Novembro 27, 2024

Itamaraty diz que não houve 'coordenação prévia' para que Brasil participasse de boicote a fala de chanceler russo na ONU

O Itamaraty afirma em nota que não houve 'coordenação prévia' entre as delegações que realizaram o boicote à fala do chanceler russo Sergei Lavrov na ONU em Genebra, nesta terça-feira (1°), e a representação do Brasil.

Mais de 100 diplomatas, representantes de cerca de 40 países – ocidentais e aliados, incluindo o Japão – deixaram a sala ao início do discurso de Lavrov como forma de protesto contra a invasão russa à Ucrânia. O diplomata que representava o Brasil não saiu da sala.

"A respeito da saída de delegações do Plenário da Conferência do Desarmamento, cumpre esclarecer que não houve coordenação prévia dessas delegações com a delegação do Brasil. Praticamente todas as delegações de países africanos, latino americanos e caribenhos, bem como a maioria das delegações asiáticas, permaneceram no Plenário durante o discurso do Ministro das Relações Exteriores russo", apontou o Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

O Itamaraty não detalhou se o representante teria saído se tivesse havido "coordenação prévia".

De qualquer forma, a atitude do Brasil está em linha com a forma como o país costuma se posicionar nas disputas internacionais, segundo aponta uma especialista ouvida pelo g1.

As delegações brasileira, chinesa, síria e venezuelana foram algumas das que se mantiveram no local para ouvir o discurso de Lavrov feito por videoconferência.

Segundo o chanceler russo, membros da União Europeia teriam feito uma espécie de "bloqueio aéreo" a seu trajeto à sede da ONU. Na segunda-feira (28), também houve a imposição de sanções econômicas à Lavrov por parte da Suíça.

'Frenesi russofóbico'
Em seu discurso, nesta terça, o ministro russo acusou a União Europeia de se envolver em um "frenesi russofóbico" por meio do fornecimento de armas letais para a Ucrânia durante a "campanha militar" iniciada pela nação liderada por Vladimir Putin na última quinta-feira (24).

"A Ucrânia ainda tem tecnologia soviética e meios de conseguir essas armas, nós não podemos deixar de responder a esse perigo real", afirmou Sergei Lavrov.

Ele disse ainda que os países do Ocidente não podem construir instalações militares em nenhum país ex-membro da União Soviética.

De acordo com as agências de notícias Ria e Tass, o ministro russo disse que é inaceitável que países da Europa guardem armas nucleares dos Estados Unidos. Para ele, as armas devem ser devolvidas ao território norte-americano.

Apoio marcante
Dentre os diplomatas que se retiraram do recinto durante a fala de Lavrov, os ministros de Relações Exteriores do Canadá, Melanie Joly, e da Dinamarca, Jeppe Kofod, se uniram à embaixadora ucraniana, Yevheniia Filipenko, atrás de uma grande bandeira azul e amarela da Ucrânia.

Já Melanie Joly disse que deixou o local porque "o ministro Lavrov estava dando a versão dele, que é falsa, sobre o que está acontecendo na Ucrânia", por isso quiseram mostrar uma postura firme e de união.

"É uma mostra de apoio impressionante para os ucranianos que estão lutando por sua independência", disse Filipenko aos jornalistas que estavam no local.

Segundo ela, houve uma destruição massiva de infraestrutura civil em Kharkiv, a segunda maior cidade de seu país. Veja abaixo o momento em que um míssil atinge um prédio oficial da cidade nesta terça.

"Maternidades estão sendo atacadas, prédios residenciais bombardeados", complementou.

A Rússia nega estar atingindo construções civis em solo ucraniano.

A especialista em relações internacionais Analice Martinsson explica que esse tipo de protesto na ONU não é um gesto raro.

“Essa é uma prática comum nos fóruns multilaterais. Vimos, por exemplo, os diplomatas da Venezuela se retirarem da sala da Assembleia Geral diante do discurso do Presidente Jair Bolsonaro em setembro passado", explica Martinsson.

Inédita talvez seja a magnitude do evento, com a retirada de mais de 100 diplomatas ao mesmo tempo, segundo a agência Reuters.

Lavrov fez um pronunciamento de forma remota no Conselho de Direitos Humanos da ONU e, antes, falou na Conferência sobre o Desarmamento da ONU.

A permanência do Brasil na sala, segundo Martinsson vem de encontro com a tradição diplomática do país. “O Brasil tem uma tradição de buscar soluções pacíficas em controvérsias. A tradição brasileira é a da busca por consenso através do diálogo e da negociação, dando voz a ambas as partes do conflito. Isso não significa que o Brasil esteja tomando uma posição de indiferença e pouco caso em relação ao povo ucraniano”, aponta.

Na última sexta-feira (25), o Brasil votou a favor da resolução do Conselho de Segurança que demandava o cessar-fogo imediato da Rússia. Países como China, Índia e Emirados Árabes se abstiveram do voto.

Procurado pelo g1, o Itamaraty explica que "não houve coordenação prévia dessas delegações com a delegação do Brasil [para o boicote]" para saída do plenário durante a Conferência do Desarmamento.

O ministério acrescenta que "praticamente todas as delegações de países africanos, latino americanos e caribenhos, bem como a maioria das delegações asiáticas, permaneceram no Plenário durante o discurso do Ministro das Relações Exteriores russo".

g1
Portal Santo André em Foco

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