam perto da fronteira boliviana. O presidente Evo Morales, que está em campanha eleitoral, rejeitou o apoio internacional para controlar as chamas, e vem recebendo críticas da oposição.
Os primeiros focos do incêndio foram detectados há 16 dias. O fogo atinge pelo menos dez povoados do município Roboré, no sudeste boliviano, quase na fronteira com o Brasil. A cidade abriga um dos mais emblemáticos parques do país, onde há uma rica fauna e flora. Nas imediações também está a Chiquitanía, como são chamadas as Missões Jesuíticas na Bolívia.
Há suspeitas de que as queimadas, promovidas pelos agricultores com a justificativa de preparar a terra para a lavoura, tenham saído do controle e alastrado o fogo. Dados não-oficiais apontam que o fogo devastou uma área equivalente a 500 mil campos de futebol. O clima seco e os ventos fortes típicos desta época do ano podem ter ajudado a espalhar as chamas.
Até o momento não há perdas humanas por causa do incêndio, mas os animais sofrem com o fogo e o calor. Ainda não foi possível determinar o impacto dos danos materiais.
Em alguns setores os moradores tiveram que ser evacuados. Por causa da péssima qualidade do ar, as aulas foram interrompidas. A fumaça afeta, inclusive, regiões do Brasil e do Paraguai que ficam perto da fronteira boliviana. Não há previsão de quando será possível extinguir o incêndio.
Aluguel de avião e erro de logística
O presidente Evo Morales rejeitou a ajuda internacional. Em compensação, decidiu pagar caro pelo aluguel de um Boeing 747-400, uma imensa aeronave-tanque. Chamado de “Supertanker”, este avião gigante deve chegar ainda nesta quinta-feira (22) ao país.
O Boeing 747-400 consegue transportar até 150 mil litros e será usado no combate ao fogo. No entanto, precisa de uma pista de 2.400 metros de comprimento para operações de pouso e decolagem. Na Bolívia, apenas o Aeroporto Internacional de Viru-Viru, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, localizado a 30 minutos de voo do foco do incêndio, oferece essas dimensões. Por temas logísticos, o governo boliviano avalia levar o “Supertanker” a uma base em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, município brasileiro que está a poucos quilômetros do foco da queimada.
Aeronaves de menor porte também participam dos trabalhos de combate ao fogo. Além disso, mais de mil integrantes das forças de segurança do Estado foram para Roboré participar das operações de combate ao fogo. Pelo menos cem profissionais ajudarão no resgate de animais afetados pelo incêndio.
Evo demorou e sociedade sai na frente
Os bolivianos, sobretudo os do departamento de Santa Cruz, estão muito comovidos com a situação. A sociedade também reclama que o presidente Evo Morales demorou a reagir sobre o incêndio.
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Por isso civis resolveram agir por conta própria e organizaram pontos para arrecadar produtos que serão enviados a moradores da região afetada pelo incêndio. Para as doações são solicitados colírios, soros, galões de água, lanternas, alimentos não perecíveis e outros itens.
Cidadãos também fizeram uma vaquinha e alugaram um avião. A aeronave de pequeno porte, geralmente empregada na fumigação das áreas agrícolas, está sendo usada para jogar água sobre os focos de incêndio.
Gustavo Castro, assessor imobiliário, um dos pioneiros da iniciativa, contou à RFI porque tomou esta decisão. “Somos cidadãos e atuamos como voluntários para ajudar. Não pertencemos a nenhuma instituição, a nenhum partido, nada. Somos civis e é isso que as pessoas têm que entender: nenhum governo vai cuidar das suas coisas como nós mesmos.”
Incêndio esquenta corrida presidencial
O incêndio também entrou para o debate político. Candidatos opositores ao presidente Evo Morales visitaram a região de Roboré. Entre eles, o ex-presidente Carlos Mesa, do partido Comunidad Ciudadana, que está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Mesa questionou por que o governo demorou mais de uma semana para tomar uma atitude sobre o incêndio. Apenas a segunda-feira (19) Evo Morales sobrevoou o local das chamas.
Críticos ao presidente afirmam que a ampliação da fronteira agrícola, que permite a plantação em áreas que antes eram de preservação, influenciou neste desastre ambiental. Já integrantes do partido Movimiento al Socilaismo (MAS), do qual Morales faz parte, fez um apelo para que o incidente não fosse politizado.
Na quarta-feira (21) diversos departamentos da Bolívia protestaram contra a reeleição de Morales. Apenas Santa Cruz de la Sierra, que é a capital econômica da Bolívia e principal reduto da oposição, decidiu não participar da greve geral em respeito aos afetados pelo incêndio.
Evo Morales bateu o recorde de permanência ininterrupta na presidência do país. Embora não seja permitido pela Constituição, uma manobra autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu espaço para ele buscar a quarta reeleição.
RFI
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