Há exatamente um ano, em 20 de janeiro de 2021, Joe Biden se tornou o 46º presidente dos Estados Unidos — e o mais velho de todos — ao assumir o cargo aos 78 anos de idade.
Ele recebeu de seu antecessor, o polêmico Donald Trump, um país polarizado politicamente, líder no ranking mundial de casos e mortes por Covid e ainda chocado com as cenas do pior ataque ao Congresso americano desde a Guerra de 1812, ocorrido duas semanas antes, quando apoiadores de Trump invadiram o local.
Um ano depois, com uma popularidade em baixa, Biden admite que os norte-americanos vivem em "frustração e fadiga" por uma nova onda de contaminações do coronavírus, provocada pela variante ômicron, e preocupados pela maior inflação das últimas quatro décadas.
Mas também destaca o lado positivo de seu primeiro ano: "Amanhã marcará um ano desde que assumi o cargo. Foi um ano de desafios, mas também foi um ano de enorme progresso. Passamos de 2 milhões de pessoas vacinadas no momento em que assumi para 210 milhões de americanos totalmente vacinados hoje", destacou, em uma entrevista coletiva na quarta-feira (19).
"Criamos 6 milhões de novos empregos. Mais empregos em um ano do que em qualquer tempo anterior. O desemprego caiu. A taxa de desemprego caiu para 3,9%. A pobreza infantil caiu quase 40%", disse ainda o presidente.
No geral, Biden viveu um ano entre altos - como a queda do desemprego e a aprovação de seus pacotes de mais de US$1 trilhão para infraestrutura e o de US$ 1,9 trilhão para auxílio às vítimas de Covid - e (muitos) baixos - como o "empacado" projeto Build Back Better, que nem mesmo os democratas apoiam totalmente.
O projeto, que engloba financiamento para alívio da Covid, serviços sociais, bem-estar e infraestrutura, além de prever fundos para reduzir efeitos das mudanças climáticas, tem o valor de US$ 1,75 trilhão, e o presidente agora apela para que ao menos "pedaços" dele sejam aprovados pelo Congresso, já que, mesmo após reduções significativas, ele não consegue apoio para ser votado.
Diferente do planejado
“O governo de Joe Biden começou de uma maneira muito forte”, diz Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP em entrevista ao g1. Segundo ele, os primeiros 100 dias de mandato do atual presidente dos EUA foram fora da curva comparando ao que vinham sendo os anteriores.
Ainda na primeira centena de dias, Biden conseguiu aprovação para um de seus planos econômicos. Ele conseguiu a liberação do chamado “Plano Americano de Resgate”, o qual previa o investimento de US$1,9 trilhão para lidar com problemas econômicos que viriam com a pandemia.
Outro movimento que ganhou destaque nesses cem dias foi a forte ação contra a pandemia em si. O atual presidente americano iniciou um processo de compra e distribuição de vacinas que atingiu números milionários.
Porém, nem tudo saiu como o planejado. “Se tratando de popularidade, ele é quem tem o menor índice em um ano de mandato, só conseguiu ser melhor que Donald Trump”.
Se tratando de economia, o primeiro ano de Biden proporcionou uma queda no número de desempregados - de 6,4% ao assumir para 3,9% em dezembro de 2021 -, porém, a mudança não refletiu nas gôndolas dos mercados. Segundo dados divulgados recentemente, o ano de 2021 anotou a pior inflação dos EUA nos últimos 39 anos, chegando a 7%.
Além disso, a população esperava que a pandemia já estivesse controlada a esta altura. Porém, com o mundo passando por uma intensa onda de contaminações pela variante ômicron, os americanos não ficaram de fora.
“Independente do que aconteceu, como a variante ômicron, é um dado concreto que as pessoas estão pegando Covid e que ainda há uma dificuldade na vacinação. Portanto, a conta política disso cai para o Biden”, segundo Poggio.
“Esses dois âmbitos (Covid e inflação) são os que mais complicam a popularidade dele, além, é claro, de pequenos problemas como a saída do Afeganistão”, completa o professor.
Em agosto de 2021 as tropas americanas que estavam presentes no Afeganistão há mais de duas décadas receberam ordens para deixar o país e retornar aos Estados Unidos. A operação ordenada por Biden foi muito criticada.
“A forma atrapalhada com que foi feita a saída do Afeganistão manchou a imagem de competência do Joe Biden. A forma como isso aconteceu é que foi o problema. Era a guerra mais importante, mais marcante, a guerra mais longa da história dos EUA”, afirma Carlos Gustavo Poggio.
Além do fim da guerra, Biden assumiu a liderança da política americana com algumas promessas que seguem sem ser finalizadas.
Durante as eleições presidenciais o ex-vice-presidente de Barack Obama projetou ações em diversos ramos da política. Ele prometeu aumentar o impacto internacional do país retomando-o para o topo das economias do mundo, além de gerar energias mais limpas, melhorar as condições dos trabalhadores e dos mais necessitados, entre outros projetos.
Quando completa um ano de mandato, Joe Biden ainda não cumpriu boa parte das dívidas que deixou com seus eleitores. “Eu vejo que essas promessas colocaram o Biden em uma situação política complicada”, relembra Poggio.
“Ele está tendo muitas dificuldades no Senado, tem alguns pacotes parados”, relembra o professor de Relações Internacionais da FAAP.
Por outro lado, algumas promessas de Biden começaram a caminhar. A mais avançada delas é o retorno dos EUA para o Acordo de Paris (tratado que incentiva grandes potências mundiais a diminuírem a emissão de gases poluentes). O atual presidente retornou ao grupo ainda em fevereiro de 2021, após assinar o retorno já no dia de sua posse.
Também as questões raciais têm tido algum tipo de discussão e resposta. Biden fez a promessa de formalizar uma reforma no sistema judicial penal, porém, o projeto ainda não se desenrolou.
“Acho que ele teve avanços importantes em relação à administração do Trump no sentido das pessoas que ele colocou na sua administração. Você tem uma composição muito mais diversa do que você tinha na época do Donald Trump, mas ainda é muito pouco”, diz Carlos Gustavo Poggio.
“Se ele começar a apresentar melhorias concretas de infraestrutura (que é uma coisa que demora um pouco mais, como pontes e estradas) ele pode aumentar a popularidade”, acredita o professor, considerando que apenas 25% do mandato foi cumprido até agora.
“Eu avalio que ele vai ter um segundo ano de governo muito difícil. Ele vai ter que entregar algumas promessas, já que teremos eleições de meio de mandato etc. Esse ano começa muito bem, mas termina de forma muito ruim, politicamente, pro Biden”, acrescenta.
Biden ainda tem pela frente em 2022 as eleições de meio de mandato. Essas são eleições obrigatórias, que ocorrem a cada quatro anos, onde são escolhidos os 435 detentores de cadeiras na Câmara dos Representantes, além de 33 ou 34 cadeiras do Senado americano, o que pode alterar sensivelmente sua base de apoio no Congresso.
g1
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