O presidente Nicolás Maduro anunciou na quarta-feira (7) que a delegação chavista não vai participar das reuniões com a oposição venezuelana mediadas pela Noruega. A rodada dos diálogos estava prevista para acontecer nesta quinta (8) e sexta-feira (9) na ilha caribenha de Barbados. O chefe de Estado venezuelano tomou esta drástica decisão em represália às recentes sanções ordenadas por Washington para congelar todos os ativos da Venezuela nos Estados Unidos.
As reuniões entre ambos os grupos deste polarizado país começaram há cerca de dois meses e são mantidas em sigilo. A próxima rodada estava prevista para acontecer entre hoje e amanhã. No entanto, algumas horas antes, quando a delegação opositora já estava em Barbados, o chavismo anunciou a interrupção das conversas.
Por meio de um comunicado oficial, o governo de Maduro informou que “a Venezuela se dispõe a revisar os mecanismos desse processo para que sua continuação seja realmente efetiva e harmônica com os interesses do nosso povo”.
Nicolás Maduro participou na noite de quarta-feira (7) do programa de TV de Diosdado Cabello, o segundo homem forte do chavismo, e afirmou que será ativada uma contraofensiva aos Estados Unidos por meio da Assembleia Constituinte, também chamada de Assembleia Chavista. Segundo o presidente, “justiça será feita”.
“Querem brigar? Vamos brigar! Já chega!”, disse Maduro. O chefe de Estado convocou para este sábado (10) um protesto mundial contra a decisão de Washington. Desde 2014 pelo menos 105 pessoas e cerca de 60 entidades ligadas ao chavismo foram sancionadas pelos Estados Unidos.
Oposição reage
Stalin González, o segundo vice-presidente da Assembleia Nacional, enviou um comunicado por parte da oposição criticando a decisão do chavismo de interromper as mediações. González, que participa das negociações, fez uma publicação direto de Barbados em uma rede social dizendo que eles continuarão “trabalhando em todos os patamares” e que o governo de Maduro “teme a possibilidade de uma verdadeira mudança política no país”.
A decisão de Maduro de suspender o diálogo com a oposição pegou muitos de surpresa. Sobretudo porque na terça-feira (6) o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, havia garantido que o chavismo não se levantaria da mesa de diálogos. Já o conselheiro de Segurança dos Estados Unidos, John Bolton, garantiu que o tempo das negociações já passou, ressaltando que os diálogos são apenas uma “velha prática para ganhar tempo e continuar no poder”.
Suíça sanciona autoridades
Na quarta-feira (7), a Suíça anunciou sanções diretas a pelo menos 18 autoridades do chavismo, como a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, o presidente do Tribunal Supremo de Justiça, Maikel Moreno, o presidente da Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello, o procurador geral Tarek Wilian Saab, entre outros. Além disso, Brasília, por meio do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em breve divulgará uma lista com nomes do alto escalão do chavismo que serão proibidos de entrar no Brasil.
O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, enfatizou, ao participar da Conferência Internacional pela Democracia na Venezuela, realizada na terça-feira (6) na capital peruana, que “quem defende a liberdade e a dignidade humanas só tem uma opção: fora Maduro”. No entanto, apesar das fortes críticas ao governo venezuelano, a União Europeia declarou estar contra a “aplicação extraterritorial de medidas restritivas” como as impostas pelos Estados Unidos por causa da crise vivida na Venezuela.
Fake News
O presidente Nicolás Maduro garante que a punição terá consequências diretas no abastecimento de alimentos e de remédios, os pontos fracos da sociedade venezuelana, que por anos sofre com a escassez. No entanto, a maioria dos produtos importados vem de variados países – e não dos Estados Unidos.
O autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, cujo governo é apoiado por Washington, afirma que as sanções não terão consequências diretas na importação de alimentos e de remédios. John Bolton garantiu que o bloqueio é “contra o regime madurista e não contra os venezuelanos”.
Já a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, divulgou nas redes sociais, na tarde de terça-feira, que estava retido no Canal do Panamá um barco com cerca de 25 mil toneladas de soja para a produção de comida. Segundo ela, a proibição à passagem da embarcação teria sido causada pelo bloqueio imposto pelos Estados Unidos.
No entanto, a administração do Canal do Panamá, também por meio das redes sociais, desmentiu a vice-presidente informando que nenhum navio estava detido. Essa travessia, que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico, é uma das mais importantes passagens de embarcações do mundo.
RFI
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