A Otan garantiu nesta quarta-feira (29) seu apoio à Ucrânia "pelo tempo que for preciso" para resistir à invasão russa e abriu o processo de adesão da Finlândia e da Suécia, tachada de "desestabilizadora" por Moscou.
Após uma cúpula de dois dias em Madri, os 30 membros da Otan condenaram a "crueldade terrível" da Rússia, que "causa imenso sofrimento humano".
Moscou "tem total responsabilidade por esta catástrofe humanitária", acrescentaram os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em sua declaração final.
A Ucrânia pode contar com o apoio da Otan "pelo tempo que for necessário", ressaltou o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg.
Os chefes de Estado e de Governo da Otan também lançaram formalmente o processo de adesão da Finlândia e da Suécia, dois países que decidiram abandonar sua tradicional neutralidade militar depois que a Rússia invadiu a Ucrânia no final de fevereiro.
"Hoje decidimos convidar a Finlândia e a Suécia a tornarem-se membros" e "concordamos em assinar os Protocolos de Adesão", aponta a declaração final, sobre um processo que poderá demorar alguns meses.
"No momento em que Putin quebrou a paz na Europa e atacou os princípios da ordem baseada em regras, os Estados Unidos e os aliados pretendem fortalecer sua posição", declarou o presidente americano, Joe Biden, ao anunciar um reforço da presença militar do país na Europa.
Isto significa o aumento de tropas na Espanha, Polônia, Romênia, nos Estados bálticos, no Reino Unido, Alemanha e Itália.
"Se Putin esperava ter menos Otan no flanco leste como resultado de sua invasão ilegal e injustificável da Ucrânia, estava totalmente equivocado: terá mais Otan", disse o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
A Ucrânia elogiou "a posição lúcida sobre a Rússia e sobre a adesão" dos dois países nórdicos à Aliança, segundo o chefe da diplomacia ucraniana, Dmitro Kouleba.
Moscou denuncia "agressividade"
A Rússia respondeu aos anúncios com críticas ao que chamou de "agressividade" da Otan. O vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Ryabkov, chamou a ampliação da Aliança Atlântica para Finlândia e Suécia de "profundamente desestabilizadora".
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, discursou por videoconferência na reunião de cúpula da Aliança e pediu mais ajuda.
"Precisamos de sistemas muito mais modernos, artilharia moderna", afirmou Zelenski, antes de acrescentar que o apoio econômico "não é menos importante que a ajuda em armas".
"A Rússia continua recebendo bilhões a cada dia e os gasta na guerra. Nós temos um déficit bilionário. não temos petróleo nem gasolina para cobrir", afirmou Zelenski. Ele disse que a Ucrânia precisa de 5 bilhões de dólares por mês para sua defesa.
A incorporação da Finlândia, e seus 1.300 km de fronteira terrestre com a Rússia, fará com que a Otan mais do que dobre seus limites territoriais com este país.
Desta maneira, a Rússia terá fronteira com seis integrantes da Aliança: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia - os dois últimos pelo enclave de Kaliningrado - e Noruega.
A adesão de Finlândia e Suécia foi possível porque a Turquia retirou seu veto em troca do fim da proteção a independentistas curdos, que são considerados terroristas por Ancara.
Nesta quarta-feira, um dia depois da assinatura de um memorando pelos três países, Ancara pediu a extradição de 33 pessoas.
A Aliança criada em 1949 lança assim a maior reforma de sua capacidade de defesa e dissuasão desde o fim da Guerra Fria, fortalecendo suas tropas na região leste da Europa e aumentando consideravelmente suas tropas de alta disponibilidade nas imediações da Rússia.
Os membros da Otan, que já enviaram bilhões de dólares em ajuda a Kiev, devem anunciar em Madri um "programa de assistência completo para a Ucrânia para ajudar o país a fazer valer seu direito à legítima defesa", prometeu Stoltenberg.
A Noruega anunciou nesta quarta-feira o envio de três baterias de lança-foguetes de longo alcance MLRS. Na terça-feira, os ministros da Defesa da Holanda e da Alemanha anunciaram a entrega de seis obuses adicionais.
Otan mira a China
Além disso, a organização orientou seu olhar pela primeira vez ao desafio provocado pela força da China, na atualização de seu Conceito Estratégico, seu manual de ação e prioridades.
"As ambições declaradas e as políticas coercitivas da República Popular da China desafiam nossos interesses, segurança e valores", sustenta o documento que deve orientar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nos próximos anos.
A China "emprega uma ampla gama de ferramentas políticas, econômicas e militares para aumentar sua presença global e projetar poder, mantendo ao mesmo tempo a opacidade sobre sua estratégia, intenções e desenvolvimento militar", argumenta a Aliança.
O documento também sustenta que a China "procura controlar setores tecnológicos e industriais, infraestruturas críticas e materiais estratégicos e cadeias de suprimentos. Utiliza sua influência econômica para criar dependências".
A Otan também acusa Pequim de trabalhar com a Rússia para minar a ordem internacional.
"O aprofundamento da parceria estratégica entre a República Popular da China e a Federação Russa e suas tentativas de minar a ordem internacional (...) são contrários aos nossos valores e interesses", sentencia a Aliança.
AFP
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